José Aparecido de Oliveira

Ameaças, cusparada, doença e arrependimento: a vida do arbitro da polêmica final de 1993

José Aparecido de Oliveira (foto) nasceu no dia 16 de janeiro de 1952 em Taquaritinga, interior de São Paulo. Foi um dos principais e mais polêmico árbitro da Federação Paulista de Futebol nos anos 80/90. Atuou oficialmente em 33 jogos pela CBF.

Conhecido à época por ser disciplinador, tem no currículo participações nas finais do Campeonato Brasileiro de 1990 (São Paulo x Corinthians ) e dos Campeonatos Paulista de 1990 (Bragantino x Novo Horizontino), 1992 (São Paulo x Palmeiras) e 1993 (Palmeiras x Corinthians).

Em 1995 foi diagnosticado com câncer no estômago. Após ser operado (foram 28 pontos no local da doença) fez quimioterapia perdendo 12 quilos durante o período de recuperação. Quando se curou totalmente da doença, meses depois, estava perto da idade limite da profissão (45 anos). Em 1998, divorciou-se da mulher.

 
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Polêmicas

Cusparada:

Em 13 de outubro de 1991, também num clássico entre Corinthians e Palmeiras, ele levou uma cusparada de Neto (foto abaixo), então o craque alvinegro. Após ser expulso, o meia corintiano cuspiu no rosto de José Aparecido, que relatou a indisciplina na súmula e o jogador foi suspenso por quatro meses. A partida terminou 2 a 1 para o Palmeiras e, além de Neto, Márcio (Corinthians) e Toninho (Palmeiras) também foram expulsos.

Depois disso, em diversos momentos de sua carreira na TV, o ex-camisa 10 do Corinthians admitiu o erro e em 2013 pediu desculpas publicamente ao ex-árbitro.

Final de 1993:

A história da final do Campeonato Paulista de 1993 não foi escrita apenas por jogadores de Palmeiras e Corinthians. José Aparecido de Oliveira, árbitro da segunda final, é um dos grandes personagens daquele dia 12 de junho. Apontado pelos torcedores alvinegros como o grande vilão da decisão – e também alvo de críticas por parte dos alviverdes ex-árbitro conta como foram os dias após a final.

“Se hoje perguntassem se eu gostaria de apitar a final de 1993 eu diria que não. Nem que fosse para ganhar R$ 1 milhão. Nada paga o que eu passei. De benefício para minha carreira aquela partida não trouxe nada. Eu já era um árbitro consagrado e internacional, que apitava Libertadores e jogos de Eliminatórias de Copa do Mundo. Foi muito difícil em todos os sentidos. Minha família não merecia passar por tudo aquilo” – conta José Aparecido.

Aparecido diz que dificilmente vai esquecer os dias seguintes ao 12 de junho de 1993. Nas ruas de São Paulo, xingamentos e intimidações fizeram o banco em que trabalhava na época oferecer apoio de quatro seguranças. Mas nem isso coibiu as ameaças de morte, que foram desde revólver batendo no vidro de seu carro até denúncias de bombas em sua agência.

Final de 1993

Em 12 de junho de 1993, o Palmeiras bateu o Corinthians por 3 a 0 no tempo normal e 1 a 0 na prorrogação. Quatro jogadores foram expulsos, três do Alvinegro (Henrique, Ronaldo e Ezequiel) e um do Alviverde (Tonhão). Há quem acredite que a história daquela final seria outra se Edmundo também recebesse o vermelho, por dar uma voadora em Paulo Sérgio, no fim da etapa inicial.

Um ano e meio após a decisão do Paulistão de 1993, José Aparecido de Oliveira sumiu das escalas de arbitragem e dos noticiários. Os jogos de futebol foram trocados por consultas médicas que deram início ao grande desafio da sua vida, a doença.

Escolha dos árbitros foi mistério até o dia do jogo

Na noite de sexta-feira, dia 11 de junho, o telefone tocou na residência de José Aparecido. A ordem da Comissão de Arbitragem da Federação Paulista de Futebol era que ele se apresentasse em um restaurante da Grande São Paulo, no sábado, às 9h. Com bagagem e experiência internacional, ele foi pego de surpresa ao encontrar os também árbitros Oscar Roberto Godoi, João Paulo de Araújo e Dionísio Roberto Domingues no local e ser informado que seria o dono do apito da segunda decisão do Campeonato Paulista.

Apesar de ter no currículo participações nas finais do Campeonato Brasileiro de 1990 e do Campeonato Paulista de 1992, José Aparecido confessa que aguardava a indicação de Godoi para comandar aquele clássico. Por determinação da federação, ele ficou com o apito e, em mais uma decisão polêmica, os outros árbitros envolvidos na escolha foram designados a assumir a função de auxiliares, como era chamado os assistentes na época).

Oscar Roberto Godoi, José Aparecido de Oliveira, Dionísio Roberto Domingos e João Paulo Araújo

“Não houve um sorteio, houve uma indicação de quatro árbitros. Todos foram pegos de surpresa porque aguardávamos que tivéssemos auxiliares também, mas nenhum foi convocado. A Federação entendeu que um apitaria, dois seriam os bandeiras e o outro, quarto árbitro” – conta Aparecido.

Parmalat

À época, prestou depoimento a um promotor. Não foram encontradas provas contra ele, mas o estrago estava feito. Colegas do banco começaram a boicotá-lo. Uma sindicância foi instaurada para apurar se o ex-árbitro vinha desviando dinheiro de clientes. Amigos o abandonaram.

“Houve uma denúncia anônima de que eu tinha me vendido para a Parmalat, parceira do Palmeiras. Quebraram o meu sigilo bancário, vasculharam tudo” - rememora.

Pressão de dirigente

Segundo matéria da Folha de São Paulo, José Aparecido teria recebido ordens do ex-presidente da Comissão de arbitragem da CBF, Ivens Mendes, para favorecer o Brasil no amistoso contra o México, dia 7 de agosto de 93. O já falecido Ivens Mendes era suspeito na época de comandar esquema de corrupção das arbitragens e manipulação de resultados.

 

No jogo, que ocorreu na época das eliminatórias para a Copa de 94 e terminou em 1 a 1, Ivens Mendes teria dito que era preciso ganhar o amistoso para contentar a torcida, já que a seleção não vinha bem na competição oficial, pois empatou com o Equador em 0 a 0 e perdeu da Bolívia por 0 a 2. A recomendação era para que qualquer lance duvidoso dentro da área fosse apitado pênalti para o Brasil, e que o juiz expulsasse qualquer mexicano que reclamasse.

No dia seguinte à partida, na qual um pênalti foi marcado a favor do México, Ivens Mendes teria dito que o árbitro seria afastado do quadro da FIFA, o que veio a acontecer cerca de três meses depois.

Aposentadoria

José Aparecido de Oliveira se aposentou como gerente de Banco no extinto Banespa, hoje Santander. Graduado em contabilidade, direito, pedagogia e técnicas comerciais, dedica-se hoje ao ramo de viagens e excursões na empresa de turismo que montou em São Paulo.

Magoa

"Minha única mágoa com a federação foi que de 93 para 94 eu fiquei muito doente, eu tive um câncer. Eu levei 23 pontos na barriga pela cirurgia no estômago. Eu fiquei internado e quem é que foi me ver? Ninguém. Quem me ajudou foi a minha mãe, a minha família. Eu fiquei muito triste com isso ai. Eu me afastei do futebol e você nunca mais me viu em lugar nenhum. Para muita gente o Zé Aparecido morreu. Para muita gente o jogo do Corinthians com o Palmeiras enterrou o Zé Aparecido. Pelo contrário, eu fiquei doente" - disse o ex-árbitro em tom de desabafo.

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