07/03/2016    12:38hs

FIFA aprova testes para árbitro de vídeo

Caso seja adotada, medida promoverá maior impacto nas regras da modalidade em mais de cem anos

 

A FIFA e a International Football Association Board (IFAB), órgão que regulamenta as regras do futebol, deram no ultimo sábado (05/03) sinal verde para testar o uso de imagens de vídeo para auxiliar árbitros em partidas. A decisão é histórica para o futebol e, caso seja adotada, promoverá o maior impacto nas regras da modalidade em mais de cem anos.

Publicidade

 

A entrada do uso de imagens de vídeo no futebol foi a principal questão discutida no 130º encontro anual da IFAB, em Cardiff, no País de Gales. As avaliações começarão nos próximos meses e devem ser realizadas por, no mínimo, dois anos. Em um primeiro momento, não serão realizadas em jogos oficiais.

"Tomamos uma decisão realmente histórica para o futebol", disse o recém-eleito presidente da FIFA, Gianni Infantino, em Cardiff.

"Mostramos que estamos ouvindo o apelo de fãs, jogadores e do futebol em si. Estamos aplicando o senso comum. É claro que temos que ser cautelosos, mas também estamos abertos a tomar medidas concretas." – frisou Infantino.

A IFAB autorizou testes nos quais os árbitros poderão recorrer ao auxílio eletrônico em quatro momentos determinantes numa partida – gols, cartões vermelhos, penalidades e identificação de um jogador. O procedimento envolverá um assistente de vídeo, que poderá ou revisar a jogada a pedido do árbitro ou avisá-lo sobre algum lance que tenha passado despercebido. A IFAB rejeitou a idéia de permitir que os treinadores possam pedir a revisão de certas cenas, como é habitual no futebol americano (NFL).

Outras mudanças

Além do uso de imagens de vídeo, o encontro em Cardiff também discutiu outras mudanças nas regras do futebol. Entre elas, que a bola não precisará mais ser tocada para frente no apito inicial; que um jogador lesionado após uma falta de cartão amarelo ou vermelho não precisará mais deixar o campo para ser atendido, já que esta medida teoricamente dá vantagem numérica ao time adversário.

O órgão também admitiu que a chamada "punição tripla", quando um jogador é expulso por cometer um pênalti, poderá ser revista. A IFAB ainda considera permitir uma quarta substituição em partidas que forem à prorrogação.

Acelerar o processo

Entidade máxima do futebol deseja fazer testes apenas em 2017, mas presidente da Comissão de Arbitragem, Sérgio Corrêa, está disposto ''a acelerar esse processo''. O limite dado peça entidade internacional para o início dos testes foi agosto de 2017, mas a CBF não quer perder tempo e pretende aplicar tudo um ano antes.

"Serão necessários cinco meses, a partir de agora, de pré-testes e de treinamento dos técnicos e assistentes. Acreditamos que poderemos usar ainda este ano, no segundo semestre", declarou Sérgio Corrêa, chefe do departamento de arbitragem da CBF.

Sérgio Corrêa, aguarda o documento da International Board (IFAB) com o cronograma oficial elaborado. No entanto, diz que a CBF já está preparada para a implementação neste ano.

"Nos reunimos em Londres, pedimos para tentar iniciar os testes em maio, mas entenderam que não seria possível. Pelo que nos foi passado após essa reunião, a IFAB quer fazer uma ampla divulgação, trabalhar com calma, treinar os instrutores e árbitros, explicar para os clubes e torcida. Mas estamos dispostos a acelerar esse processo e tentar para agosto. Pelo que foi divulgado, a intenção da FIFA é fazer os testes somente a partir do ano que vem. Temos que aguardar o documento da FIFA com as orientações” – declarou Sérgio.

Da esquerda para a direita: Manoel Serapião, autor do projeto "Árbitro de vídeo", Lukas Brud e David Elleray, da International Board, e Sérgio Corrêa, em reunião em Londres no último dia 23 de fevereiro (Foto: CBF)

Segundo Corrêa, o projeto idealizado pela FIFA, chamado de Vídeo Assistant Referees (Árbitro assistente de vídeo, em português), é inspirado no “Árbitro de vídeo”, proposta criada pelo ex-árbitro Manoel Serapião Filho. A entidade máxima do futebol apenas acrescentou alguns detalhes e estipulou mais regras. O primeiro pedido da CBF à International Board para o uso de vídeo na arbitragem ocorreu em setembro do ano passado, mas a IFAB vetou. Após o veto, o secretário-geral da instituição, Lukas Brud, disse, em entrevista que levaria o projeto para votação.

Custos

A CBF já levantou custos, fez estudos com empresas de tecnologia de imagens que trabalham em outros esportes e estimou que precisa de um orçamento entre R$ 12 milhões e R$ 15 milhões para implantação da estrutura técnica em todos estádios da Série A, com até oito câmeras específicas exclusivas para o árbitro de vídeo. Entre os próximos dias 15 e 17 de março, a Comissão de Arbitragem, já com o cronograma da FIFA em mãos, reunirá os árbitros e assistentes e dará detalhes sobre seus planos.

"Já estamos com tudo engatilhado. Se fosse liberado para maio, teríamos que acelerar o processo, mas já estamos preparados. Temos que escolher um grupo de árbitros e grupo de assistentes, ter um treinamento específico e escolher bem quais serão essas pessoas que atuarão como árbitro de vídeo. Temos reunião já agendada de 15 a 17 no Rio para preparar toda essa situação técnica. A própria CBF já procurou várias empresas, fizemos reuniões informais para tratar do assunto da geração de imagens. Vamos fazer em todos os estádios" -  informou o presidente da CA-CBF,

Detalhes do projeto

O recurso do vídeo será permitido somente em quatro ocasiões: para determinar se um gol foi marcado, em casos de expulsão, marcações de pênalti e para identificar um determinado jogador, caso haja suspeita de punição equivocada a um atleta. A tecnologia não servirá para lances de impedimento, a menos que seja uma clara situação de gol. Segundo Corrêa, técnicos, jogadores ou qualquer membro de comissão técnica não poderão requisitar a revisão de um lance. A decisão partirá apenas do árbitro principal.

"Em campo, ninguém pode fazer indagação ao árbitro. Somente o árbitro central pode pedir revisão. Nenhum jogador, nem treinador, ninguém pode pedir o uso de vídeo. Os assistentes podem recomendar ao árbitro, mas também não podem pedir. Outra coisa que foi bem colocada pela IFAB e pela FIFA é que o assistente técnico e o árbitro de vídeo não poderiam receber o áudio das imagens. O árbitro de vídeo teria, em tese, o mesmo olhar do juiz principal, mas com vantagem do corte" – avaliou Sérgio.

O experimento será feito da seguinte forma: haverá um assistente com acesso aos vídeos e, caso o árbitro o chame em lances duvidosos, ele vai parar para assistir aos replays. Ele terá poder também de chamar o juiz, caso o mesmo não tenha observado alguma determinada infração. Os órgãos responsáveis ainda vão escolher uma universidade para conduzir o experimento. Sérgio Corrêa ressaltou que as imagens usadas para a análise dos lances não serão as mesmas das transmissões dos jogos. Serão retiradas de câmeras próprias da CBF.

A preocupação da FIFA e das demais entidades que administram o futebol é não alongar ainda mais o tempo das partidas. A CBF ainda estuda como fará a escala e a remuneração dos árbitros de vídeo. Mas prevê menos reclamações.

Como é em outros esportes

O recurso do vídeo já é usado há muito tempo em outros esportes. Na NBA, os árbitros são aconselhados a revisar em vídeo lances duvidosos, sobretudo quando o relógio está zerando. Desde 2006, o tênis recorre ao recurso do vídeo para ajudar a esclarecer dúvidas em lances polêmicos. O sistema é o de desafio. Quando o jogador discorda da marcação do árbitro, ele pode pedir a revisão da jogada no vídeo.

O próprio árbitro principal também pode solicitar o auxílio do vídeo quando ficar com dúvida. O vôlei se inspirou no tênis para, a partir de 2012, gradativamente implementar o uso do Hawk-Eye (olho de águia). Cada equipe pode desafiar pelo menos duas vezes por set a decisão da arbitragem.

 

 

A NFL (National Football League, liga de futebol americano) é uma das mais antigas a adotar o uso do vídeo para tirar dúvidas. O primeiro teste foi realizado em um jogo isolado em 1976, quando os organizadores do campeonato começaram a estudar o tempo que a revisão de jogadas poderia levar. O sistema utilizado é o de desafio. Pelas regras atuais, cada time tem direito a dois por jogo, que devem ser feitos pelo técnico, que atira uma toalha vermelha no campo. Em 2012, a Federação Internacional de Judô implementou o uso de vídeos. Em vez de três árbitros no tatame, passou a ter apenas um, com outros dois analisando a luta em um monitor.

Apitonacional, compromisso só com a verdade!

Copyright © 2009 -     www.apitonacional.com.br ® Todos os direitos reservados

Publicidade