Mesmo na
Várzea, ex-árbitro CBF não leva desaforo para casa
Aposentado
dos jogos oficiais, o carioca Luis Antonio Silva Santos
(Índio), virou instrutor da Ferj, mas não abandonou os
gramados e segue tentando manter a ordem na várzea
Luis Antonio (Índio) - 29 anos de
carreira e muitas conquistas para comemorar - Crédito:
Gazeta Pess
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Luiz Antônio Silva Santos sempre
foi um árbitro de personalidade muito forte. Figurinha carimbada no
futebol carioca, ele ficou ainda mais conhecido do grande publico
após simular uma agressão do centroavante Luis Fabiano em um
Flamengo x Vasco. Após se aposentar no ano passado, Índio, como o
árbitro é conhecido, virou instrutor da Ferj (Federação de Futebol
do Estado do Rio de Janeiro), mas não abandonou os gramados: segue
mantendo a ordem na várzea.
Na semana passada, no entanto, ele
foi vitima de uma agressão na final do Copa AP 2021, o maior
campeonato de favelas. Após a decisão entre Bloco Velho, da Cidade
de Deus, e Galáticos, do Vidigal, Índio foi atingido por um soco no
rosto assim que encerrou a partida e declarou o time do morro da
zona sul campeão dentro da casa do adversário. Revoltado, o árbitro
partiu para cima, mas foi contido pelos demais jogadores.
Veja
vídeo da agressão abaixo.
O agressor é André Luiz, goleiro
do Bloco Velho, que ficou revoltado com a atuação do árbitro. Índio
não se intimidou por estar na várzea e manteve a mesma postura que o
deixou conhecido pelo grande publico. Expulsou jogadores, membros de
comissão técnica e tentou controlar a partida que contou com ânimos
exaltados desde o inicio - alem da rivalidade valia uma premiação de
R$ 15 mil.
"Ele tentou me dar um soco, que até pegou, mas de raspão. Um ato
covarde, pois estava conversando com outros jogadores. Ele veio por
trás deles e deu. Um cara covarde, sem princípios e sem moral. Ali
eu não sou apenas um árbitro, mas um pai de família, cidadão. E ai,
meu amigo, é a lei da vida. Os amigos deles me tiraram de perto
porque ele não teve a hombridade de vir resolver a situação. Sendo
um torneiro amador falei que tinha preocupações de estar ali desde
as primeiras conversas. A organização era responsável por tudo. A
primeira questão era com minha segurança. Sabemos que tudo pode
acontecer, como de fato aconteceu" - disse Índio a reportagem.
"Procurei os organizadores e pedi para que as medidas cabíveis
fossem tomadas. Isso não pode ficar assim, sem nenhuma conseqüência.
Precisa ser mandado um recado para que esse tipo de coisa não volte
a acontecer. Isso deve parar de alguma forma. O retorno que tive é
que ele seria punido conforme o regulamento da competição que diz
ser muito severo. Assim espero que aconteça. Mover algum processo
contra ele? Não sei, ainda estou pensando. Não sei a que ponto vai
chegar isso... Ficaria feliz que ele fosse penalizado com uma
questão social para que fique claro o tamanho do erro dele" -
acrescentou.
Crédito: Edu Andrade/Fatopress/Estadão
Índio ficou ainda mais conhecido após
simular agressão de Luís Fabiano em 2017 pelo Carioca
Procurado pela reportagem, Gugu,
diretor do Bloco Velho e organizador do evento, não respondeu o
contato. André Luiz, por sua vez, tornou sua conta no Instagram
privada após a agressão a Índio. Após a matéria ser publicada, a
Copa AP emitiu uma nota oficial comunicando que o agressor foi
banido das futuras competições.
Veja nota:
COPA AP 2021 gostaria de emitir um comunicado referente ao episódio
ocorrido em nossa competição na grande Final, onde na partida
realizada entre as equipes "Bloco Velho x Galáticos do Vidigal" o
goleiro da equipe Bloco Velho André, agrediu o árbitro da partida,
Sr. Luis Antonio, mais conhecido como Índio.
Gostaria de ressaltar, que nós da organização, assim como todas as
equipes e atletas, NÃO APOIAMOS este tipo de atitude, e todas as
providencias foram tomadas o agressor está eliminado de TODAS AS
COMPETIÇÕES organizadas por nossas ligas filiadas.
Estimamos as melhoras ao Luis Antonio e estamos oferecendo todas as
assistência necessárias ao árbitro.
Agradecemos pelo apoio de todos.
Obrigado.
Copa AP 2021
"A disciplina é tudo"
A coragem de Índio de enfrentar os
jogadores é algo que o deixou bem marcado. Ele nunca amarelou quando
era desafiado por atletas renomados. Segundo o árbitro, isso faz
parte da sua personalidade e foi o que o fez crescer dentro da
profissão.
"Minha personalidade e
vontade de fazer o certo faziam com que eu tivesse
confrontos com aqueles que se achavam acima da regra ou do
juiz do jogo. É o meu perfil, a disciplina é tudo. = Todos
tem obrigações e regras a cumprir. O árbitro está ali para
fazer tudo isso ser cumprido e deve ser respeitado" -
afirmou.
"Eu tenho evitado
[apitar] porque sei que tudo gera muita repercussão quando
se fala do Índio, né? Não é ser esnobe, mas sei da minha
carreira. A quem muito é dado, muito é cobrado. A coragem
que tinha para apitar um Vasco x Flamengo, eu tenho que ter
em qualquer lugar. Eu faço o que tenho que fazer e se não
gostarem vai dar
Índio - Crédito: Pedro Martins/AGIF
problema, seja o que
Deus quiser, amigo. Quem morre de véspera é o peru no Natal.
No futebol você precisa se impor para ser respeitado" -
completou.
Instrutor e técnico de árbitros
Após pendurar o apito, Índio segue
na arbitragem. Ele fez um curso a convite da federação do Rio e
virou instrutor na formação de novos árbitros. Alem disso, ele
também vai para os jogos como técnico dos árbitros. No momento da
parada técnica, eles se reúnem no gramado e conversam sobre o rumo
da partida.
"Ano passado foi meu ultimo
ano, quando completei 50 anos. Poderia ir um pouquinho mais e até
queria, mas a comissão e a federação entenderam que estava na hora
de parar. Até iniciei o Carioca, mas com essa confusão toda de
pandemia finalizei ano passado mesmo. Agora já faço parte do grupo
de instrutores que buscam preparar novos árbitros com palestras,
formação tática, condicionamento físico, que é a minha área [é
formado em educação física]" - disse.
"E nos jogos também sou técnico
de arbitragem, algo criado aqui no Rio. [Você] Acompanha o árbitro
durante o jogo, e na parada técnica, você tem dois minutinhos com
eles e pode pontuar algumas observações, mas sem interferir nas
decisões dele. Tentar ajudar com o que estamos vendo no momento"
- finalizou.
As informações são de Bernardo Gentile - do UOL,
no Rio de Janeiro