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    São Paulo - 13/07/2021    10:07hs

Clubes e jogadores se mobilizam por “lei do mandante e direito de arena”; Árbitros se calam

Proposta do governo que libera quem joga em casa negociar transmissão e divide direito de arena entre jogadores, técnicos e árbitros esta pronta para ser votada

Plenário da Câmara dos Deputados - Crédito: Câmara Federal
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A Câmara dos Deputados pode votar, nesta terça-feira (13), o PL (projeto de lei) 2.336 de 2021, proposto pelo governo, que altera as regras para negociar transmissões de jogos de futebol e dividir a distribuição de 5% de direito de arena entre jogadores, árbitros e treinadores.

Representantes de clubes das séries A e B e vários jogadores, já estão em Brasília pressionando os Deputados para votarem conforme seus interesses.

A proposta tem apoio das agremiações, pois o texto dá ao clube mandante o direito de negociar as transmissões das partidas. Hoje isso precisa ser feito em conjunto com o visitante. Se os clubes são favoráveis, os jogadores não são contra, mas lutam para não perder ainda mais o porcentual no direito de arena destinados a eles que já foi de 20%, caiu para 5% e agora pode cair para 1.66%, segundo prevê o projeto.

A proposta original tem como principais pontos:

• Transmissão – clubes mandantes poderão negociar direitos de transmissão sem depender do visitante. No caso de jogos sem mandante –finais em campo neutro, por exemplo – a negociação caberá aos clubes participantes;

• Patrocinadores – permite que clubes de futebol tenham emissoras de rádio ou TV como patrocinadoras, com logotipo em suas camisas. Para isso invalida para o futebol os parágrafos 5º e 6º do artigo 27-A da Lei Pelé.

• Árbitros – inclui árbitros de campo (não os do VAR) e treinadores no rateio de 5% da receita dos “direitos desportivos audiovisuais”. A legislação atual contempla só os jogadores.

PL 2336 - Reprodução

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O que diz o PL

Se aprovado como proposto, o PL (Projeto de Lei), alterara a redação da Lei Pelé (Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998), que no inciso 1º do artigo 42 destina 5% (cinco por cento) da receita proveniente da exploração de direitos desportivos audiovisuais aos atletas profissionais participantes do espetáculo, como parcela de natureza civil.

A nova redação da lei, se não modificada como querem os jogadores, diz em seu inciso segundo que os 5% da receita proveniente da exploração de direitos desportivos audiovisuais do espetáculo desportivo será distribuída, em partes iguais, aos atletas profissionais, aos árbitros de campo (árbitro central, assistentes e quarto árbitro) e aos treinadores participantes, o que dará 1.66% de direito de arena aos árbitros.

O PL ainda diz que o pagamento da verba será realizado pela ANAF (Associação Nacional dos Árbitros de Futebol) no prazo de até setenta e duas horas, contado do recebimento das verbas pela entidade.

Veja proposta na integra

Mobilização dos jogadores

A FENAPAF (Federação Nacional dos Atletas Profissionais) e atletas se posicionaram pelas redes sociais contra a medida. Em mensagem, eles dizem que "não aceitaremos que os já insuficientes 5% destinados aos atletas sejam de nós subtraídos".

Alguns jogadores recorreram à Fenapaf, outros foram até aos sindicatos estaduais. De qualquer forma, o que os jogadores temiam, que é a perda de direitos, está prestes a acontecer. Vale lembrar que até 2011 esse percentual era de 20%. Sem negociação à época, o valor foi reduzido através de alteração da lei.

Para evitar que o direito de arena fosse mudado, o presidente do Sapesp (Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo), Rinaldo Martorelli, se reuniu com o deputado Júlio César Ribeiro (Republicanos-DF), relator do PL, na terça-feira da semana passada (06). Ontem (segunda-feira 12), foi a vez da Fenapaf se reunir com o deputado. Além do dirigente da entidade, o ex-goleiro Fernando Prass, e o volante Hudson, do Fluminense, estiveram presentes na reunião.

“Ninguém liga a TV para assistir árbitro e treinador. Isso é um absurdo, uma total inversão de valores” - disse um presidente de sindicato que preferiu não se identificar.

Se o PL for aprovado sem modificação, sindicatos dos jogadores já falam em procurar partidos políticos para entrar com uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no STF (Supremo Tribunal Federal).

Voto contrário

O Deputado Felipe Augusto Lyra Carreras, do PSB (Partido Socialista Brasileiro) de Pernambuco, é no momento, o principal inimigo da arbitragem. O parlamentar apresentou Emenda Supressiva (leia) para retirar da PL os parágrafos 2º, 3º, 4º e 5º do artigo 42-A, que, na pratica, retira todo direito previsto aos árbitros.

Segundo a justificativa do parlamentar, que mora em Recife, é empresário de eventos noturnos e já foi secretario de esporte e turismo no estado do frevo, 'é temerário alterar a distribuição dos 5% tendo em vista que ela é parte significativa da renda dos jogadores'.

Deputado Federal Felipe Lyra, PSB Pernambuco, tenta impedir direito de arena para árbitros- Crédito: Câmara dos Deputados

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Opinião do Apitonacional

É um absurdo que o árbitro ainda não tenha sua imagem protegida pela legislação esportiva. O profissional do apito não receber pela transmissão de uma partida ou pelo patrocínio que usa na camisa é uma afronta clara à justiça, que vem reagindo como demonstrado em várias decisões favoráveis aos apitadores em alguns tribunais pelo país. Mesmo avançando a passos de tartaruga, a legislação brasileira ainda não é muito clara e complica a busca desse direito, mas é questão de tempo para direitos da categoria serem reconhecidos de forma definitiva.

Em 2015 a categoria teve aprovado lei, que ficou conhecida como MP do Futebol, destinando 0,5% dos valores das cotas de TV para os árbitros, mas o artigo foi vetado pela presidente Dilma Rousseff. Quem sabe desta vez o Projeto de Lei seja aprovado sem alterações.

Esse PL proposto pelo Governo de Jair Bolsonaro, que traz a possibilidade da divisão dos 5% que, não estava previsto na primeira edição, é baseado na MP 984 (Medida provisória) editada no ano passado e perdeu a validade sem ser posta em votação, pode mudar essa realidade, mas acontece que ele sofre do mesmo mal histórico da falta de comprometimento e mobilização da categoria.

Na última semana de fevereiro deste ano, o presidente da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (ANAF), Salmo Valentim, esteve em Brasília tratando do assunto com autoridades como o secretário especial de Esportes do Governo Federal, Marcelo Magalhães e o Senador Flávio Bolsonaro, saindo com a promessa que os árbitros seriam incluídos, como foi, em um projeto de lei.

Desde então não se ouviu mais falar no assunto, principalmente por parte dos árbitros que adoram reclamar, exigir direitos e na hora de participar, ficam calados esperando que as conquistas caiam do céu.

No Senado, Salmo Valentim tratou do assunto diretamente com o senador Flávio Bolsonaro - Crédito: ANAF

Por que só os atletas e técnicos se mobilizaram defendendo seus direitos e árbitros não participam desta discussão ficando calados em todos os sentidos? A resposta é simples: Porque ele só se preocupam com as escalas e as taxas que elas proporcionam.

O que eles disseram

Consultado, o presidente da ANAF, Salmo Valentim, disse que esteve por duas vezes em Brasília conversando com parlamentares em busca de apoio para inclusão da arbitragem no texto da lei que trata do direito de arena. Disse ainda o dirigente que as mobilizações da entidade foram por prestigio pessoal junto a pessoas do futebol ligados a autoridades e políticos em Brasília.

 

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