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    São Paulo - 01/05/2021    22:51hs

Mesmo na Várzea, ex-árbitro CBF não leva desaforo para casa

Aposentado dos jogos oficiais, o carioca Luis Antonio Silva Santos (Índio), virou instrutor da Ferj, mas não abandonou os gramados e segue tentando manter a ordem na várzea

Luis Antonio (Índio) - 29 anos de carreira e muitas conquistas para comemorar - Crédito: Gazeta Pess
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Luiz Antônio Silva Santos sempre foi um árbitro de personalidade muito forte. Figurinha carimbada no futebol carioca, ele ficou ainda mais conhecido do grande publico após simular uma agressão do centroavante Luis Fabiano em um Flamengo x Vasco. Após se aposentar no ano passado, Índio, como o árbitro é conhecido, virou instrutor da Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), mas não abandonou os gramados: segue mantendo a ordem na várzea.

Na semana passada, no entanto, ele foi vitima de uma agressão na final do Copa AP 2021, o maior campeonato de favelas. Após a decisão entre Bloco Velho, da Cidade de Deus, e Galáticos, do Vidigal, Índio foi atingido por um soco no rosto assim que encerrou a partida e declarou o time do morro da zona sul campeão dentro da casa do adversário. Revoltado, o árbitro partiu para cima, mas foi contido pelos demais jogadores.

Veja vídeo da agressão abaixo.

 

O agressor é André Luiz, goleiro do Bloco Velho, que ficou revoltado com a atuação do árbitro. Índio não se intimidou por estar na várzea e manteve a mesma postura que o deixou conhecido pelo grande publico. Expulsou jogadores, membros de comissão técnica e tentou controlar a partida que contou com ânimos exaltados desde o inicio - alem da rivalidade valia uma premiação de R$ 15 mil.

"Ele tentou me dar um soco, que até pegou, mas de raspão. Um ato covarde, pois estava conversando com outros jogadores. Ele veio por trás deles e deu. Um cara covarde, sem princípios e sem moral. Ali eu não sou apenas um árbitro, mas um pai de família, cidadão. E ai, meu amigo, é a lei da vida. Os amigos deles me tiraram de perto porque ele não teve a hombridade de vir resolver a situação. Sendo um torneiro amador falei que tinha preocupações de estar ali desde as primeiras conversas. A organização era responsável por tudo. A primeira questão era com minha segurança. Sabemos que tudo pode acontecer, como de fato aconteceu" - disse Índio a reportagem.

"Procurei os organizadores e pedi para que as medidas cabíveis fossem tomadas. Isso não pode ficar assim, sem nenhuma conseqüência. Precisa ser mandado um recado para que esse tipo de coisa não volte a acontecer. Isso deve parar de alguma forma. O retorno que tive é que ele seria punido conforme o regulamento da competição que diz ser muito severo. Assim espero que aconteça. Mover algum processo contra ele? Não sei, ainda estou pensando. Não sei a que ponto vai chegar isso... Ficaria feliz que ele fosse penalizado com uma questão social para que fique claro o tamanho do erro dele" - acrescentou.

Crédito: Edu Andrade/Fatopress/Estadão

Índio ficou ainda mais conhecido após simular agressão de Luís Fabiano em 2017 pelo Carioca

Procurado pela reportagem, Gugu, diretor do Bloco Velho e organizador do evento, não respondeu o contato. André Luiz, por sua vez, tornou sua conta no Instagram privada após a agressão a Índio. Após a matéria ser publicada, a Copa AP emitiu uma nota oficial comunicando que o agressor foi banido das futuras competições.

Veja nota:

COPA AP 2021 gostaria de emitir um comunicado referente ao episódio ocorrido em nossa competição na grande Final, onde na partida realizada entre as equipes "Bloco Velho x Galáticos do Vidigal" o goleiro da equipe Bloco Velho André, agrediu o árbitro da partida, Sr. Luis Antonio, mais conhecido como Índio.

Gostaria de ressaltar, que nós da organização, assim como todas as equipes e atletas, NÃO APOIAMOS este tipo de atitude, e todas as providencias foram tomadas o agressor está eliminado de TODAS AS COMPETIÇÕES organizadas por nossas ligas filiadas.

Estimamos as melhoras ao Luis Antonio e estamos oferecendo todas as assistência necessárias ao árbitro.

Agradecemos pelo apoio de todos.

Obrigado.

Copa AP 2021

"A disciplina é tudo"

A coragem de Índio de enfrentar os jogadores é algo que o deixou bem marcado. Ele nunca amarelou quando era desafiado por atletas renomados. Segundo o árbitro, isso faz parte da sua personalidade e foi o que o fez crescer dentro da profissão.

 

"Minha personalidade e vontade de fazer o certo faziam com que eu tivesse confrontos com aqueles que se achavam acima da regra ou do juiz do jogo. É o meu perfil, a disciplina é tudo. = Todos tem obrigações e regras a cumprir. O árbitro está ali para fazer tudo isso ser cumprido e deve ser respeitado" - afirmou.

"Eu tenho evitado [apitar] porque sei que tudo gera muita repercussão quando se fala do Índio, né? Não é ser esnobe, mas sei da minha carreira. A quem muito é dado, muito é cobrado. A coragem que tinha para apitar um Vasco x Flamengo, eu tenho que ter em qualquer lugar. Eu faço o que tenho que fazer e se não gostarem vai dar

Índio - Crédito: Pedro Martins/AGIF

problema, seja o que Deus quiser, amigo. Quem morre de véspera é o peru no Natal. No futebol você precisa se impor para ser respeitado" - completou.

Instrutor e técnico de árbitros

Após pendurar o apito, Índio segue na arbitragem. Ele fez um curso a convite da federação do Rio e virou instrutor na formação de novos árbitros. Alem disso, ele também vai para os jogos como técnico dos árbitros. No momento da parada técnica, eles se reúnem no gramado e conversam sobre o rumo da partida.

"Ano passado foi meu ultimo ano, quando completei 50 anos. Poderia ir um pouquinho mais e até queria, mas a comissão e a federação entenderam que estava na hora de parar. Até iniciei o Carioca, mas com essa confusão toda de pandemia finalizei ano passado mesmo. Agora já faço parte do grupo de instrutores que buscam preparar novos árbitros com palestras, formação tática, condicionamento físico, que é a minha área [é formado em educação física]" - disse.

"E nos jogos também sou técnico de arbitragem, algo criado aqui no Rio. [Você] Acompanha o árbitro durante o jogo, e na parada técnica, você tem dois minutinhos com eles e pode pontuar algumas observações, mas sem interferir nas decisões dele. Tentar ajudar com o que estamos vendo no momento" - finalizou.

As informações são de Bernardo Gentile - do UOL, no Rio de Janeiro

 

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