Créditos: Magnus Nascimento |
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Mariana Regina é, atualmente, a única
árbitra central do Rio Grande do Norte. Ela é jovem e vem
recebendo muitos elogios |
O ano de 2021 já está na história da arbitragem
feminina de futebol. Até agora, quatro mulheres conquistaram feitos
inéditos e conseguiram ser nomeadas pela primeira vez para trabalhar
em competições importantes. O Mundial de Clubes da FIFA, as
Eliminatórias Européias da Copa do Mundo e até o Campeonato Inglês
admitiram a presença delas. No Rio Grande do Norte, ano passado,
pela primeira vez, um trio exclusivamente feminino comandou uma
partida do Campeonato Estadual. Esse ano, a luta das profissionais
potiguares segue, estimulada por esses avanços nacionais e
internacionais.
A lista dessas mulheres pioneiras tem a presença da
brasileira Edina Alves Batista. A paranaense de Goioerê comemorou
neste início de ano dois feitos. O primeiro foi a oportunidade de
trabalhar no Mundial de Clubes, no Catar, e depois a honra de apitar
o dérbi entre Palmeiras e Corinthians. Na última semana, quem entrou
para história foram a francesa Stéphanie Frappart e a ucraniana
Kateryna Monzul. Elas se tornaram as primeiras mulheres a trabalhar
em jogos masculinos de Eliminatórias de Copa.
Da redação: Edina Alves Batista foi convocada,
ontem, pela FIFA, para atuar nos jogos Olímpicos de Tóquio 2021.
O pioneirismo local contou com Aldeilma Luzia, que
iniciou a carreira como árbitra assistente em 1995 e que atualmente
faz parte da Comissão de Arbitragem do Rio Grande do Norte. Antes
dela, em 1979, o Estado teve Maria das Graças.
“A arbitragem feminina vem crescendo de uma forma
maravilhosa” - relata Aldeilma.
Ela conta que ano passado Edilene Freire, que
pertence à Federação Paulista foi muito bem.
“Ela fez um excelente Campeonato Brasileiro nas
séries A e B. No Rio Grande do Norte temos ainda Mariana Regina, que
ainda é muito nova, mas que apita bem e estamos lapidando. Temos
Lúcia e Débora também. Mas tudo isso só está ocorrendo graças ao
apoio da comissão, que teve peito de lançar as meninas no Estadual
do ano passado” - explica.
A Comissão local é comandada pelo Coronel Ricardo
Albuquerque.
“As árbitras mais antigas passaram por todo aquele
processo de não trabalhar. Quando eu assumi a Comissão comecei a dar
várias oportunidades ao quadro feminino. O mesmo trabalho que faço
com o masculino, faço com o feminino, isso não tenho discriminação
de gênero. A gente dá apoio” - revela Albuquerque.
Ele afirma que esse crescimento entre as mulheres
representa novos horizontes e as comissões passaram a ver de outra
maneira.
“Em campo você vê muita diferença, inclusive do
próprio respeito do atleta e da torcida com a árbitra. Elas são mais
moderadas, de bom diálogo. Claro que no masculino também existem
grandes árbitros. Mas a gente tem que abrir esse espaço para elas.
Fui eu quem primeiro lançou um trio exclusivamente feminino e depois
o quarteto” - relembra o presidente da CEAF/RN.
Entre as assistentes mais experientes do Estado está
Edilene Freire. Ela conta que a formação oficial dela se deu em 2012
com a conclusão do curso de formação. Em 2013 veio a estréia no
profissional pelo Campeonato Estadual e em 2015 ela ingressou no
quadro nacional da CBF.
“Evoluiu no quesito teste físico e hoje faço
índice masculino e estou habilitada a trabalhar nas competições
nacionais nos dois quadros (masculino e feminino). Os testes
teóricos e físicos são feitos anualmente e já fizemos este ano, em
março.” - conta.
Edilene afirma que o crescimento das árbitras
brasileiras valoriza o espaço para todas.
“Tenho uma certa proximidade com a Edina, com a
Neuza e a gente sempre conversa nos grupos de whatsapp e elas nos
incentivam muito. Já tem três anos consecutivos que estamos
despontando e temos nomes como a Thayslane aqui do Nordeste, a
Débora Cecília de Recife e outras. Não são internacionais no sentido
de ter estrear fora, mas são do quadro FIFA e estão trabalhando nos
Brasileiros. Como assistentes temos a Brígida, uma grande amiga e
por quem tenho um carinho imenso e com quem troco conhecimentos”
- diz.
Edilene foi convidada em 2016 pela Comissão Nacional
de Arbitragem para fazer o primeiro curso dela, que é para Jovens
Árbitras promissoras. Em 2019 ela foi chamada pela segunda vez e
entrou na equipe como árbitras de elite.
“Isso tem enriquecido meu conhecimento. Isso me
ajudou muito, melhorou meu conhecimento e me motivou a treinar ainda
mais, porque nós que somos árbitras não podemos descansar. Temos que
treinar, ter disciplina, foco e estudar bastante” - conclui.
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Edilene Freire está entre as melhores
assistentes do País, hoje - Créditos: Luciano Foco e Arte |
JUVENTUDE
A arbitragem local ganha também com a presença de
jovens talentos como Mariana Regina. Ela recebeu elogios de todos
ouvidos pela reportagem que a destacam como uma árbitra muito boa
que está sendo lapidada e que tem um futuro promissor.
Ela se formou no ano de 2018.
“Entrei na Arbitragem pelo desafio, minha vida
sempre foi movida a desafio, Arbitragem é o meu maior! Hoje temos
quatro árbitras no RN, três assistentes e eu, a única árbitra
central do Estado” - explica.
Mariana conta que recebeu o incentivo da família e de
um amigo árbitro.
“Nildo, lá de Arez me incentivou muito” -
conta.
Para ela, cada jogo é uma grande emoção.
“É uma sensação única inexplicável. Nesses três
anos de arbitragem a cada jogo que eu tenho a oportunidade de apitar
é uma emoção que sinto. Graças à Deus tive muito jogos importantes
na minha vida, mas o primeiro jogo profissional sempre vai ser o
inesquecível, pois ter a primeira oportunidade de trabalhar em um
grande jogo, é uma coisa maravilhosa que eu senti. Meu primeiro jogo
profissional foi no ano de 2020 no estado Edgarzão Jogo Assum X AC
potiguar, no dia 09/O1/2020” - relembra.
A árbitra afirma que tem muitos sonhos na carreira e
diz que o sucesso de outras árbitras é comemorado por todas.
“Meu maior sonho é ter uma oportunidade de ir para
fora do Estado do RN e mostrar que posso e tenho capacidade de
apitar grandes jogos. A maior dificuldade no momento é essa pandemia
que nos tirou a liberdade de viver mais intensamente e desacelerou
nosso crescimento” - lamenta.
Mariana Regina também faz parte do SINDAFERN -
“Eles valorizam muito o nosso trabalho” - diz.
Ela ainda pede para que o trabalho de outras mulheres
locais como Edilene Freire, Débora Rayane e Lucinana Silva seja
sempre valorizado.
História
Na semana passada, segunda-feira (5) a inglesa
Rebecca Welch comemorou. Aos 37 anos, ela foi a primeira mulher a
apitar uma partida do Campeonato Inglês. Pela quarta divisão, a
árbitra estará no comando do encontro entre Harrogate Town e Port
Vale. Para Rebecca, significa um prêmio para quem há dez anos largou
do trabalho em cargo administrativo no serviço de saúde britânico
para se tornar árbitra profissional de futebol.
"Até anos atrás, nós, mulheres, não tínhamos
muitos exemplos femininos de arbitragem para seguir. Agora, temos
visto vários nomes de qualidade na arbitragem e até em torneios
internacionais", disse Rebecca em entrevista divulgada pela
organização da liga inglesa. "Acho que é importante que as pessoas
que têm a felicidade de estar na minha posição possam mostrar às
outras que isso pode ser feito" - comentou.
Quem se orgulha da presença cada vez mais das
mulheres no apito é a própria FIFA, entidade máxima do futebol.
"A Fifa continuará a defender o desenvolvimento da
arbitragem feminina e estou confiante de que a nomeação de árbitras
para os jogos masculinos será absolutamente comum no futuro" -
disse o diretor do Comitê de Arbitragem, o italiano Pierluigi
Collina.
O próximo passo será ter árbitras mulheres na Copa do
Mundo de 2022, no Catar. Na última semana as rodadas de
Eliminatórias na Europa registraram dois feitos inéditos. Pela
primeira vez a Uefa nomeou mulheres para dirigirem jogos. O encontro
entre Holanda e Letônia foi apitado pela francesa Stéphanie Frappart.
No dia seguinte, foi vez da ucraniana Kateryna Monzul comandar a
partida entre Áustria e Ilhas Faroé. Não por acaso, as duas foram
também as responsáveis por comandarem as duas últimas finais do
Mundial Feminino.
A francesa Stéphanie acumula também outros feitos na
carreira. Foi ela a primeira mulher a apitar jogos da Liga dos
Campeões e da Supercopa Europeia. Membro do quadro da Fifa desde
2009, Stéphanie acumula também uma longa experiência em jogos do
futebol francês.
A brasileira Edina Batista afirma que a arbitragem
vive uma transição importante. A aposta dela é que em um futuro
próximo não haverá divisão entre homens e mulheres nessa função.
"Está chegando a hora de nós, os árbitros, não
sermos mais tratados por gênero, mas sim por capacidade. Tudo está
indo por esse caminho agora", disse. "A divisão por gênero tem de
acabar. Tudo tem de ser pela competência" - afirmou.