Áudio atribuído a ex-dirigente fala em esquema para
compra de árbitros no Carioca
Em áudio
vazado, Rodolfo Laterça, ex-dirigente do Goytacaz, diz
que subornou muitos árbitros
em divisões inferiores do Campeonato Carioca entre 2017
e 2023
São Paulo - 01/10/2024
22:04hs
Rodolfo Laterça - Crédito: reprodução
facebook
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Matéria divulgada no inicio do mês passado
pelo 'Portal
ICL Noticias' divulgou um áudio de 24 minutos atribuído a
um ex-dirigente do Goytacaz, tradicional clube do Norte Fluminense
hoje licenciado das competições, que mostra o então dirigente
afirmando ter manipulado resultados para garantir que o time fosse
campeão da terceira divisão do futebol carioca em 2017. Para isso,
se gaba de ter subornado árbitros. Segundo apurou a reportagem, as
falas são creditadas a Rodolfo Laterça de Almeida, policial penal e
ex-subsecretário de Administração Penitenciária no governo Luiz
Fernando Pezão. Na gravação, ele chega a debochar:
“Em 2017 subornamos muita
arbitragem. Como é fácil se corromper arbitragem” - diz o
dirigente.
Laterça foi presidente do conselho
deliberativo do Goytacaz e, embora não tivesse cargo na diretoria em
2017, era considerado um nome próximo do grupo que comandava o clube
na ocasião. A manipulação de resultados teria ocorrido durante a
disputa da Série B1 do Campeonato Carioca - equivalente à segunda
divisão à época - em 2017, quando o Goytacaz se sagrou campeão. Com
a conquista, o clube de Campos dos Goytacazes disputou uma seletiva
para jogar a Série A do Carioca, mas bateu na trave - o hexagonal
classificava duas equipes e o Alvianil acabou em terceiro nos
critérios de desempate.
A reportagem tentou contato com
Laterça por dois dias por telefone, mensagens e e-mail, mas não
obteve resposta.
Diante do possível escândalo de
manipulação de resultados, a atual diretoria do Goytacaz denunciou o
caso à Ferj (Federação de Futebol do Rio de Janeiro). Por conta
disso, o TJD (Tribunal de Justiça Desportiva) do Rio de Janeiro
abriu um inquérito para apurar o caso. Também foram notificadas as
polícias Civil e Federal, além do MP-RJ (Ministério Público do Rio
de Janeiro) e o MPF (Ministério Público Federal).
“Eu posso falar agora, já
passou. Em 2017 subornamos muita arbitragem. Como é fácil se
corromper arbitragem, mas isso jogador… Torcedor não entende, e não
basta os vinte reais do ingresso, basta muito mais. Vinte mais vinte
de uma coletividade pra ver quem que entra no jogo, se é o apito que
é melhor, ou se é um bandeira ou dois bandeiras. Eles não tem noção,
entendeu? Que a gente consegue essa informação. Irmão quem vem pra
cá? Quem tá vindo? É bom? É. A gente tem isso, né? Então fizemos
muito isso em 2017. O Paulo Henrique, é ele que é o árbitro das
brincadeiras da Federação. O pessoal convida ele e participa muito
junto a Federação. Tem bom conhecimento o coroa” - diz trecho do
vídeo (veja abaixo).
Rodolfo Laterça é irmão do
delegado da Polícia Federal aposentado e ex-deputado federal Felicio
Laterça, mas os dois são brigados e não se falam, segundo apurou a
coluna.
No áudio, o ex-dirigente afirma que era um dos financiadores do
clube nesse período. Ele chega a dizer que injetou mais de R$ 100
mil para bancar contas do clube, mas os recursos não constam na
contabilidade oficial do Goytacaz, segundo informações obtidas para
a reportagem.
O áudio trata de outros assuntos,
como bastidores da política interna do clube. A reportagem apurou que ele foi enviado por Laterça
para um grupo de WhatsApp do qual fazia parte e vazou em julho deste
ano.
Em nota, o Goytacaz disse ter denunciado o áudio às autoridades para
preservar o clube:
“A atual diretoria do Goytacaz, que assumiu o
clube em 14 de junho deste ano, ao tomar ciência do áudio, em que o
autor ataca e denuncia diversas pessoas e instituições, agiu como
forma de proteger o clube e deixar as portas abertas para qualquer
tipo de esclarecimento. Nossa preocupação é pela preservação e
manutenção do clube, que vive seu pior momento nos seus 112 anos. E,
se não fosse a ação dos torcedores com o Movimento Resistência Alvianil, não existiria mais”
- diz a nota.
Em outro trecho do áudio obtido pela
reportagem, Laterça insinua que o
presidente da Ferj, Rubens Lopes, teria se comprometido a ajudar o
Goytacaz a subir da terceira para a segunda divisão do Carioca em
2023.
“Aí o Duque de Caxias [foi] a culpa de não termos subido, e se
tivesse subido obviamente eu não ia pedir licença [das competições
em 2024]. Essa licença foi mais um protesto contra essa esse Rubens
Lopes do que outra coisa, entendeu? Porque esse cara não nos
atendeu. Ele negou por oito vezes agendar o horário com o nosso
presidente Humberto” - disse o dirigente, antes de continuar o
raciocínio.
“Vocês não tem noção de como é manipulado o futebol, e ainda vem
falar que estão aí punindo clube. Puniram o sub-20 do Belford Roxo e
outro clube aí, por manipulação comprovada da empresa tal. Porra,
manipulação está lá na arbitragem, pô. Quando tem manipulação, tem
um árbitro na jogada. Fora isso, quando não tem a manipulação para
subir o Duque de Caxias, porque o Goytacaz ia ganhar. Ia dar uma
goleada naquele dia, né? Ele [o árbitro] segurou o time, né? Prendeu
nosso time. Aí como nós corrompemos, sabemos como que eles fazem,
entendeu?”
“Se não tiver um dinheiro para se defender, tá? Se você não tiver
uma prata para dar depois do presente, junto com a camisa do
Goytacaz, ao velho estilo.. Eu acabei com isso, passei a dar
chuvisco e goiabada. Se não tiver, tá morto, tá morto. Então futebol
é isso, eu tô cansado pra caramba, eu enjoei.”
Laterça também insinua que havia um esquema de favorecimento na
Série B2 –a quarta divisão carioca - no ano passado. Segundo ele, o Belford Roxo teria sido beneficiado. O clube da Baixada Fluminense
foi vice-campeão e conseguiu subir para a terceira divisão.
“O Belford Roxo era a bola da vez, [Rubens Lopes] já tinha dado
havia dado palavra. Pô, o Barra da Tijuca também estava voando, a
palavra tava dada para o Belford Roxo. Pro [clube] Rio de Janeiro
[foi dito]: “Oh, segura a onda, não vai dar”. Tanto que agora no ano
passado o Zinzane [se classificou para a fase final], mais uma vez o
Rio de Janeiro ficou na fila de espera".- encerrou Laterça.
A reportagem procurou Rubens Lopes, presidente da Ferj, para repercutir
as acusações. Por meio da assessoria de imprensa da federação, o
dirigente não quis comentar o teor do áudio. Em nota, limitou-se a
dizer que a Ferj já tomou as medidas judiciais cabíveis.
TJD/RJ abre inquérito para investigar
Após serem apresentadas pelo próprio Goytacaz, as denúncias se
tornaram inquérito no TJD-RJ, tendo como relator o auditor Rodrigo
Octavio Pinto Borges.
No dia 28 de agosto, o relator pediu a prorrogação do prazo para a
conclusão do inquérito por mais 15 dias. Ele também intimou Laterça
e integrantes da atual diretoria do Goytacaz a depor.
Os depoimentos originalmente foram marcados para a última segunda
(2), mas tiveram que ser adiados por problemas na citação de Laterça.
Ainda não há nova data para as oitivas.