Desde que assumiu de fato a
presidência da CBF em março deste ano, Ednaldo Rodrigues vem
colecionando polêmicas e inimizades no cargo, a ponto de andar as 24
horas do dia escoltado por seguranças. Dizem que todo esse cuidado
seria por conta de traições e acordos não cumpridos para assumir a
entidade, principalmente com o outro pretendente ao cargo, o
alagoano Gustavo Feijó. Mas o dirigente baiano tem feito inimizades
em outras áreas e uma delas atinge a liderança de um setor muito
importante no futebol, a arbitragem.
Como amplamente divulgado neste
veiculo de comunicação, a ANAF (Associação Nacional dos Árbitros de
Futebol) recebia uma verba, ultimo pagamento no valor de 30 mil
reais, provenientes dos patrocínios nas camisas dos árbitros. Ocorre
que ao assumir, Ednaldo Rodrigues cortou o repasse e o contato com o
representante dos árbitros, o que gerou uma enorme insatisfação que
se tornou alarmante com a possibilidade, mesmo que remota, de uma
greve dos árbitros que paralisaria o futebol brasileiro.
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Com mandato até 2026, Salmo Valentim
promete ser uma pedra no sapato da CBF - Crédito: Marçal |
Em resposta a atitude e falta de
dialogo da CBF, a ANAF, via texto assinado por seu presidente, Salmo
Valentim, disse que vai reunir os árbitros para discutir a greve.
A imprensa, o dirigente explicou
os motivos. Segundo Salmo, a insatisfação da ANAF é por conta do
corte no repasse do dinheiro dos patrocínios que estampam os
uniformes dos árbitros, algo que, segundo a entidade, foi uma ação
do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, com quem Salmo Valentim
alega tentar contato há seis meses e não consegue. A Associação de
Árbitros ainda faz algumas acusações como o "sucateamento" da
arbitragem brasileira.
"Recebíamos R$ 30 mil mensais
dos R$ 10 milhões que a CBF recebe dos patrocinadores que expõem
suas marcas nas camisas da arbitragem. Esse recurso era utilizado
para a manutenção da entidade que o utiliza em benefício dos
árbitros aplicando seguro lesão, para quem se contundir, transporte
terrestre, auxílio médico, jurídico… uma série de benefícios que
teremos de cortar" - relatou Salmo Valentim, em entrevista ao
portal Lance.
"O repasse foi paralisado em
março. Desde então o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, não mais
nos atendeu" - completou o presidente da entidade à reportagem.
O comunicado assinado por Salmo
Valentim foi disparado pelas redes sociais e mais tarde foi
confirmado pelo próprio mandatário em seu Twitter (abaixo).
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Crédito: Reprodução Twitter |
Ainda não há uma data para que a
assembleia dos árbitros seja marcada, no entanto isso deve acontecer
em breve, pois as entidades de cada estado já estão sabendo da
reunião para discutir a greve.
"Marcaremos a assembleia nos
próximos dias, já mandei comunicado para as entidades estaduais"
- afirmou Salmo.
Salmo também se queixou de que há
seis meses tenta ser recebido por Ednaldo Rodrigues, presidente da
CBF, mas não consegue.
Confira abaixo o comunicado da
entidade propondo a paralisação:
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Comunicado ANAF - Crédito: Reprodução
Instagram |
O que disse a CBF
Ao rebater as declarações do
presidente da ANAF, a CBF praticamente jogou gasolina na fogueira
ao, em vez de procurar o dialogo, foi para o confronto ao afirmar
que 90% dos árbitros que atuam nas competições que organiza não são
associados da ANAF.
Quanto ao patrocínio, a CBF tem
outra versão sobre a suspensão dos valores repassados aos árbitros.
A entidade afirma que, de acordo com levantamento do departamento
jurídico, em administrações passadas havia um repasse mensal de R$
30 mil à ANAF para que eles indicassem o nome de um auditor ao STJD.
Porém, esse valor foi cortado após não serem encontrados contrato,
justificativa e prestação do serviço.
"A verdade é que a ANAF não
representa mais os árbitros. Hoje 90% deles não são associados.
Estou na CBF há três meses e nunca recebi um pedido de árbitro com
reivindicação sobre falta de direitos. Hoje os árbitros estão
carentes de uma associação, já que a atual diretoria da ANAF a
colocou em descrédito" - afirmou Wilson Seneme, presidente da
Comissão de Arbitragem da CBF.
Já Ednaldo Rodrigues afirmou que
se encontrou com Salmo quando ele ainda era presidente interino, e
que recomendou que conversas sobre o assunto fossem tratadas com a
Comissão de Arbitragem.
"O recebi quando ainda era
interino. Ele queria fazer uma reestruturação da arbitragem, mas não
falou com o (Leonardo) Gaciba, que na época era o presidente da
Comissão de Arbitragem, o que achei estranho. Pedi que ele levasse
todos os assuntos referentes a arbitragem à comissão" - contou.
Verdades e
mentiras
A afirmação da CBF quanto ao
patrocino e indicação para o STJD é mentirosa e não retrata
fielmente os fatos.
Saiba a verdade: O repasse
para a ANAF teve início no final de 2008 na gestão Jorge Paulo de
Oliveira Gomes. Na época, a Penalty fornecia os uniformes dos
árbitros que nada recebiam por acordos publicitários. Jorge Paulo
articulou acordo com a empresa Diadora que, além de fornecer
uniformes para os árbitros, incluindo terno e todos os demais itens
necessários, pagaria algo em torno de hum
milhão de reais anual, mas a CBF, que tinha acordo com a Penalty,
vetou, o que gerou uma enorme crise culminando com a saída de JP da
ANAF.
Após o imbróglio, ficou
estabelecido em contrato que a Penalty repassaria diretamente
a ANAF R$ 7.500 reais mensais como forma de ajuda por conta do
patrocínio nas camisas dos árbitros. O acordo não teve qualquer
relação com indicação de membros ao STJD. A época, realmente Dario
Góes, foi indicado pela ANAF para o Pleno do STJD, mas teria sido
por um suposto acordo entre Góes e Jorge Paulo que em contrapartida
seria indicado para atuar na Conmebol. Como a historia conta, Dário
Góes era influente na entidade Sul-americana sob direção do
paraguaio Nicolás Leoz, falecido em 2019.
Wilson Seneme, que nunca
participou de qualquer atividade da arbitragem fora das quatro
linhas, deveria tomar conhecimento dos fatos antes de falar qualquer
coisa para não expor e nem manchar a historia da entidade, mesmo que
ele, como árbitro e agora como dirigente, nada tenho feito por ela.
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Jorge Paulo de Oliveira Gomes - Crédito:
ANAF |
Grifo nosso: Até a gestão
de Marco Martins, os assuntos da arbitragem eram resolvidos entre
presidência da ANAF e Comissão de Arbitragem da CBF, comandada a
época por Sérgio Corrêa. Quando assumiu a entidade dos árbitros,
Salmo Valentim passou a tratar os assuntos da arbitragem diretamente
com o então presidente da CBF Rogério Caboclo.
Ednaldo Rodrigues, que sofre
pressão por cortar verbas e acusações de sequer receber os
presidentes de federações, dispensa o mesmo tratamento ao
representante dos árbitros que exige tratar os assuntos de
presidência para presidência e este imbróglio não poderia terminar
de forma amigável. A greve, se realmente for decretada, será apenas
o inicio de uma longa batalha que certamente terminara na justiça.
A crise gera uma oportunidade
única para a entidade dos árbitros exigir que os direitos da
categoria sejam respeitados, pois a forma como a CBF trata os
árbitros negando direitos trabalhistas e negociando contratos em
nome deles, sem mesmo ter qualquer vinculo, pode ser contestado
juridicamente e no mínimo trará muita dor de cabeça para a poderosa
entidade do futebol.
Muitas ações questionando
essa relação estão tramitando na justiça e uma delas aguardando
decisão final no TST (Tribunal Superior do trabalho) que questiona
principalmente o fato da CBF firmar contratos de patrocínios em nome
da categoria que ela mesma denomina como 'autônomos'.
Basta que a entidade sindical de
uma atenção maior a parte jurídica e busque os órgãos competentes
para que a legislação seja cumprida e assim cumpra também sua função
que é defender os direitos da categoria.