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    São Paulo - 00/03/2021    00:00hs

"Pantera Cor-de-Rosa": famoso juiz dos anos 80 morreu esquecido com HIV

As extravagâncias levaram a comissão de arbitragem exigir exame de sanidade mental: "Agora, sou o único juiz que tem atestado mental" - se gabava Morgado

Crédito: Que fim levou/3º tempo

Da esquerda, Dirceu Fernandes (comissão), Alberto Ferreira, Roberto Nunes Morgado, Adriano Tito Correa e Leonerte dos Santos

O árbitro Roberto Nunes Morgado marcou época no futebol brasileiro dos anos 80. Parecia um personagem tirado da ficção. O bom nível técnico de sua arbitragem era, às vezes, ofuscado por certas decisões controversas, como a de expulsar quatro jogadores do Palmeiras no mesmo jogo em 1987 ou dar cartão vermelho para soldados da Polícia Militar que patrulhavam um Ferroviário x Vasco em 1983.

As extravagâncias levaram a comissão de arbitragem da Federação Paulista a exigir um exame de sanidade mental ao juiz, que costumava se gabar: "Agora, sou o único juiz da praça que tem atestado de sanidade mental." As pernas esguias e o estilo um tanto espalhafatoso fizeram Morgado ser conhecido como a "Pantera de Cor-de-Rosa".

Bissexual assumido e praticante de religião de matriz africana, ostentava um vasto bigode que cobria parcialmente os lábios. Costumava frequentar a Boca do Lixo, tradicional ponto de produção de cinema, farra e prostituição do centro de São Paulo, onde andava liderando um séquito de amigos.

 

"Todo mundo abandonou o Morgado quando ele adoeceu", lembra Luciano, que tinha 8 anos quando o pai morreu em um leito do hospital Emílio Ribas em São Paulo em 1989. Um ano antes, o árbitro tinha descoberto que havia contraído o HIV, vírus que nos anos 80 era considerado mortal.

"Ele tinha muitos amigos, pagava a conta de todo mundo nas baladas, mas quando descobriu que tava com a doença, todos se afastaram", conta o filho. Luciano recebeu o sobrenome do árbitro quando Morgado se casou com Lígia, mãe biológica de Luciano, que hoje trabalha vendendo lanches na zona leste da capital. O casal também teve uma filha mais nova, Viviane.

Morgado na capa da Placar de novembro de 1984 Imagem: Reprodução

"Quando ele era vivo, a Federação ajudava a nossa família, mas depois que ele morreu, minha mãe casou de novo e a ajuda foi encerrada. Passamos muita dificuldade", conta o filho do juiz. Morgado tinha dificuldade para manter seu dinheiro consigo. Segundo a imprensa da época, costumava proferir uma frase clássica que servia de chamariz para os amigos se juntarem: "Eu assino o cheque porque a letra mais bonita daqui é minha."

O descontrole financeiro levou alguns de seus amigos mais próximos a administrar os rendimentos de Morgado. Segundo o filho Luciano, era José Astolphi, presidente da comissão de árbitros paulista, quem cuidava do dinheiro do pai. O único bem que Morgado, aspirante ao quadro da Fifa, conseguiu adquirir foi um apartamento na Praia Grande, litoral paulista.

Seus últimos dias foram vividos praticamente sozinho no hospital, de acordo com uma reportagem intitulada "O drama de um aidético" da Revista Placar, de dezembro de 1988. Morreu meses depois. Embora tenha sido usado na reportagem, atualmente, o termo aidético é uma forma pejorativa de tratar pessoas que vivem com HIV, tornando-as sinônimas da doença.

Reportagem da Placar de dezembro de 1988 sobre o árbitro Roberto Nunes Morgado Imagem: Reprodução

"O Morgado é um juiz que em várias oportunidades demonstrou um desequilíbrio psicológico muito grande", afirmava Galvão Bueno, narrador de São Paulo 3 x 1 Palmeiras, a segunda semifinal do Paulista de 1987.

"Ele se mostra excessivamente nervoso, gesticula demais, faz muita confusão no jogo, às vezes irrita o jogador. Eu vi uma vez o Morgado apitar o jogo fora de campo, que nem um maluco. E mostrou cartão vermelho pra polícia, pra gandula, ficou com o cartão na mão correndo fora de campo." A expulsão de quatro palmeirenses e a confusão que se armou no final da partida decretaram o fim da carreira do árbitro.

A personalidade excêntrica do juiz, sempre enfatizada pela crônica esportiva dos anos 80, contrastava com seu lado doce e apegado à família, segundo o filho Luciano. Um momento desses ficou registrado nas páginas da "Placar".

Em 1979, o juiz, aos 33 anos, posou ao lado da mãe, Nair, com um uniforme preto engomado por ela. Os pais, imigrantes portugueses de origem pobre, eram sustentados pelo dinheiro que o filho fazia no futebol e nos outros empregos que teve.

As informações são de Adriano Wilkson - UOL - São Paulo

 

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