O escritório de advocacia da
mulher do presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro
Carvalho, recebe pagamentos mensais paralelos da CBF (Confederação
Brasileira de Futebol).
A prática é proibida pelo Código
de Ética da CBF e passível de afastamento disciplinar. O documento
diz que constitui conflito de interesse “celebrar contrato com
empresa do qual o dirigente, seu cônjuge ou companheiro(a), ou
parentes, em linha reta, colateral ou por afinidade, até o 3º grau,
sejam sócios ou administradores, exceto no caso de contratos de
patrocínio ou doação em benefício de entidade desportiva”. Eis a
íntegra do código de ética em PDF (Leia).
A reportagem teve acesso a
documentos internos da CBF que mostram relações contratuais desde
2016 para prestação de serviços advocatícios do escritório.
Um aditivo de 2018 atualiza os
valores para R$ 35.000 mensais. Outro aditivo, do ano de 2020,
prorroga o contrato por tempo indeterminado. Quem assina pelo
escritório é Rosineide Castro Barros de Carvalho, conhecida como
Neide, mulher do cartola pernambucano.
Procurado pela reportagem,
Carvalho disse que nunca recebeu dinheiro da CBF e que as
informações seriam “mentirosas”. Segundo o presidente da Federação
Pernambucana de Futebol, ele não tem contrato com a confederação
nacional nem ligação com o escritório Barros & Carvalho Advogados
Associados. Falou que a empresa é da mulher e que as finanças dos 2
são separadas (leia mais sobre a manifestação do dirigente ao final
do texto).
A reportagem obteve uma planilha
interna que seria relativa aos pagamentos neste ano de 2023 - é uma
cópia de uma tabela num programa de processamento de dados, como o
Excel. Uma nota fiscal, referente ao mês de agosto, mostra o
pagamento realizado no período. Esses valores não estão relacionados
ao salário que os presidentes de federações recebem da CBF. Os
repasses oficiais variam, mas estão hoje na casa de R$ 110 mil por
mês.
A mesada paralela, via escritório,
é dinheiro do futebol brasileiro que não vai para a federação. Ou
seja, não beneficia os clubes de Pernambuco.
No site da federação pernambucana,
Evandro era descrito da seguinte forma: “Chefe de delegação da
seleção brasileira em diversas oportunidades, o dirigente atualmente
também é executivo do escritório de advocacia Barros & Carvalho
Advogados Associados”.
Eis como estava no site:
O trecho que citava Evandro como
executivo do escritório de advocacia Barros & Carvalho foi removido.
Eis como está agora:
O escritório de advocacia Barros &
Carvalho fica situado no mesmo prédio da federação que ele preside,
no bairro de Boa Vista, no Recife (Pernambuco).
Os documentos ganham relevância
diante da eleição do novo presidente da CBF, em que as federações
são os principais eleitores.
Evandro e outros presidentes de
federações estaduais de futebol serão os eleitores do novo comando
da CBF, entidade que está no momento com um chefe interino, José
Perdiz, por causa do afastamento, em 7 de dezembro de 2023
(confirmado pela Justiça), do presidente anterior, Ednaldo
Rodrigues.
É importante ressaltar que a CBF é
uma entidade de direito privado e que não recebe dinheiro público.
Ou seja, o que a entidade faz com os seus recursos é algo
discricionário e decidido pelos seus associados —que, supostamente,
precisam seguir regras impostas pelo estatuto da confederação e pelo
seu Código de Ética.
O pagamento adicional a Evandro
não é o único feito pela CBF a presidentes de federações. O jornal
Folha de S.Paulo revelou em 23 de dezembro de 2023 que “o presidente
da Federação Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos, recebe R$ 50.000
mensais da CBF além de seu salário de R$ 110.000 como um dos
vice-presidentes da entidade nacional”.
Bastos é um dos pré-candidatos a
presidente da CBF para a sucessão de Ednaldo Rodrigues, com quem o
cartola paulista está rompido politicamente. A disputa deve ser em
janeiro de 2024.
Também está na disputa para
comandar a CBF o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça
Desportiva, o advogado Flávio Zveiter.
O QUE DIZ
EVANDRO CARVALHO
A reportagem entrou em contato com
Evandro Carvalho às 14h30 desta 4ª feira (27.dez.2023) para
perguntar se ele gostaria de se manifestar a respeito do caso. O
cartola disse não ter recebido nenhum dinheiro da CBF e que as
informações seriam “mentirosas”.
Segundo o presidente da Federação
Pernambucana de Futebol, ele não tem contrato com a CBF nem ligação
com o escritório Barros & Carvalho Advogados Associados. Falou que a
empresa é da mulher e que as finanças dos 2 são separadas.
O dirigente disse também que seu
escritório, Evandro Barros de Carvalho Sociedade Individual de
Advocacia, é separado da empresa que tem sua mulher como
sócia-administradora.
A plataforma agregadora de CNPJs
Linkana mostra que os 2 escritórios estão registrados com o mesmo
endereço físico, em Boa Vista, no Recife. Veja na imagem abaixo:
Ao ser perguntado sobre o motivo
de o site da Federação Pernambucana de Futebol citá-lo como
“executivo do escritório de advocacia Barros & Carvalho Advogados
Associados”, Carvalho disse se tratar de um erro da equipe
responsável pela página.
A informação, retirada na tarde da
4ª feira (27.dez), estava disponível no site da federação desde,
pelo menos, 5 de janeiro de 2017. A reportagem checou como estava a
página por meio da plataforma Wayback Machine, muito usada para
olhar históricos de endereços digitais.
Eis como era na época:
Carvalho também é citado como
executivo do escritório Barros & Carvalho em notícias institucionais
da federação. Leia na imagem abaixo um exemplo de 29 de outubro de
2021:
O QUE DIZ A CBF
A reportagem entrou em contato com
a CBF às 16h16 desta 4ª feira (27.dez) para perguntar se gostaria de
se manifestar e a que dizem respeito os R$ 35.000 pagos mensalmente
para a Barros & Carvalho.
Por meio de sua assessoria de
imprensa, a confederação informou que precisava ter acesso aos
contratos para enviar um posicionamento e que isso deve ser feito a
partir apenas de 7 de janeiro de 2024, quando acaba o recesso da
entidade.
A CBF informou que os contatos
foram firmados em 2018.
Fonte: Poder360