O árbitro Cauã Ricardo Santos foi
suspenso de competições femininas de rúgbi após compartilhar fotos
íntimas de atletas em um grupo de WhatsApp. A punição vale até o fim
do ano e foi confirmada pela Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu)
como resposta a uma campanha de jogadoras, técnicas e árbitras, que
ficaram indignadas com as ações de Cauã.
A reportagem conversou com uma das atletas que tiveram a intimidade
exposta e também com a advogada que representa ela e outras
jogadoras. Ao menos três mulheres tiveram fotos compartilhadas por
Cauã em um grupo de árbitros de rúgbi. Nas imagens, as mulheres
aparecem parcialmente nuas, em fotos tiradas sem o consentimento
delas, e também em nudes enviados por elas ao juiz. Procurado pela
reportagem, o árbitro confirmou que compartilhou as fotos, se disse
arrependido e muito abalado com a situação, mas preferiu não se
pronunciar oficialmente.
Em comunicado à reportagem, a CBRu
disse estar atenta à violência contra mulheres na comunidade do
rúgbi, mas sua resposta à denúncia foi alvo de críticas por homens e
mulheres que souberam dos vazamentos promovidos por Cauã. A primeira
denúncia contra o árbitro foi feita em fevereiro pela árbitra e
conselheira da confederação Natasha Olsen, que conversou com as
vítimas, atletas com idades que variam entre 20 e 30 anos. Após uma
investigação, Cauã foi suspenso por 30 dias, punição considerada
branda pelas atletas.
"Ele optou por ir atrás de
meninas muito novas, que ele pensou que fossem vulneráveis e que não
iriam confrontá-lo. Mas ele errou muito o alvo", afirmou uma das
jogadoras que tiveram foto publicada pelo juiz e depois ajudou a
denunciá-lo. A atleta pediu para ter o nome mantido em sigilo.
"Fiquei decepcionada, mas não surpresa. Ele sempre foi uma pessoa
muito presente no rúgbi, em campeonatos universitários, brasileiros
e internacionais. Era uma pessoa com quem você se sentiria
confortável, por achar que ele entende os valores do rúgbi. Ainda
mais por ele dar aulas de arbitragem".
Cauã iniciou sua trajetória como
jogador de rúgbi em 2009, ao conhecer o projeto social do São José
Rugby, clube do interior de São Paulo. Cinco anos depois, ele
decidiu se especializar em arbitragem e deixou de ser atleta em
2015. O profissional passou a apitar em campeonatos universitários
até que foi evoluindo a torneios maiores. Em 2020, Cauã foi
convocado pela primeira vez como árbitro central de uma competição
sul-americana adulta, o "4 Naciones", e hoje é bem reconhecido no
continente.
Depois de vazar fotos, juiz
apita campeonato feminino
Um episódio em particular aumentou o desconforto entre as jogadoras.
Em junho, depois de cumprir seu mês de punição, Cauã Ricardo foi
indicado pela CBRu para arbitrar no Campeonato Sul-Americano de
Rugby Sevens em Saquarema (RJ). No torneio, havia uma atleta que
teve foto íntima publicada pelo juiz.
"A punição foi absolutamente
ridícula", criticou uma atleta que teve a foto vazada. "É uma
agressão contínua, um silenciamento muito grande. Foi um cala-boca
gigantesco." A confederação apontou "leis trabalhistas" para
explicar o motivo pelo qual o juiz foi suspenso por apenas um mês. O
artigo 474 da CLT limita em 30 dias o período de suspensão
disciplinar de um trabalhador.
A CBRu afirmou que, após a
repercussão do caso e a movimentação das atletas, decidiu afastar
Cauã de todas as competições femininas até o fim do ano. Ele seguirá
trabalhando em partidas masculinas.
Veja o
comunicado da CBRu na íntegra:
Em fevereiro deste ano, a CBRu
recebeu a denúncia de que um árbitro divulgou, em conversas privadas
de WhatsApp, imagens íntimas de membras da comunidade de rugby.
A análise do caso seguiu o
procedimento padrão adotado pela CBRu em episódios de denúncia e em
linha com o que preveem o Estatuto Social e o Código de Ética e
Conduta da Entidade: uma Ouvidoria Externa e Independente apura o
caso e envia um parecer diretamente para o Presidente do Conselho de
Administração, objetivando garantir a imparcialidade do processo e
evitar que haja influência indevida de outras pessoas da entidade.
Preliminarmente, foi aplicada
uma penalidade ao árbitro com a suspensão por 30 dias de suas
atividades, previstas no escopo de sua atuação dentro da
Confederação, não sendo remunerado durante este período. Esta
punição foi ratificada pelo Conselho de Administração da entidade.
Com relação ao período da punição, adotou-se analogamente e como
balizador para fins da integridade das decisões institucionais, o
disposto nas Leis Trabalhistas, nas quais é prevista uma limitação
de prazo de suspensão de no máximo 30 dias. Cumprida a punição
estabelecida, o árbitro esteve habilitado para exercer suas
atividades.
Motivada pela repercussão do assunto, a CBRu decidiu,
posteriormente, em 22 de junho, afastar o árbitro de todas as
competições femininas organizadas pela entidade até o final de 2022.
A CBRu reitera que o procedimento adotado neste episódio está em
consonância com o previsto em seu Estatuto e seu Código de Ética.
No transcorrer deste ano, o Código de Ética foi atualizado, passando
a prever a existência de um Conselho de Ética que analisará os
casos. Além disso, a entidade instituiu um grupo de trabalho para
promover a Diversidade e Desenvolvimento de Ações da Mulher no
Esporte.
Existindo evidências sobre este e outros casos, a CBRu encoraja que
as denúncias sejam realizadas, via Ouvidoria, para que a entidade
possa tomar as providências que estiverem sob sua alçada.
A publicação de informações pela CBRu, em suas plataformas, segue
uma dinâmica pré-estabelecida conforme a estratégia de comunicação
da entidade.
A CBRu está à disposição da imprensa e de integrantes da comunidade
do rugby para esclarecer o episódio e como ele está sendo apurado.
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Cauã na época que era jogador — Foto:
Divulgação/São José Rugby |
As informações são do
Uol