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 15/08/2013    18:11hs

Marçal: "Posso ser seu melhor amigo, mas também seu pior inimigo"

Entrevista concedida a um internauta no link Boca no Trombone

Em agosto de 2013 fui motivado por um internauta a contar algumas das historias que vivi e presenciei durante os 13 anos que atuei pela Federação Paulista de Futebol. O internauta que se intitulou Fefeu da arbitragem mineira fez varias perguntas através do "Boca no Trombone" sobre vários assuntos. Eu que já não sou muito fã de entrevistar pessoas, imagina então ser entrevistado.

Não fui árbitro famoso, não sou jornalista e também não tenho nenhum cargo importante. Então acho que não tenho muitas coisas pra contar que seja interessante para as pessoas. Mas respondi por educação, para não deixar o internauta sem respostas e pelo trabalho que ele teve em formatar as perguntas.

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Então, se quiser me conhecer um pouco melhor, sugiro que leia a entrevista abaixo.

Fefeu: Quais as suas idéias para melhorar a arbitragem brasileira e paulista. Ficaria com o ranking ou criaria algo novo?

R – Prezado Fefeu, eu tenho algumas idéias, mas nada que seria a salvação da arbitragem, apenas daria melhores condições de trabalho, fortalecerias as instituições do apito e tiraria o cabresto dos árbitros. Mas duvido que qualquer dirigente esteja realmente interessado nisso, para eles quanto mais às instituições e os árbitros forem dependentes e subservientes, melhor será. Em relação ao segundo ponto da pergunta eu digo que sem duvidas usaria o ranking, pois é mais justo, pode ser transparente e motivacional para o árbitro. Apenas colocaria algum tipo de exceção para proteger a ascensão de alguns fenômenos do apito se surgir de uma hora para outra.

Fefeu: Dentre todos os dirigentes de arbitragem que conhece quem colocaria entre os três melhores?

R – Eu seria injusto se apontasse os três melhores, pois não tenho conhecimento do trabalho de todos. Então vou falar de um por ter acompanhado seu trabalho lado a lado por 90hs durante uma final de campeonato (leia) onde pude notar seus pontos fortes e fracos e olha que já tive e tenho minhas divergências com este dirigente, principalmente por às vezes ser político demais. Estou falando do pernambucano Salmo Valentim da Silva, sem duvidas um gestor altamente qualificado que colocaria sem medo para administrar qualquer comissão de arbitragem, inclusive minha empresa caso tivesse uma.

Outro gestor extraordinário é o ex-presidente da Comissão de Arbitragem da CBF Sérgio Corrêa, ele fez uma revolução fantástica na parte estrutural da arbitragem brasileira. Ouso dizer que a arbitragem tem que ser dividida em duas fazes que são AS e DS – antes de Sérgio e depois de Sérgio.

Pena que com o passar do tempo ele tenha se tornado um “poderoso chefão” e isso causou um grande efeito colateral, pois alguns amigos viraram inimigos se juntando para tira-lo do poder. Quando foi destronado, Corrêa perdeu a grande chance de parar por cima e ser referência o resto da vida. Hoje continua dando as cartas, mas doente, se tornou uma espécie de pelego* onde todas suas decisões são para beneficiar a CBF e só a CBF, o que não posso condenar, pois é quem paga seu salario.

Felizmente os tempos são outros, com a recente aprovação da profissionalização da arbitragem a tendência é que as coisas mudem da água para o vinho, pois a CBF continuara mandando na arbitragem, mas agora, necessariamente terá que ser com o consentimento dos árbitros e isso por si só já será uma grande mudança.

Outro grande dirigente da arbitragem, especialmente no campo político é o presidente da ANAF Marco Antônio Martins (foto ao lado), esse entrou para a história da a

rbitragem brasileira como o presidente que conseguiu o improvável, a aprovação no Congresso Nacional da profissionalização da arbitragem. Martins foi um abnegado e de forma hábil conseguiu em pouco tempo o que a arbitragem lutava desde o inicio dos anos 80. Sua estratégia vitoriosa teve muito jogo de cintura, com hábeis negociações políticas conquistando terreno um passo atrás do outro. Ainda não é o ideal, todos nós sabemos disso, mas certamente muitos passos serão dados daqui pra frente.

Fefeu: Que estilo de arbitragem mais lhe agrada e se é a favor de alguns juízes colocarem tudo no Facebook. Você citou o juiz Marcelo de Lima Henrique e fui conferir. Agreguei-me aos seus amigos e nada vi de arbitragem. Ele retirou, pois nada vi ali sobre este assunto. O apito sabe o que ocorreu?

R – Sou a favor da arbitragem no estilo europeu que prioriza o futebol ignorando quaisquer esbarrões. Prefiro que algumas faltas não sejam marcadas do que marcar varias que não foram.

Todo mundo é responsável pelo que escreve, fala e publica. Fora da arbitragem o árbitro é uma pessoa comum e assim tem que ser tratado. Eu e conseqüentemente o Apitonacional não temos interesse na vida pessoal do árbitro, mas quando ele leva sua profissão para as redes sociais, tem que ser cobrado por isso.

Em relação ao senhor Marcelo de Lima Henrique, eu te pergunto: quantos cidadãos comuns teriam a oportunidade de levar suas esposas para dentro do campo do Engenhão com uniforme de um dos times para ser fotografada? Alguns árbitros não conseguem separar o pessoal da arbitragem por necessidade de estar em evidencia, cometem excessos postando frases e fotos que certamente serão usadas contra eles. Eles são cobrados como pessoa publica que são. Pena que alguns só gostam dos elogios e não sabem digerir e entender as cobranças. O senhor Marcelo Henrique retirou não só essa, mas como também a postagem onde o ex-chefe do apito brasileiro recebeu severas criticas de sua ex-secretária onde inclusive foi curtida pelo FIFA.

Mas não sou contra que os árbitros usem as redes sociais, o mundo mudou e hoje a internet é entre outras coisas, um entretenimento. Eu particularmente acho bonito quando os árbitros de forma orgulhosa publicam fotos deles dentro dos vestiários, campos, aeroportos, isso sendo feito sem exagero em nada interfere na arbitragem da partida. Pena que o poderoso chefão SC tenha “proibido” o uso das redes sociais por ter ficado irritado com o comentário da ex-secretária falando mal dele. Desde que isso ocorreu, a arbitragem não melhorou e nem piorou por causa desta decisão arbitraria de um senhor que insiste em não aceitar a modernidade.

Fefeu: Li atentamente o seu post das Mentiras & Mentiras, (leia) mas no final tinha uma mensagem que acho tenha sido o grande problema, mas você estava certo em dizer sobre a falta de transparência e sobre a ida de um jornalista da Globo. Eles mereceram e parabéns, porque até o presidente da FPF te respondeu. Sinal de crédito.

R - A frase do brilhante jornalista carioca Millôr Fernandes "Jamais diga uma mentira que não possa provar" foi colocada como um tipo de alerta para todos que procuram tirar algum tipo de vantagem através da “mentira”. Elas são como castelo na areia, a primeira onda pode não derrubá-la, mas a segunda certamente a derrubará.

Os dirigentes sempre estão antenados, eles sabem de tudo que acontece na arbitragem, gostam de ter controle total sobre tudo e sobre todos. Nem sempre respondem, mas quando são afrontados, quando são questionados eles reagem, pois não são acostumados a questionamentos, são endeusados, cercados de puxa sacos e respeitados em excesso por todos.

Quando aparece alguém questionando, seus egos falam mais alto, agem mais pelo impulso do que pela razão por se sentirem frágeis e mantém o contato para tentar firmar posição. É como o gato que captura o rato e depois de fragilizá-lo o deixa solto para poder brincar. Só que às vezes, só às vezes, o rato escapa deixando o gato desmoralizado. Portanto entendo que as respostas não são sinal de credito e sim de repulsa.

Fefeu: O que você fez para ele? Li: "quando interessava servi". O que você fez para ele?

R– Não fiz nada, apenas houve situações que minhas matérias o alertou para tomar certas posições antes que perdesse o controle da situação. Em uma delas, um famoso coronel do apito foi tirado do poder!

Fefeu: Quem é que atua como instrutor na CBF? Eles estão qualificados mesmo?

R – A lista de instrutores é grande, têm bons nomes, outros nem tanto e um monte de apadrinhados. Eles ensinam a arbitragem de laboratório, o famoso árbitro robô ou até mesmo o de condomínio como temos um famoso no Rio de Janeiro. Mas eles, os instrutores, não são os únicos culpados, eles procuram repassar o que aprenderam, mas são reféns do talento do árbitro na hora deste colocar o que aprendeu em campo.

Uma partida de futebol tem muitas decisões e o árbitro de laboratório não pode pedir tempo para consultar o livro de regras e assim tomar sua decisão, nessa hora tem que ter talento, ter dom para tomar uma decisão justa e correta. Só que o arbitro de laboratório não tem esse dom, ele se tornou árbitro depois dos cursos, aprendeu através das repetições, diferentemente daquele que veio das várzeas com toda bagagem necessitando apenas ser lapidado, pois quem apitou na várzea sabe que nesse campo hostil só permanecem os que nasceram com dom talento para apitar futebol.

Fefeu: Você disse que gosta e desgosta com a mesma facilidade. Isto somente Freud para explicar. É com todos ou apenas com alguns!

R – É amigo, acho que só Freud mesmo para explicar esse sentimento maluco, mesmo assim, acho difícil, pois a Dra. Marta Magalhães ainda não conseguiu em nossos papos informais. Alias, quero deixar aqui registrado um elogio justo e merecido, Dra. Marta é uma pessoa extraordinária, uma profissional extremamente gabaritada, humilde e amada no meio da arbitragem e até mesmo por este singelo ex-árbitro.

Tenho um amigo (e olha que poucos posso chamar de amigo) na arbitragem que diz que sou caso perdido, que tomo tarja preta e o pior de tudo isso é que acho que ele tem razão. Mas os meus sentimentos é assim com todos.

Dra. Marta uma vez me disse que dentro de nós habitam o bem e o mal e que só vence aquele que alimentamos. Eu acho que no meu caso, os dois são bem alimentados, pois estou sempre pronto pra agir de uma maneira ou da outra, só dependendo da situação. Sou como aquela frase que diz: “posso ser seu melhor amigo, mas posso ser também seu pior inimigo”.

Fefeu: Como iniciou sua carreira, Quantos anos e jogos você trabalhou no futebol paulista?

R - Na adolescência (17 anos) eu joguei em um time profissional no Paraná, atuei na Taça Paraná, na época, a terceira divisão do Estado. Por atuar por um time profissional não podia jogar no campeonato amador da minha cidade quando de folga, então passei a apitar as partidas ganhando uma grana para isso. Quando fiz as contas, ganhava mais apitando do que jogando e fui pegando gosto pela coisa. Em 1985 mudei de vez para São Paulo e tinha um sonho de fazer o curso na FPF, como tinha que trabalhar para me sustentar isso só foi possível em 1992 quando inclusive já era casado e tinha um filho.

Atuando pela FPF no campo do Juventus na Rua Javari

Trabalhei pela FPF de 1993 a 2005 e não faço a mínima idéia em quantas partidas atuei nesses 13 anos.

Fefeu: Qual a partida inesquecível?

R - Sem duvidas foi uma em Bauru, não me recordo o ano, ainda no primeiro tempo chamei o árbitro e pedi para ele expulsar um jogador do time local (Noroeste) quando todos queriam que o expulso fosse um adversário. O pessoal ficou revoltado, inclusive Damião Garcia, dono das lojas Kalunga e dirigente da equipe mandante na época, que entrou em campo e tentou de toda maneira me agredir, mas como ele é menor do que eu, consegui me safar.

Lembro como se fosse hoje que naquele dia, até mesmo um repórter de campo de uma radio local se fazendo que estava cobrindo o tumulto quis me acertar com o microfone. Quem é ou foi árbitro certamente já deve ter passado por uma situação dessas, mas se não foi, não faz idéia do que acontece nessas situações. Você fica acuado em um canto tentando se proteger e pessoas ensandecidas surgem do nada e de todos os lados com o único propósito de te fazer maldade. Naquele dia foram necessárias pelo menos 20 viaturas da policia militar para tirar a arbitragem do campo, atravessamos a cidade com um bando de gente nos seguindo, cuspindo e xingando o tempo todo mesmo com a polícia nos escoltando e dando proteção. Acho que o mais tranqüilo de todos era eu, pois adorava o ambiente hostil e estava absolutamente convicto da minha decisão que depois ficou provado ter sido correta pela emissora que cobria o jogo.

Quem já passou por isso, não pode ter medo de cara feia de um ou de outro como às vezes tentam me intimidar. Contra isso eu já fui vacinado pela vida e a força, sentindo na pele todos os dissabores de ter opiniões contaria e por não ter medo de falar o que penso.

Fefeu: Quais os melhores árbitros com quem trabalhou?

R - Eu trabalhei com alguns bons árbitros entre eles os irmãos Oliveira, o Paulo e o Luiz, por falar neles, como são humildes esses meninos, até hoje, já ricos e famosos continuam tratando todo mundo com educação e carinho enquanto outros aí que nunca apitaram nada e só estão na arbitragem por terem padrinhos fortes e por proteção da Maçonaria (nada de pessoal contra a loja ou contra os cerca de 150 mil maçons do país) se acham a ultima bolacha do pacote. São arrogantes e tratam todo mundo abaixo deles como se lixo fosse.

Também trabalhei com Wilson Luiz Seneme, Cleber Abade, José Henrique de Carvalho, Antônio Rogério Batista do Prado, Marcelo Rogério, Sálvio Spinola, Romildo Corrêa, Anselmo da Costa, Rodrigo Braghetto e outros tantos que não recordo agora. Alguns deles como os irmãos Oliveira em atividade até hoje.

Fefeu: Os FIFA do seu tempo eram todos bons? Quem você lembra que entrou na FIFA por amizades e não por méritos?

R – Tinha bons árbitros como o sergipano Sidrack Marinho, o cearense Dacildo Mourão, o paulista Alfredo Loebling, mais tinha uns terríveis. Com certeza Ulisses Tavares da Silva Filho e Emídio Marques de Mesquita não foram por merecimento, pois eles eram terríveis com o apito na boca. Que fique bem claro, aqui a critica é para o arbitro e não para o cidadão.

Fefeu: Como eram os cursos na sua época?

R – Era só se inscrever para fazer o curso, não tinha tanta procura e sobravam vagas. Naquela época as taxas eram insignificantes, eram de futebol amador, então quem fazia o curso era porque gostava mesmo. Pra você ter uma idéia, até mesmo o equipamento de arbitragem como apito, bandeira, camisas e calções você tinha que comprar.

Meus professores foram Valter Borges de Queiroz e Hilton José da Costa e o aluno que mais fez sucesso na carreira foi Sálvio Spinola Fagundes Filho. Por sempre ser muito “politico” dentro e fora dos campos, até hoje tem força no meio como dirigente e vai longe, pois tem o perfil dos dirigentes que se perpetuam no poder.

Fefeu: E o Sindicato da categoria era forte antigamente?

R – Quando entrei em 93 era fraco e falido. A sede que era na Rua Lettieri na Bela Vista iria a leilão e os seus diretores não podiam nem passar na porta da Federação Paulista. Com a eleição de José de Assis Aragão em 1997 as coisas mudaram da água para o vinho. A FPF virou parceira, quitou as dividas da entidade de classe e os árbitros federados foram obrigados a se associarem ao sindicato.

Os ex-presidentes José Astolphi, José de Assis Aragão, Ulisses Tavares da Silva e Sérgio Corrêa

Na minha época, em uma sexta feira você não conseguia transitar na sede do sindicato devido à aglomeração de árbitros e muito deles nem escalados estavam. Quem não se recorda do Bar do “Tio Nei” que era nos fundos da sede onde ele vendia churrasquinhos, bebidas e rolava um carteado até altas horas da noite. Todo mundo se divertia e todo mundo conhecia todo mundo, você trocava informações e já ia para as partidas sabendo o que iria encontrar pela frente. Bons tempos aqueles, mas era época diferente.

Hoje a entidade é moderna, gastaram horrores para adequá-la a atualidade, é uma sede faraônica na Barra Funda avaliada em mais de 1.5 milhão de reais segundo ultima avaliação. Apesar de oferecer conforto, vive as moscas, por lá não passa mais do que três ou quatro gato pingado por dia, pois foi abandonada pelos árbitros que se comunicam pelas diversas redes sociais. Tem árbitro aí que nunca pisou o pé na sede, mesmo pagando e sendo associado meio que forçado. Ele não da à mínima para sua entidade, o que ele quer mesmo é escala e ascensão na carreira, só isso interessa.

Fefeu: Fez jogos pela CBF?

R – Nunca fiz um jogo pela CBF. Poderia dizer que não tive oportunidades, mas se não tive foi porque talvez não fiz por merecer ou até mesmo por não ter qualidades. Não reclamo, pois durante os anos que trabalhei na arbitragem fui feliz, ganhei dinheiro com o qual comprei meu maior patrimônio, a casa onde moro e pude dar conforto aos meus familiares. Também fiz muitas amizades e é claro algumas inimizades, isso faz parte na vida de quem tem e expressa suas opiniões.

Fefeu: Como conheceu o antigo presidente da Conaf, Sérgio Corrêa?

R – Conheci o Sérgio em 1993 quando fui fazer o curso de arbitragem, ele era árbitro e sindicalista atuante e por isso não era bem visto na FPF tendo sua carreira prejudicada. Trabalhei em duas partidas com ele que como militar não admitia ser contrariado. Lembro que em uma delas, por um torneio de juniores disputada em Suzano, no intervalo do jogo, um jogador veio reclamar mais acintosamente e ele desferiu uma cabeçada no peito desse jogador que era bem alto. Pego de surpresa, o coitado assustado saiu correndo de perto. Como era torneio sem expressão, não deu em nada, diferente de outra cabeçada que ele deu em outro jogador se não me engano em Taquaritinga dando um buchicho danado na época.

Como podemos ver nosso eterno e poderoso presidente nunca foi santinho e jamais admitiu ser contestado!

Fefeu: Ele é um cara correto?

R – Ele diz que é mais eu não ponho minha mão no fogo, nem por ele e nem por ninguém. Tem algumas historias esquisitas por aí, mas como não posso provar, prefiro não comentar.

Fefeu: Você cobre o dia a dia da Federação Paulista de Futebol?

R – Dificilmente vou a FPF, só em algumas solenidades. Eles não gostam de receber árbitros e pessoas como eu. Só os a favor.

Fefeu: Já foi a algum sorteio?

R - Nunca fui a um sorteio. Só iria se fosse para participar ativamente. Ir por ir seria mesma coisa que assistir filmes de sexo. Já passei da idade da curiosidade. Hoje, só participando e olha lá!

Fefeu: Por que em São Paulo eles sorteiam 20 ao invés de apenas dois.

R – A vontade da CEAF/FPF dita a mim por Arthur Junior era usar o mesmo sistema maquiavélico da CBF, mas por sabia determinação de Marco Polo Del Nero a comissão tem que colocar o maior número possível no globo, mesmo contra a vontade. E aí você pode notar que não muda nada, nos últimos dois campeonatos paulistas vários clássicos foram apitados por árbitros sem escudos e desconhecidos, muitos deles nem da CBF eram e as partidas transcorreram sem novidades, enquanto outros apitados por árbitros da FIFA deram vários problemas.

Acredito que se o árbitro é ouro (elite) aqui em São Paulo, ele tem qualidade e deve apitar qualquer partida, a não ser que alguns estejam lá por apadrinhamentos e nem mesmo a comissão acredita nele.

Sérgio Corrêa e José de Assis Aragão em 2003 sorrisos que a política o tempo apagou

Fefeu: O sorteio com dois árbitros, para mim e para você é burlar a lei. Acho que poderiam colocar todos no sorteio. O que acha?

R – Concordo, sorteio com dois e ainda com colunas casadas não é sorteio, é aproveitar de brechas na lei para beneficiar alguém. Para mim tirava as exceções, colocava os demais no globo e fazia sorteio jogo a jogo. Quem trabalhou não concorreria no próximo sorteio, assim seria até que todos tivessem as mesmas oportunidades. Isso também acabaria com os “protegidos” que são colocados nas duas colunas enquanto outros em mesma igualdade de condições são colocados em uma só e esquecidos quando perdem o sorteio. O sistema atual da CBF é muito duro, não é ilegal, mas com certeza é imoral.

Fefeu: Como surgiu a idéia do site Apitonacional. Foi por conta do Voz do Apito que foi criado no Rio de Janeiro ou você veio antes?

R – Eu trabalhava no site que criei para o Sindicato dos árbitros de São Paulo (Safesp) que na época não tinha. O sindicato se comunicava com seus associados através do Jornal do Apito, um jornalzinho com boa qualidade que era impresso e distribuído mensalmente aos associados e para algumas autoridades e árbitros espalhados pelo país. Mas tinha um custo enorme, tanto nos valores como na distribuição, sem falar que não atingia completamente o publico alvo e quando chegava ao destinatário, a noticia já era outra.

Quando Sérgio Correa ainda nem era presidente do Safesp (era diretor), mostrei os dados a ele e o fiz ver que com o site atingiríamos de imediato o associado com a informação por um preço infinitamente inferior. Para ter uma idéia, era necessário cerca de seis mil reais, dinheiro da época, para formatar, imprimir e distribuir o jornal. Com a chegada do site, os valores diminuíram para menos de R$ 100,00 reais mês, isso só foi possível porque meu trabalho era voluntário. Fiz tudo sozinho, virava a noite trabalhando e ainda tinham muitos que sem saber da realidade me criticavam.
Com o passar do tempo à audiência foi crescendo, era muito acessado por internautas de outros estados e do mundo, passei então com a ordem do chefe a publicar umas matérias de árbitros de outros estados e isso causou ciúmes nas pessoas.

Em pelo menos duas ocasiões os árbitros Wilson Seneme e Sálvio Spinola reclamaram com o então presidente Sérgio Corrêa. Segundo me relatou o presidente, eles achavam na época que o site tinha que publicar só noticia dos árbitros de São Paulo. Tenho até hoje arquivado e-mails onde os dois reclamam formalmente, mas faz parte, nem sempre agradamos a todos. Em reunião com o presidente concordei em manter o foco só em São Paulo, mas passei a procurar uma alternativa, tinha um espaço vago e alguém tinha que ocupar, foi aí que criei o Apitonacional que passei a administrar junto com o Safesp. Eu sabia que existia, mas não conhecia o trabalho do voz do apito que veio antes sim.

O engraçado é que todo mundo achava e uns acham até hoje que o site é do Sérgio Corrêa, não posso negar que ele teve participação, teve sim, era natural que comunicasse a ele e como seu funcionário na época eu devia lealdade a ele e assim comuniquei que criaria um site nacional que falaria exclusivamente de arbitragem. Ele concordou e me ajudou a escolher o nome, pensamos em voz do arbitro, voz da escala, apito mundial, apitotudo entre outros nomes esquisitos, até que surgiu o Apitonacional e foi de cara aceito por nós dois. Tempos depois ele me sugeriu e aceitei de imediato a criação da coluna “Boca no trombone”, sem duvidas a que causa mais problemas e a mais acessada do site. Também em muitas vezes se valeu do anonimato para escrever colunas se passando por pseudônimos, ele sempre negou, mas eu sempre soube que era ele.

Mas a participação dele parou por aí, minha maior briga com ele foi justamente por ser o ultimo a saber das coisas da arbitragem, sempre que quis descobrir algo, tinha que me matar atrás das fontes, pois dele nunca saiu uma informação sequer. Se por um lado me ajudou, por outros só me ferrou, pois nunca me arrumou um patrocínio mesmo sendo influente, nunca me deu um centavo de ajuda mesmo ganhando 30 mil na CBF. Enquanto isso, levei processo por causa dele, deixei de dar noticias para não prejudicar ele, fui e sou perseguido até hoje em São Paulo por causa dele.

Então digo que ele só pensa nele, manipula tudo e a todos conforme quer e já venho falando isso há algum tempo. Mesmo ele não tendo ciência, dentro do possível fui o melhor amigo dele, mas agora estou sendo seu pior inimigo. A vida é uma roda gigante que gira sem parar, hoje é assim, mas amanhã pode ser totalmente diferente.

Fefeu: Pelo que li você trabalhou para ANAF. Fale dela antes e agora?

R – Esse é outro episódio interessante da minha vida. Trabalhei na ANAF durante a gestão José de Assis Aragão e no inicio da gestão Jorge Paulo. As duas foram danosas para a entidade, com grau maior para a segunda. Aragão abandonou a entidade completamente ao deus dará, pois era administrador do estádio do Pacaembu que consumia todo o seu tempo. A entidade era administrada pela secretaria Sônia e assim Aragão que não era pessoa fácil de lidar foi se enterrando politicamente.

Jorge Paulo foi a maior decepção da arbitragem em se tratando de administração. Vendeu o imóvel que a entidade tinha no Rio de Janeiro, fechou a sub sede de São Paulo, criou uma briga com a CBF por exclusividade nos uniformes dos árbitros e firmou um patrocínio com a Glaxo onde os agenciadores receberam mais do que a entidade. Com as dificuldades e a rejeição, abandonou completamente suas funções na entidade, prometeu renunciar mais ficou até o ultimo dia criando problemas para entregar o cargo. Segundo informações, até hoje não devolveu alguns documentos da entidade e supostamente teria deixado algumas contas e retiradas suspeitas sem explicações.

Jorge Paulo deixou tudo nas mãos da secretaria Sônia que teve que levar os documentos da entidade para sua casa para preservá-los e fez tudo que podia e o que não podia para que a entidade não morresse de vez. Costumo dizer que a secretaria Sônia foi mais importante para a ANAF do que o ex-presidente Jorge Paulo de Oliveira Gomes. Assim terminou seu reinado de forma melancólica, sem respeito e amigos. Colheu o que plantou.

Salmo Valentim, a ele confiaria a administração de minha empresa caso tivesse uma

A coisa estava tão feia que para a atual diretoria foi fácil mostrar resultados de cara, pois a entidade sucateada não tinha nada além de dividas. Hoje ele esta saneada e melhor estruturada, não tem dividas e paga seus funcionários em dia. Aos poucos esta recuperando seu respeito, prestígio e credibilidade, já realizou dois congressos e realizará o terceiro no inicio do próximo mês. No que posso, estou sempre ajudando.

Fefeu: Se tiver que dar o Troféu Abacaxi daria para quem?

R –  Sem duvidas para Jorge Paulo de Oliveira Gomes. Um bom assistente, mas um dirigente sem visão e fora do seu tempo. A história o mostrará como o dirigente que faliu uma entidade nacional.

Fefeu: Se tiver que dar o Troféu mamão com açúcar, daria para quem?

R –  Marco Martins que ao contrario do seu antecessor tem visão e recuperou a entidade. Sabe fazer política com maestria estando administrando sem confrontos o que é possível dentro do que é pedido e do que é oferecido.

Também daria com ressalvas para José de Assis Aragão pela sua administração no Safesp, um gestor nato que mandava e não dava recados, que quando queria trabalhar não tinha para ninguém. Mas tinha posições fortes e nem sempre respeitava seus adversários por achar que nunca precisaria de alguém, assim criou inimigos poderosos e foi devorado pelo sistema.

Fefeu: Qual recado daria para os que querem cobrir a arbitragem.

R – Se quiser cobrir com isenção e autonomia não pode ter medo de cara feia. Também não espere recompensa e nem compreensão dos árbitros e dirigentes. Você sempre será visto com desconfiança. Esteja pronto para ser usado e endeusado quando ajudar alguém e ao mesmo tempo odiado quando tiver que falar contra esse alguém. Você é respeitado quando grita, quando luta e quando está disposto a morrer em pé pelo que acredita e não por abaixar a cabeça sendo subserviente o tempo todo.

Para encerrar, como gosto de falar através de frases e pensamentos, gostaria de deixar uma frase de Abraham Lincoln que disse: "Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar a todas por todo o tempo”.

Apitonacional, compromisso só com a verdade!

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