No final de abril, a Confederação
Brasileira de Futebol (CBF) demitiu dez integrantes da Comissão
Nacional de Arbitragem. Saíram José Roberto Wright (projetos);
Manoel Serapião Filho (responsável pela análise da arbitragem e
VAR), coronel Marinho (ouvidor), Cláudio Cerdeira, José Mocellin,
Nilson Monção (membros), Almir Alves de Mello (responsável por
cortes de vídeo do VAR), Marta Magalhães (psicóloga) e Érika Krauss
(secretaria da escola de arbitragem). Além deles também foi
dispensado Sérgio Corrêa que permaneceu por17 anos na entidade.
Amado por alguns, odiado por outros, Sérgio criou e foi o principal
responsável pela estrutura de arbitragem atual da CBF, entre elas o
VAR.
O anuncio das demissões foi feita
por Wilson Seneme, atual Presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da
CBF, indicado por Sérgio para o cargo. Antes, quando era
chefe da CNA, Sérgio indicou Seneme para realizar curso FIFA, item
necessário para que o mesmo chegasse a ao Comitê de Arbitragem da
Conmebol, cargo que o ex-FIFA ocupou durante cinco anos e meio -
agosto de 2016 a abril de 2022 - também por indicação de Corrêa.
O desligamento sumario ocorreu em
reunião entre Seneme e todos os demitidos onde foram informados que
nada receberiam além do pagamento dos 25 dias trabalhados no mês e
que seriam excluídos imediatamente do plano de saúde. Desde a demissão dos membros
passaram-se quatro meses e até o presente momento, segundo
informações, a CBF não quitou as rescisões com os profissionais e
sequer teve qualquer contato no sentido de um possível acordo.
Obs. Enquanto isso, mesmo
banido do futebol pela FIFA, Marco Polo Del Nero, ex-presidente da
CBF, teve plano de saúde pago por três anos. Os também
ex-presidentes José Maria Marin e Ricardo Teixeira também tiveram o
beneficio garantido quando já não ocupavam mais cargos na entidade.
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Ednaldo Rodrigues tem quebrado todos os
acordos desde que assumiu a CBF - Crédito: CBF |
Devido a este comportamento e após
várias tentativas de receber direitos trabalhista, pelo menos três,
dos dez dispensados, ingressaram com ações no Tribunal Regional do
Trabalho do Rio de Janeiro cobrando a entidade os valores pendentes.
Procuraram a justiça o ex-árbitro Cláudio Vinícius Cerdeira, o
analista Almir Alves Mello e o militar Nilson de Souza Monção. O
também ex-arbitro José Roberto Ramiz Wright deve ser o próximo a
ingressar com o mesmo tipo de ação na justiça.
Em off, alguns dos demitidos, exceto
Sérgio Corrêa, disseram estar em fase de estudos para também entrarem
com ação cobrando seus direitos. Outros, mesmo que não estejam sendo
escalados, ainda sonham e esperam trabalhar para a CBF ou alguma
afiliada, por isso relutam em buscar seus direitos na justiça.
Em comum, todas as reclamações
trabalhistas pedem o reconhecimento da relação de emprego com a CBF.
Cerdeira, por exemplo, disse a pessoas próximas ter direito a pelo
menos 800 mil reais. Juntando as três ações, os valores podem
ultrapassar a casa dos dois milhões de reais.
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Almir Alves Mello - na justiça contra a
CBF - Foto crédito: Marçal |
Pelo que se sabe, até o presente
momento, Sergio Corrêa não procurou a justiça. Mas segundo um
advogado trabalhista, levando se em consideração os 17 anos de
serviços por ele prestados à CBF, facilmente comprovado e sem
qualquer vínculo trabalhista como carteira CLT assinada, contrato de
trabalho ou algo parecido, uma possível ação pode render uma indenização de, no
mínimo 5 milhões de reais.
Procurado para falar suas
intenções sobre o assunto, Sergio Corrêa não respondeu até o
fechamento desta matéria.
O
Aptonacional procurou também Cláudio Cerdeira, Almir
Alves e Nilson Monção, mas não recebeu qualquer retorno até o
fechamento desta matéria que será atualizada caso isto aconteça.
Sem direitos
trabalhistas
Segundo apurado com uma fonte na
CNA, os membros da arbitragem, incluindo os demitidos, convidados a
trabalharem para a CBF, muitos deles oriundos de outros estados,
como Alicio Pena Junior (MG), Erica Klauss (SC), Wilson Seneme,
Roberto Perassi e Regildenia Moura (SP) entre outros, são obrigados
a residirem no Rio de Janeiro, onde cumprem carga horária das 10h às
19hs, devidamente comprovadas através de acesso digital. O turno de
trabalho muitas vezes ultrapassa o horário devido plantão no Centro
de excelência da Arbitragem dando suporte e monitorando as partidas,
especialmente em fim de semana e sem qualquer recebimento de hora
extra.
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Cláudio Cerdeira e Nilson Monção unidos
contra CBF na Justiça |
Segundo informações, todos os
funcionários, agregados e prestadores de serviços da CBF, recebem 16
salários anual, exceto os da arbitragem que, alem de plano de saúde,
não tem qualquer vinculo empregatício ou direitos trabalhistas
repassados pela entidade e ainda são obrigados a arcarem com
despesas do próprio bolso como moradia e transporte.
Segundo ainda as informações,
estes profissionais que prestaram serviços à CBF sem qualquer
vinculo empregaticio, não receberam qualquer aumento salarial
durante o tempo trabalhado, o que varia de três a cinco anos pelos quais forneciam recibos simples no recebimento dos
seus contracheques.
Atualizado
16/08/2022 às 15:40h
Após a divulgação da matéria,
Salmo Valentim, Presidente da Associação Nacional dos Árbitros de
Futebol (ANAF), informou que a entidade que preside, denunciou a
demissão arbitraria dos membros da CNA, ao promotor Rafael Salgado,
no dia 19 de julho, ocasião em que teve audiência com o mesmo na
sede do MPT, no Rio de Janeiro.
Salmo disse ainda que a ANAF
estará protocolando em breve, ação na justiça do trabalho para que a
CBF cumpra a legislação trabalhista para que os árbitros, membros e
ex-membros do quadro CBF não sejam lesados em seus direitos.
Por fim, o dirigente disse que o
não cumprimento da CLT pela CBF na contratação dos funcionários da
arbitragem, um deles por 17 anos, pode ter lesado o erário publico
federal em pelo menos cinco milhões de reais com o não pagamento
neste periodo de INSS e outros tributos sociais.