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Árbitro da ‘Máfia do Apito’ diz que é fácil manipular resultados, que tentou suicídio e que é corintiano

Em 2005, 11 jogos foram anulados e disputados novamente por suspeitas de manipulação no Campeonato Brasileiro

    São Paulo - 27/08/2024    09:22hs
Edilson Pereira de Carvalho - Crédito: reprodução youtube
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Árbitro do episódio da “Máfia do Apito“, que fez 11 jogos serem anulados e disputados novamente por suspeitas de manipulação no Campeonato Brasileiro de 2005, Edílson Pereira de Carvalho, deu entrevista ao canal “Cartoloucos” para comentar o assunto, pelo qual chegou até a tentar se suicidar. O ex-árbitro de 62 anos de idade afirmou que não é complicado manipular uma partida de futebol.

- É fácil, qualquer lance, até antes o do jogo. Naquela época, você pega um jogador famoso, um cai-cai, você dá cartão amarelo, na outra ele vai se jogar, você dá vermelho. Facilmente, mais que dar um pênalti. Um pênalti você pode dar no escanteio. É fácil manipular um jogo dentro de campo, o árbitro manipula quando ele quiser. Principalmente um árbitro que tem nome, aí então o jogador respeita muito mais – relatou Edílson, que não descarta, mas acredita que não haja manipulação atualmente.

- Creio que não (existe). Se tivesse, eu falaria com muito prazer. Hoje está muito difícil, mas pode acontecer, por que não? Um dia vai acontecer, daqui a um ano, dois, três, vai acontecer – disse o ex-FIFA, que contou ainda ser torcedor do Corinthians.

Leia outras respostas de Edílson:

Vida atual

- Eu queria estar do outro lado, ser lembrado pelo árbitro que fui. Dizer que faz parte, faz parte, mas que faça parte com outras pessoas - frisou ele.

Relação com o futebol

- Guardei algumas coisas. Tinha mais de 80 fitas. Como eu não fui para o lixo, morto, mas na vida fui, resolvi jogar minhas fitas (fora), amarrei tudo em um lençol, dobrei o nó, peguei no quintal e meti gasolina. Hoje me arrependo muito de ter feito isso.

Fim da carreira

- Parei em 2005 quando aconteceu o fato, ficou aquilo de as torcidas baterem palma, gritarem “Edílson” em qualquer erro. Eu chorando, minha filha falando que estavam gritando meu nome, morria de vergonha disso. As coisas perduram até hoje. Joguei tudo a troco de dinheiro.

 

Pós-banimento

- Fiquei completamente trancado dentro de casa. Precisava continuar com sustento, por ter esposa e filha. Onde tem gente eu não vou. Minha vida foi depois de 2008, que sofri mesmo, na procura de empregos. “Me deixem em paz, me deixem viver, ou todo ser humano é santo, só eu que errei nessa vida?”.

Máfia do Apito

- Máfia para dois árbitros? Máfia de duas pessoas? Já começou errado esse título. Em 2004, me telefonou várias vezes uma pessoa de Piracicaba, primeiro para apitar uma partida amadora, o técnico queria que fosse campeão, dariam R$ 5 mil. Em 2005, de tanta insistência, comecei a tendenciar uma coisa que eu não queria. Falei “vou entrar no campo”, esse jogo era na Argentina, Banfield x Alianza Lima, primeira ou segunda rodada da Libertadores. Na minha cabeça eu não vou fazer, ele apostou, não sei quanto, “quanto você vai me dar?”, “R$ 10 mil. Qual você escolhe? Banfield, empate ou Alianza?”. Não sei como estavam, fui no time da casa. “Você vai fazer”. Acabei que não fiz porra nenhuma, o Banfield ganhou, não influenciei, fiquei tranquilo comigo. No outro dia o Gibão aparece com o dinheiro, R$ 10 mil. “Não vou fazer no próximo jogo, vou ganhar mais um dinheiro, mas vou pedir mais dinheiro, R$ 20 mil”. Era Guarani x Corinthians pelo Paulistão, o Corinthians um timaço, não precisava de árbitro para ajudar. No outro dia, ele me encontrou no aeroporto e me entregou R$ 20 mil. “Pô, não fiz nos dois jogos e ganhei R$ 20 mil sem fazer nada”. Isso foi me alucinando pelo dinheiro.

Campeonato Brasileiro

- Depois veio o Brasileirão, dizem que fiz nos 11 jogos. Não fiz nos 11 jogos. Desses 11, vou dizer a verdade, o único foi Vasco x Figueirense. Psicologicamente, estava envolvido forte na conversa com ele e disse que até sairia de avião ou camburão, mas daria Vasco. Em uma jogada interpretativa, falta dentro da área, se fosse meu estilo de apitar, não teria dado o pênalti. E dei. Burlei, infelizmente. Romário foi lá e fez o gol.

Quanto ganhou?

- Comprei até um carro, um Civic zerinho. Foram R$ 68 mil.

Consequência

- A primeira coisa que fizeram foi me banir, da CBF, da Fifa, da Federação Paulista. Tem que banir, foi corretíssimo. Foi justo, completamente justo. Errou, tem que pagar. Não tem cabimento nenhum um árbitro participar de um esquema e continuar apitando. Essa merda eu fiz, está valendo para a minha vida toda. Já pensei em fazer besteira, três vezes botei o revólver no ouvido, hoje graças a Deus não fiz isso, disparei e pegou no teto. Sofri demais durante cinco anos.

Arrependimento

- Eu me arrependi naquela época já. Poxa, vou perder o distintivo da Fifa, a carreira que faltavam três anos, poderia ser comentarista, nunca pensei nisso, mas pelo menos eu trabalharia, não sofreria.

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