Quando era policial, apitou
partidas de futebol na Casa de Detenção, em São Paulo, algumas vezes
envolvendo detentos que ele tinha prendido,
mas era respeitado por eles apesar disso.
Em 1986, em entrevista a revista
Placar, o ex-policial da ROTA declarou que nunca torturou ninguém:
“Não tinha nada a ver com essa história de torturas. Era um
datilógrafo, cuidava do livro de despesas, fichas, essas coisas”
Apitou as decisões dos
Campeonatos Brasileiros de 1975 e 1988, além das decisões dos
Campeonatos Paulistas de 1974, 1975, 1977, 1981, 1983, 1986 e 1987 e
do Campeonato Mineiro de 1985, entre outras decisões de estaduais.
Foi ainda auxiliar no jogo que decidiu o Campeonato Paulista de
1971, quando correu para o meio-campo para indicar que o gol foi
legal, decisão que o árbitro da partida, Armando Marques, reverteu.
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Dulcidio entre Rivelino do
Corinthians e Ademir da Guia do Palmeiras.
Foto: Acervo Histórico S.E. Palmeiras |
Apitou a final do campeonato
paulista de 1987 entre São Paulo e Corinthians mesmo tendo sofrido
um grave acidente de carro (seu Monza bateu na traseira de um
caminhão) dezoito dias antes, na Rodovia Castelo Branco, quando
voltava de Tupã com a esposa e os bandeirinhas da partida, onde
tinha apitado a final da Terceira Divisão Paulista entre Tupã e
Palmital. No acidente faleceu sua segunda esposa, Berenice Berenice
Liberman que estava no banco da frente.
Ele foi aplaudido pela torcida
antes de a partida começar. Ao final, depois de levantar a bola e
chorar, desmaiou de dor ao ser abraçado na costela quebrada no
acidente pelo árbitro reserva Luiz Alfredo Bianchi e receber um
beijo do médico são-paulino Marco Aurélio Cunha.
Ao lado de Armando Marques foi o
árbitro que mais apitou o Derby entre Corinthians e Palmeiras, foram
14 partidas no total.
O nome Boschilia continua no
esporte em duas modalidades, tem um sobrinho como assistente de
arbitragem da FIFA, Bruno Boschilia, e é tio-avô de Gabriel
Boschilia que joga atualmente pelo São Paulo FC.
Após anos de serviço somando
Guarda Civil, PM e Policia Civil, Dulcídio terminou seu resto de
vida praticamente só, sem a ajuda de ninguém e sem aposentadoria.
Encerrou a carreira em 1988, ao
completar 50 anos. No total, apitou 255 partidas de Campeonato
Brasileiro entre 1967 e 1987. Dulcídio morreu aos 60 anos em 14 de
maio de 1998, de um tipo raro de câncer, o lipossarcoma de
retroperitônio, que se alastrou pelo corpo.
Folclore
Vários episódios marcaram a
carreira do árbitro, alguns deles entraram para o folclore do apito
Durante partida entre Bahia e
Internacional na Fonte Nova, pelo Campeonato Brasileiro de 1987, um
torcedor invadiu o campo e deu um tapa na nuca de Dulcidio, que em
seguida aplicou uma rasteira no invasor e chutou-lhe várias vezes,
tendo de ser contido por jogadores do Bahia. "Eu não vou sossegar
enquanto não matar um torcedor", disse ele depois do jogo.
Em 1983, aceitou um cheque de 300
mil cruzeiros para usar como prova de suborno, mas não só sua
denúncia não deu em nada como ele quase foi processado por
corrupção.
Durante boa parte de sua carreira
ia aos estádios armado, embora não entrasse em campo com as
pistolas.
Havia quem dissesse tê-lo visto
apitando o segundo tempo de um jogo tumultuado em Americana, em
1973, com um revólver na cintura, o que ele também negava. Ele se
empenhou para manter essa fama, que se espalhou principalmente pelo
Norte e Nordeste, como quando empunhou uma pistola para abrir
caminho entre dirigentes do Bahia depois de um jogo contra o
Flamengo.
Em 1973, um caso curioso: um
repórter da revista Placar flagrou um bandeirinha aplicando laquê
nos longos cabelos de Dulcídio.
Em 1974, foi chamado na Federação
Paulista de Futebol para ser comunicado que seu nome tinha sido
aprovado para os quadros da Fifa, mas, no dia seguinte, deu uma
entrevista criticando o cartão amarelo e, coincidência ou não, seu
nome foi retirado da lista pouco depois.
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A partida mais
polêmica de sua carreira foi a final do Campeonato
Paulista de 1977, quando foi acusado de suborno por
expulsar o atacante Rui Rei, da Ponte Preta (foto ao
lado), aos treze minutos do primeiro tempo, supostamente
para favorecer o Corinthians. Rui Rei reclamara que o
árbitro só estaria marcando faltas contra o time
campineiro, ao que Dulcídio respondeu: "Não agita que eu
te coloco para fora." O jogador seguiu reclamando e o
árbitro, tão nervoso que deixou um dos cartões cair no
chão, mostrou-lhe primeiro o cartão amarelo e depois o
vermelho. "Ele me mandou tomar… Se eu não o botasse para
fora, ele passaria a mandar no jogo", contou, oito anos
mais tarde.
Oito anos depois,
disse à revista Placar que foi comprado sem saber por
dois milhões de cruzeiros para aquela partida: três
pessoas supostamente da Federação Paulista teriam pedido
dinheiro ao Corinthians para comprá-lo. "Sei quem são e
só não |
os
denuncio porque não tenho provas concretas", disse.
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Foi suspenso por 120 dias por
agredir o zagueiro ponte-pretano Polozzi, que depois confirmaria que
não foi Dulcídio que o agrediu.