O fato de ter precisado cruzar o Brasil na metade do
ano passado, não impediu o árbitro Pedro Henrique Melo Costa, de 41
anos, de continuar escrevendo história dentro do handebol. Formado
em administração e especialista em eficiência energética, ele deixou
Fortaleza (CE) e se mudou para Rio Branco (AC) por causa de uma
oportunidade de trabalho em uma empresa de distribuição de energia.
|
Pedro Costa em um de suas atuações como
árbitro da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) —
Foto: Arquivo pessoal |
Pedro Costa integrava o quatro de árbitros da
Federação de Handebol do Estado do Ceará (FHEC), mas com a mudança
de estado precisou deixar a entidade na qual era árbitro desde o
início dos anos 2000. Foi então que, mesmo longe de 'casa', ele
encontrou na Federação Acreana de Handebol (Fach) a oportunidade de
seguir fazendo o que ama.
- Eu vim só, nunca tinha saído de perto da minha família e vim pra
cá só para trabalhar. Não conhecia ninguém, a minha esposa não veio
logo comigo, então eu queria ocupar meu tempo. Assim que cheguei só
tinha o trabalho, terminava o expediente ia pra casa e não tinha
muita coisa pra fazer - relembra ele, que entrou em contato com a
presidente da Fach, Maria Rosaídes, a Bolha, após conversa com um
diretor da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb).
Desde então, Pedro Costa passou a integrar o quatro de árbitros da
Fach e apitar competições do calendário local. Ele é o único árbitro
da entidade do Acre que também faz parte do quadro nacional da CBHb.
Início da carreira
O gosto pelo esporte começou no ensino médio, em
meados da década de 90. Pedro Costa gostava de praticar futebol e
futsal, mas não se destacava em nenhuma dessas modalidades. Foi no
handebol que se encontrou e passou a integrar o time dos melhores da
escola onde estudava.
|
Pedro Costa (e pé 2° E/D) foi campeão do
Intermunicipal pelo Fortaleza/CEFET. — Foto: Arquivo pessoal |
- Eu quando jovem participava de quase tudo, jogava
futsal, futebol, mas não me destacava em nenhum. Quando fui para o
segundo grau, houve essa possibilidade de ingressar no time de
handebol e comecei a ter conquistas. O handebol foi que me abriu as
portas. Eu sempre quis fazer parte da seleção da escola e antes
jogava em tudo, mas não conseguia me destacar em nada - lembra.
Pedro Costa passou a disputar competições estaduais. Foi campeão
cearense juvenil em 1996 e tri campeão cearense universitário em
anos seguintes. Com currículo vitorioso, em 2001 buscou novos
desafios no esporte. Tendo o pai que foi árbitro de futebol como
referência, viu na arbitragem uma alternativa de alcançar novos
ares.
- Meu pai sempre foi um espelho pra mim. Acompanhava ele desde
criança, quando ia apitar os jogos, quando ele ia para as reuniões
de arbitragem. Queria seguir os passos dele. Fiz esse curso de
arbitragem só para fazer mesmo e para entender um pouco mais as
regras, até para me beneficiar como atleta. Mas como atleta já tinha
ganho tudo, eu não tinha mais motivação e na arbitragem tinha mais
desafios, coisas que não tinha conquistado ainda. Eu percebi uma
possibilidade grande e coloquei como meta essa história de ser
árbitro nacional - afirma.
|
Até se tornar árbitro nacional, Pedro
Costa teve uma longa trajetória no esporte local e regional
— Foto: Arquivo pessoal |
Até alcançar o objetivo de ser árbitro nacional,
percorreu um longo caminho, mas sempre se destacando pelo
profissionalismo e amor ao esporte. Na bagagem, coleciona atuação na
final do Mundial de Handebol de Areia, em 2006, no Rio de Janeiro
(RJ), e na decisão do Campeonato Brasileiro de Handebol, em 2009, em
São Luís (MA). Durante 2009 e 2011, foi presidente da Liga Cearense
de Handebol, entidade que geria o esporte antes da FHEC.
Fase marcante da vida
As boas atuações como árbitro local e regional
renderam a Pedro Costa uma oportunidade de integrar o quatro
nacional de árbitros da CBHb. Mas o porte físico era um empecilho
para aprovação na entidade nacional.
Em 2008, ele chegou a pesar 130kg e acabou passando por um episódio
difícil na vida e na carreira. Pedro recebeu uma oportunidade de
apitar uma competição importante fora do país, no entanto acabou não
indo por causa do peso.
|
Árbitro passou por cirurgia de redução de
estômago para entrar para o quadro nacional da CBHb — Foto:
Arquivo pessoal |
- Para ter idéia do quanto o handebol foi importante
pra mim, quando jogava eu era goleiro, mas sempre fui gordinho. Eu
não era completamente obeso porque jogava ainda, mas quando larguei,
chegou uma época que cheguei a pesar 130 kg. Eu tinha destaque no
quadro regional na arbitragem, mas não passava para o quadro
nacional porque não passava no teste físico. Em 2008, era para ter
ido apitar uma competição no Uruguai e fui tirado porque disseram
que eu ia fazer vergonha à arbitragem brasileira se um árbitro tão
gordo fosse apitar um campeonato fora - conta.
A situação motivou Pedro a fazer uma cirurgia de redução de estômago
no ano seguinte. Para ele, o episódio resume sua paixão pelo
handebol.
A partir da mudança física, e sobretudo de qualidade de vida, o
árbitro passou a integrar o quadro nacional de árbitros da CBHb e
recebeu oportunidades de atuar em diversas competições do calendário
brasileiro. No entanto, ele diz que um objetivo ainda não foi
alcançado.
|
Atuação na final do Brasileiro de
Handebol foi um dos momento mais marcantes de sua carreira —
Foto: Arquivo pessoal |
- Meu último sonho é participar de uma fase final de liga nacional.
As principais competições do Brasil são Campeonato Brasileiro de
Handebol e Liga Nacional de Handebol. A Liga Nacional já apitei uma
vez a final da fase regional, quando morava no Ceará ainda. Os
melhores qualificados em cada região disputam a final da Liga
Nacional e tem toda uma cobertura (da imprensa), os melhores atletas
do Brasil estão lá, essa é minha meta. Pelo fato de estar no Norte,
como aqui têm menos competições, as possibilidades de ser visto pelo
diretor são menores e fica mais difícil de conquistar o objetivo -
explica.
Veja mais declarações de Pedro Costa
Atual relação com handebol
- Por conta do handebol, era convocado para jogar em
outros estados, aí tinha que negociar com chefe pra faltar uma
semana de trabalho e tal. Hoje continuo amando handebol, mas corre
em paralelo. Minha prioridade é meu trabalho, minha família e hoje o
handebol é um hobby que levo muito a sério, que faço aos finais de
semana. Hoje é mais com responsabilidade, antes era uma paixão mesmo
que colocava qualquer coisa.
Virtudes e carências do esporte no Acre
- O nível técnico dos atletas não fica nada a desejar
como nem um outro que eu tenha visto. São muito bons mesmo porque
são dedicados. Mas falta a questão do incentivo, do patrocínio, para
que eles possam se desenvolver ainda mais. Uma carência grande que
tem acho é a falta de intercâmbio. Acho que os atletas conseguem se
desenvolver mais se conseguirem disputar competições com atletas de
outros estados, porque vão entender o que estão sendo feito em
outros estados.
Relação com outros árbitros da Fach
- A gente têm um grupo de árbitros que sempre passo
dicas de arbitragem. Tudo que recebo do diretor (da CBHb), tenho
espalhado para os árbitros locais. Não adianta só eu ter um
destaque. Para uma dupla de arbitragem crescer, precisa todos os
árbitros estarem bem. Eu acredito que tenho contribuído com isso, no
desenvolvimento dos outros árbitros, da arbitragem como um todo.