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 28/09/2018    06:03hs

A fonte secou!

Afastado das escalas, ex-assistente FIFA vende camisas que ganhou dos clubes para ajudar nas despesas da casa

Crédito: Geraldo Bubniak/AGB  

Na ultima terça-feira (25) o portal UOL publicou matéria abordando a situação do assistente carioca Dibert Pedrosa Moisés (foto ao lado) que relatou estar vendendo as camisas que ganhou nas partidas que atuou para ajudar nas despesas da sua casa.

Desempregado na área de vendas, que era sua principal fonte de renda e rebaixado da Série A do Campeonato Brasileiro após Vitória e Chapecoense, pela 16ª rodada do ano passado (ao todo, foram quatro erros do assistente considerados pela CBF em 2017), o preço: não trabalhou na Série A este ano e sentiu o golpe tanto na carreira como nas finanças.

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“Vivemos um período de crise financeira e política no país. Sem solução, sem alternativa, eu tinha que suprir as necessidades da minha família. Eu me encaixo entre as pessoas que precisam de uma fonte de renda dentro de casa. O que me restava era a arbitragem, mas a porta se fechou e não posso ficar criando ilusão de que ainda vou trabalhar. Minha fonte secou" - disse Dibert ao UOL.

Dibert Pedrosa Moisés tem 47 anos (06/03/1971), é árbitro desde 1993 e faz parte do quadro da Federação Carioca de Futebol. Fora da arbitragem trabalhava como corretor de seguros na corretora Seguralta, em Petrópolis-RJ, sua cidade natal. Também trabalhou como representante de venda da Gavina, empresa de alimento e bebidas também localizada na cidade Imperial.

Pertence ao quadro de árbitros assistentes da CBF desde 1997 e foi integrante do quadro internacional da FIFA entre 2008 2011. Atuou em partidas importantes como a semifinal da Copa Libertadores de 2012, entre Santos e Corinthians e a partida de ida da final da Copa do Brasil de 2008 em que o Corinthians venceu o Sport por 3 a 1 além de atuações na Sul-Americana e Eliminatórias da Copa do Mundo.

Agasalho de arbitragem da FIFA foi um dos itens comercializados na internet - Reprodução/Facebook

Uma carreira recheada por grandes momentos que já não acontecem mais. Hoje, apesar de ser do quadro especial da CBF, só atuou até agora em um jogo do Campeonato Brasileiro da Série B e cinco da Série C e amarga ausências nas escalas há três meses. Tem compensado atuando pela Liga Municipal de Magé, em partidas de futebol amador onde a taxa não chega a 10% das que recebe no profissional.

"Não posso ficar aguardando segunda-feira, terça, quarta, e nunca ser escolhido para trabalhar. Semana passada eu solicitei dispensa até 31 de dezembro, tenho que dar sentido à minha vida” - desabafou o veterano ao UOL Esporte.

Uma das formas de "dar sentido à vida" é equilibrar as contas em seu primeiro ano de pouco destaque na arbitragem. Ele conseguiu com a venda de sua coleção de camisas de futebol. Os itens foram presenteados por clubes ao longo dos últimos anos e vendidos em um grupo de amantes de futebol no Facebook. Dibert se desfez de camisas de times como Vitória, Chapecoense, Sport e Coritiba, além de camisas e agasalhos de arbitragem, com logotipos da CBF e até da FIFA. Os valores variaram entre R$ 70 e R$ 400, e vão ajudar a família Pedrosa ter um fim de ano de menos aperto financeiro.

Crédito: Reprodução/Facebook

Dibert Pedrosa com a esposa e filhos

"Uma das camisas que mais doeu vender foi da seleção da Itália, quando trabalhei em um amistoso Fluminense x Itália pré-Copa do Mundo. Mas não tive o que fazer. Sem solução, sem alternativa, eu tinha que suprir as necessidades da minha família” - disse Dibert.

Além do futebol amador, Dibert Pedrosa Moisés espera voltar a trabalhar com futebol no Campeonato Carioca de 2019. Até lá, a renda das camisas e um trabalho freelancer em uma empresa de seguros ajudarão nas despesas.

A consultora de RH e carreiras, Jacqueline Resch, faz ressalvas: "O primeiro ponto é que trata-se de uma carreira em que a pessoa não depende só de talento e investimento para ter retorno. Depende do fator sorte. Hoje, as pessoas não têm uma única atuação. A outra alternativa é o grupo (arbitragem) se fortalecer para reivindicar outros critérios que não só o sorteio. Mas é um caminho coletivo. No individual, é preciso o pé na realidade" - diz a consultora.

Boa parte dos árbitros trabalha paralelamente. São autônomos, funcionários públicos, donos dos próprios negócios. É o que Dibert está fazendo.

"Estou tentando me recolocar porque arbitragem toma muito tempo. Qual dono de empresa aceita que seu funcionário saia para ficar dois ou três dias fora do emprego para ter um ganho extra? Quem é esse patrão? Se não tem como ter rotina, o cara fica estagnado" - diz o assistente que cita uma viagem de 30 dias que fez ao Chile, a trabalho pelo futebol, como razão para poucas oportunidades fora do esporte.

Crédito: Reprodução/Facebook

Dibert mantém a forma para trabalhar no Carioca de 2019

Currículo

O assistente considera ter quase 30 anos de carreira como árbitro porque coloca na soma um período ainda na adolescência. Ele era jogador de vôlei na época de escola, fã da geração de Montanaro, Renan e Bernard. Criou amizade com os responsáveis pela arbitragem de competições esportivas em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ainda jovem, passou a trabalhar como mesário, cronometrista e anotador em esporte amador - inclusive no futebol. Entrou para os quadros da Federação Carioca em 1993. A estréia na elite estadual foi em 1996, com jogo entre Fluminense e Barreira.

Após mais de 200 partidas na Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro e quatro temporadas na elite do futebol sul-americano, como árbitro FIFA, hoje ele se considera "rebaixado". Deixou o quadro internacional por razões físicas e acha que o esquecimento em grandes torneios nacionais se deve a um erro na partida entre Vitória e Chapecoense, no ano passado e não trabalhou na Série A no ano seguinte.

"Eles me pararam" - critica Pedrosa.

Desempregado e sem sua principal fonte de renda, ele sente pelo momento: "O que me restava era a arbitragem, mas a porta se fechou e não posso ficar criando ilusão de que ainda vou trabalhar." Segundo Dibert, a remuneração da CBF aos árbitros hoje em dia é boa e está melhorando, com cada vez mais conquistas do setor.

"Mas e quando você perde tudo, como faz? E aí?" - indaga o assistente.

Crédito: Reprodução/Facebook

Dibert é o primeiro da direita para a esquerda antes de partida do Campeonato Carioca

"Isso é viciante, vira uma cachaça. A arbitragem acaba se tornando uma paixão, e o árbitro, por muitas vezes, também se ilude com o meio, que é fantástico, mas ilusório. Você vai para essa ilusão. Quando você entra em um estádio, uma arena de Copa do Mundo, se não tiver um alicerce você se encanta com tudo, fantasia, vive um sonho. Tem que viver esse sonho, sim, respirar esse sonho. Mas botar o pé no chão e voltar à realidade." - Encerra Dibert.

Com informações: Gabriel Carneiro - UOL - SP

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