20/09/2010 -
Apontado como a principal revelação da arbitragem brasileira nos últimos
anos, o brasiliense Sandro Meira Ricci, mineiro de Poços de Caldas de
nascimento, surpreende ao dizer que representar o país na Copa do Mundo de
2014 é um sonho distante. O árbitro, de 35 anos, diz que a prioridade é
entrar no quadro da Fifa, onde é um dos aspirantes. Nesta entrevista
exclusiva, Meira Ricci também reverencia Carlos Eugênio Simon e fala do
uso de tecnologia para auxiliar a arbitragem.
JD – Por que quis ser árbitro? Foi um
jogador frustrado na juventude?
Sandro
Meira – “Na verdade não consegui ser nem
jogador, apenas joguei minhas peladas. Como sou um apaixonado pelo
futebol, a arbitragem foi a maneira que encontrei de estar envolvido
profissionalmente com o esporte”.
JD – Todo o árbitro tem uma
profissão paralela. Qual é a sua?
Sandro
Meira – “Sou servidor público federal, da carreira de
analista de comércio exterior. Hoje exerço o cargo de ouvidor do
Ministério de Desenvolvimento de Industria e Comércio Exterior”.
JD – Você está no melhor de sua
forma física e técnica?
Sandro
Meira – “Acredito que sim. O árbitro tem
sempre que estar no melhor de sua forma e acredito que isto esteja
acontecendo comigo e com muitos outros árbitros também”.
JD – É um sonho integrar o quadro
de árbitros da Fifa?
Sandro
Meira – “Esse é o sonho de todo árbitro, quando ingressa
na arbitragem. É isso que estou perseguido, mas com muita tranquilidade.
Sei que o quadro é limitado, são apenas dez vagas, mas por já pertencer ao
quadro de aspirantes, obviamente que a pretensão é pertencer ao quadro da
Fifa. É para isso que estou trabalhando, com bastante seriedade”
JD – Pela sua profissão, deve falar
outros idiomas. Acredita que isto pode ser o ponto positivo para integrar
o quadro da Fifa?
Sandro
Meira – “Isto é sim uma prerrogativa para ingressar ao
quadro internacional, ou seja, que você possa se comunicar em outros
idiomas, de preferência o inglês e espanhol. Tive a sorte de poder ser
educado em outros idiomas, meus pais puderam me oferecer isso e hoje falo
inglês, espanhol e italiano”.
JD – Quem é o árbitro modelo para
você?
Sandro
Meira – “O Simon é uma referencia para
todos os árbitros do Brasil. Uma pessoa que trabalhou em três Copas do
Mundo não consegue isso de graça, mas sim se conquista com muito esforço.
Não posso citá-lo como único modelo, pois todos os árbitros que pertencem
ao quadro da Fifa têm suas qualidades, suas valências e a gente procura
nesse mosaico da arbitragem absolver um pouco da qualidade de cada
árbitro. Mas acredito que o Simon, por toda sua história, é uma referência
no país”.
JD – A Copa 14 no Brasil é um sonho
próximo ou distante?
Sandro
Meira – “É um sonho distante. A
arbitragem para uma Copa do Mundo não é selecionada do dia para noite.
Essa seleção é feita com bastante maturidade, normalmente com quatro anos
de antecedência. Hoje há árbitros na Fifa bem qualificados, que estão
prestando serviço há mais tempo e que obviamente tem essa preferência por
méritos. Meu sonho no momento é pertencer ao quadro da Fifa, dar o
primeiro passo para aí sim poder pensar em participar de competições
internacionais e quem sabe no futuro ter essa oportunidade numa Copa do
Mundo”.
JD – Hoje está mais difícil apitar
hoje com tantas câmeras espalhadas nos estádios?
Sandro
Meira – “Acredito que seja mais fácil, pois a televisão é
uma aliada. Hoje, os treinamentos são mais intensificados, tanto na parte
física, quanto na técnica. E na medida em que se aprimora, você torce para
aquilo que é interpretado no campo, tende a refletir a realidade. Nesse
sentido, a câmera é uma aliada. Muitas vezes o árbitro é questionado,
mesmo tendo razão, mas somente com a câmera, consegue convencer os mais
críticos”.
JD – O que então a TV te ajudou a
corrigir?
Sandro
Meira – “Hoje, todos meus jogos são
gravados por um técnico especializado. Ele grava os melhores momentos da
arbitragem, recebo o material em casa e assim posso avaliar as
deficiências naquela partida para que não se repetam. A TV, por meio de
vários ângulos, consegue mostrar o motivo pelo qual o árbitro tomou
determinada interpretação de um lance. Assim, com as filmagens, a gente
consegue avaliar o porquê dos acertos e dos erros”.
JD – Então, você é a favor do uso
de imagens para auxiliar os árbitros durante uma partida?
Sandro
Meira – “Quando se discute tecnologia no
país, a gente costuma vincular a tecnologia na arbitragem ao uso de
imagem. Sou contra o uso de imagens durante as partidas, mas sou a favor
sim do uso da tecnologia. O chip na bola é um exemplo de tecnologia que
poderia ser avaliada mais a fundo e implementada, desde que garanta 100%
de exatidão. Sou a favor de toda tecnologia que permita ao árbitro tomar
uma decisão com 100% de precisão e isso não é possível, muitas vezes, com
o uso da imagem. De fato, a gente vê um lance que é reprisado várias vezes
e não se chega a um consenso. Hoje, já usamos a bandeira eletrônica, o
comunicador em algumas competições internacionais, e isso vem ajudando o
árbitro”.
JD – O que achou da atitude da Fifa
de autorizar o estudo com árbitros atrás dos gols?
Sandro
Meira – “Foi fantástico. A Fifa entende que o componente
humano deva ser preservado no futebol e, por conseqüência, na arbitragem.
Por isso, antes de investir recursos em tecnologia, ela prioriza o ser
humano, que é o árbitro de futebol. Ao incluir esses dois árbitros atrás
das metas, ela demonstra que prefere investir no ser humano. É assim que
se consegue melhorar a arbitragem. Acho que esse é o primeiro passo que a
Fifa está dando para reduzir erros da arbitragem".
Fonte: justicadesportiva.com.br |