O torcedor brasileiro se acostumou
a encarar o comentário de um ex-árbitro durante as transmissões dos
jogos como verdade absoluta. A cada lance polêmico constatamos isso
nas redes sociais.
Imediatamente são feitas postagens
como: "o comentarista tal falou que foi pênalti, então quem fala que
não foi está errado".
É diferente da maneira como
lidamos com o comentário do analista tático. O que esse fala ouvimos
como opinião, não como a versão a ser seguida.
O peso dado pelo torcedor à
palavra do comentarista de arbitragem fez com que cada vez mais
ex-juízes fossem contratados para a função.
Quanto mais vagas a serem
ocupadas, mais difícil é encontrar profissionais competentes para
elas. Ainda mais num país em que o nível do árbitros é muito baixo.
Outro dia, li um comentário do
jornalista Mauro Cezar, também colunista do UOL, dizendo que
árbitros que erraram muito em campo agora erram muito comentando.
Ele foi preciso. Puxe pela memória
quantas vezes você se irritou com a atuação de um árbitro que hoje é
comentarista?
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A cada rodada do Brasileirão isso
fica mais evidente. São muitas as vezes em que eles cravam, até com
certa arrogância, o que aconteceu no lance e mudam de opinião depois
que é anunciada a decisão final em outra direção.
Errar todo mundo erra, em todas as
atividades. Não há nada de errado em mudar de opinião,
principalmente se for por conta de uma nova imagem do lance. O
problema é cravar com tanta segurança como se a análise não
dependesse do ângulo de visão ou de outros fatores. A cravada dá uma
seção para o torcedor de que o lance está resolvido.
Bastaria um discurso mais humilde,
com ressalvas como "na minha opinião", "com essas imagens".
É verdade que também são feitos
comentários dessa forma, mas a prepotência que muitos tinham em
campo foi levada para os comentários e atrapalha a já conturbada
arbitragem brasileira, vítima da falta de profissionalização.
Por tudo isso precisamos dar outro
peso ao comentário de ex-árbitros. É só opinião, não é a última
instância para decidir um lance.
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Sobre o autor
Ricardo Perrone é formado em
jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do
Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos
jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como
repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André.
De 1993 a 1997, foi repórter da
Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte
do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de
S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna
Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores
da Revista Placar.
As informações são do Blog do Perrone/Uol