CRÉDITO: ILUSTRAÇÃO: DUDS SALDANHA |
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O ex-árbitro FPF/CBF Rodrigo Braghetto, que encerrou
a carreira após ser sacado da final do Campeonato Paulista de 2013,
por ser proprietário de uma empresa, a época prestadora de serviços
ao Corinthians, fez um relato ao Portal Peleja, onde conta em
detalhes os acontecimentos com a arbitragem, antes, durante e depois
do clássico Santos e Corinthians, valido pelo Campeonato Brasileiro
de 2005, um dos 11 jogos remarcados por conta do escândalo 'Máfia do
Apito'.
Segundo o ex-árbitro, aquele jogo de 13 de outubro de
2005, onde atuou como quarto árbitro, foi o mais difícil da sua vida
e chegou a temer pela sua vida.
Hoje, aposentado, assim como o arbitro da partida e
sem correr risco de ser antiético, Braghetto admite que houve um
pênalti claro a favor Corinthians em um carrinho do goleiro Saulo no
atacante Nilmar, não assinado por Abade.
O ex-árbitro revela ainda que o pênalti em cima de
Nilmar, no final da partida, que deu vitória ao Corinthians, foi um
daqueles pênaltis que só o juiz vê. logo depois da cobrança da
penalidade, houve invasão do campo e a arbitragem correu para o meio
do campo para receber proteção da policia, mas Braghetto diz que sua
vontade era correr para o vestiário e 'deixar Abade tomar um pau".
Leia abaixo, na integra, o relato do ex-árbitro.
Por: Rodrigo Braghetto | Renan Lima
Parar de apitar foi uma das decisões mais difíceis
que já tomei na vida. Você fica viciado na rotina, na adrenalina e
no sentimento que é estar no meio de um estádio lotado com milhares
de pessoas te assistindo.
Ainda assim, houve dias na minha carreira que eu
preferia esquecer.
Eu pensei que fosse morrer num Corinthians e Santos.
Já apitei jogo de várzea em que o treinador estava armado, o campo,
rojão dentro do campo, tudo que tem direito. "Aí, Braghetto, não vai
ajudar hoje?".
Mas nem se compara ao que vivi na Vila Belmiro. Vi
uma torcida ensandecida balançando o alambrado, quase mordendo as
grades, aos gritos de "Uh, vai morrer! Uh, vai morrer!". Eu fiquei
com muito medo, os caras estavam cheios de ódio. E quando alguns
torcedores começaram a invadir o campo e a polícia não conseguiu
conter, eu pensei "É hoje que a gente vai morrer mesmo". Aquele jogo
de 13 de outubro de 2005 foi o mais difícil da minha vida.
O clima já estava tenso muito antes da partida
começar. Primeiro porque o contexto em si era tenebroso: 2005 foi o
ano da matéria da Veja que revelou o esquema conhecido como a "Máfia
do Apito" – que na verdade não era "do apito", e sim dos
apostadores. Eles não conseguiram corromper toda a classe, apenas
dois árbitros. O Edílson Pereira de Carvalho, que era um colega meu
e foi o primeiro a ser descoberto. Depois, foi o Paulo José Danelon,
um amigo que eu cumprimentava com beijo no rosto e que jamais
desconfiaria.
Quando a matéria saiu, os torcedores nos estádios não
nos xingavam mais, eles só nos chamavam de “Edílson”. Isso me
deixava maluco. Era como se todos os árbitros do Brasil fossem
corruptos, o que está muito longe de ser verdade. Juiz de futebol é
mais profissional que muito atleta – que fique bem claro.
Com a história da "Máfia do Apito", todos os 11 jogos
apitados pelo Edílson tiveram de ser remarcados. E aquele Santos e
Corinthians era um deles. O problema é que o Santos havia ganhado de
4 a 2 na primeira partida, e o fato de uma derrota do Corinthians
ter sido revisada fez muita gente acreditar que eles estavam sendo
favorecidos naquele campeonato.
Todo o pré-jogo foi muito difícil. O Cléber
Wellington Abade estava escalado como juiz. Eu era o quarto árbitro.
Assim que o carro da Federação Paulista de Futebol em que estávamos
embicou na Vila, muitos torcedores do Santos já estavam esperando
para nos receber com ofensas de tudo que é tipo – até objetos eles
atacaram na gente. Ali já soubemos que seria uma noite diferente.
Na hora em que a bola rolou, o jogo foi muito pegado.
Gol pra um lado, gol pro outro. Mas, na volta do intervalo, alguns
lances mudaram a história da partida. Primeiro, houve um pênalti
claro a favor Corinthians, um carrinho do goleiro Saulo no Nilmar,
que o Abade não marcou. O que inflamou a torcida foi a expulsão
justa do atacante Luizão, do Santos, que veio do banco de reservas,
deu duas cotoveladas seguidas no Wendel, do Corinthians, e sem tocar
na bola, recebeu o vermelho.
No final, as coisas pioraram. Já eram 39 do segundo
tempo, 2 a 2 no placar, e, numa bola levantada na área, o zagueiro
santista Zé Elias desloca o Nilmar e o Abade marca pênalti — um
daqueles pênaltis que só o juiz vê. A Vila veio abaixo.
Os jogadores do Santos fecharam nele na hora. Eu,
como quarto árbitro, tive que administrar de fora o banco de
reservas, escutando um monte dos jogadores e da comissão técnica.
Você tem que ter um preparo mental muito grande em momentos assim,
porque ouve coisas que nunca imaginaria na vida.
Dentro do campo, era só o Corinthians bater e ganhar
o jogo. Depois de toda a confusão, eles finalmente batem e fazem o
gol. 3 a 2. Ninguém acreditava no que estava acontecendo.
Quando o Abade coloca a bola no meio de campo para
dar a saída e apita o reinício, o meia Giovanni, do Santos, dá um
bico nela para a arquibancada. Nesse momento, a torcida, que já
estava no alambrado louca, furiosa e cantando "Uh, vai morrer! Uh,
vai morrer!", invadiu o campo. A polícia tentou de todas as formas
possíveis conter a confusão, mas eles foram entrando pelos lados,
pelo fundo, e de repente a invasão era generalizada.
Em situações assim, existia um protocolo da
arbitragem que mandava ficarmos todos juntos, para a segurança do
estádio nos proteger. Fazemos um sinal, como se puxando uma manivela
de cima para baixo, chamando a polícia e a equipe para perto do
árbitro.
Quando o Abade fez esse sinal, saí correndo para o
centro do campo o mais rápido que pude, mas minha vontade era de
correr para o vestiário, porque "o Abade merecia mesmo tomar um
pau", pensei. (Risos)
Claro que nunca deixaria ele na mão, mas não
precisava ter marcado aquele pênalti.
Mesmo com a polícia ao nosso redor, do nada, um cara veio numa
voadora à la Matrix na minha direção e, se eu não tivesse dado um
passo pra trás, nem sei se estaria aqui pra contar essa história.
Para piorar, fomos nos aproximando do lado da torcida
do Corinthians, para fugir dos torcedores do Santos.
“Vocês são
corintianos mesmo, têm que entrar na torcida deles”.
Foi quando um dos seguranças falou: "Não vai ter como
vocês irem para o vestiário da arbitragem". O local tinha sido
invadido por torcedores, que haviam rasgado nossos ternos, dados nós
de manga com manga, jogado na privada. Arregaçaram tudo.
Por fim, o chefe do policiamento falou: "Eu nunca vi
uma torcida tão revoltada como essa, e não é com vocês, é com tudo
que tá acontecendo no campeonato. Vamos ter que escoltar até São
Paulo, porque os caras estão falando que vão pegar vocês na
estrada".
Entramos na van do policiamento de choque com dois
agentes mostrando as escopetas para fora da janela. Os policiais
foram empurrando os torcedores, enfiando a viatura na frente de todo
mundo e tirando a galera pra gente ir embora.
A equipe toda foi de Santos a São Paulo, naquela van,
vestida de juiz. E direto para a minha casa, no Ipiranga, porque era
a mais próxima. Assim que viatura parou na frente do meu prédio,
quase uma hora da manhã, os porteiros viram os policiais armados e
se esconderam embaixo da guarita.
Tive que descer da viatura e bater na janela para
eles se acalmarem. "Ô, seu Braghetto, o que houve com o senhor?",
perguntaram. Eu disse: "É que a gente teve um probleminha num jogo,
precisamos entrar aí para fazer uma súmula", e só assim eles
abriram. Começamos a escrever a súmula da partida uma e meia da
manhã e terminamos quase às 5 horas, com o dia já amanhecendo.
Foi o jogo mais longo de toda a minha carreira – mas
eu viveria tudo de novo.
Saiba mais sobre Braghetto
Crédito: Arquivo pessoal |
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Rodrigo Braghetto atuando pela sua
empresa Apto Eventos Esportivos em partida amistosa na Arena
Itaquerão |
Rodrigo Braghetto nasceu no dia 30 de junho de 1975
(45 anos). Foi árbitro da FPF (Federação Paulista de Futebol) de
1997 a 2013 e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) de 1999 a
2013. Porém, a carreira foi interrompida após um escândalo que o
afastou de uma final do Campeonato Paulista 2013. Braghetto é
proprietário de uma empresa - APTO -Assessoria e Eventos Esportivos
- que fornece árbitros para torneios internos em clubes, tendo
clientes como Corinthians, São Paulo, Santos, entre outros.
A suspensão da decisão do estadual de 2013 motivou o
fim da carreira do árbitro, que viu o caminho aberto para se dedicar
de uma vez ao futebol, mas atuando na área da gestão.
Antes do apito atuou em empresas como Mc Donald's do
Brasil e Banco Itaú S/A onde chegou a ser gerente. É formado em
educação física e pós graduando em Futebol e Futsal e Ciências do
Esporte.
Fonte:
pelejamedia.com