As últimas decisões polêmicas de
arbitragem nos jogos das oitavas de final da Copa Libertadores-2021
não frearam a determinação da Conmebol de seguir usando o assistente
de vídeo, mais conhecido como 'VAR', para dar transparência ao
futebol, afirmaram dirigentes da Comissão de Arbitragem da entidade
em entrevista à AFP.
"O VAR não vai deixar o
futebol. Veio para ficar e nós é que temos que nos adaptar
melhorando cada vez mais esta ferramenta" - declarou o
presidente da Comissão de Arbitragem da Conmebol, o brasileiro
Wilson Seneme.
"Os árbitros sempre são
humanos. Sempre vão cometer erros e acertos. Isso é inevitável. O
mais importante é que vamos elevar o número de acertos. Um erro
grave que as pessoas cometem é pensar que não haverá erros de
arbitragem em jogos com o VAR. Haverá erros. No fim, o futebol é um
esporte de interpretação. Então, por mais que as câmeras e o VAR
mostrem as imagens aos árbitros no campo, o que acaba valendo é a
interpretação do próprio árbitro. O VAR não muda a decisão final.
Sempre vai passar pelo árbitro" - analisou o chefe dos árbitros
da Conmebol.
Seneme revelou que a Copa
Sul-Americana-2021 teve uma efetividade do VAR de 100% e, na recente
Copa América disputada no Brasil, a intervenção da tecnologia foi
menor em relação à Eurocopa.
"Na Copa Sul-Americana houve
100% de precisão até agora. Na Libertadores foi de 72% e na Copa
América de 97,4% de acertos" - ressaltou.
Seneme, ao lado do argentino
Rodolfo Otero, membro da comissão e coordenador técnico de
arbitragem, e o chileno Carlos Astroza, gerente técnico de
arbitragem, responderam aos principais questionamentos feitos por
técnicos, jogadores, especialistas e torcedores sobre o papel do
"intruso" tecnológico que se instalou no futebol há quatro anos.
– As decisões da arbitragem já
começaram a gerar indisciplina e violência, como aconteceu na
partida Atlético Mineiro x Boca Juniors, em Belo Horizonte.
Seneme: "As regras do jogo
estipulam que o árbitro tem sua função até o jogador sair de campo.
O que acontece nos vestiários não passa pela Comissão de Arbitragem.
Isso passa exclusivamente pelo órgão disciplinar".
- Como são aplicadas punições por
negligência?
"Quando analisamos que existem
erros que fazem parte de uma tomada de decisão errônea, o árbitro é
avisado. Informamos a todos os árbitros qual teria sido a decisão
correta a tomar. O que buscamos, mais além da punição, é buscar
entender o motivo do erro ter sido cometido."
- Nenhuma partida será disputada
novamente -- Há erros que determinam o resultado de uma partida. Há
clubes que pediram à Conmebol que as partidas sejam disputadas
novamente (caso do Cerro Porteño contra o Fluminense em Assunção).
Há alguma chance disso acontecer?
Otero: "A princípio, as regras
do jogo falam que nenhuma partida pode ser jogada novamente por
causa de um erro de arbitragem. Nós, que estamos há alguns anos no
futebol, sabemos que os erros de arbitragem existem, às vezes a
favor, às vezes contra. Nesse sentido, as regras de jogo proíbem
repetir uma parta por um erro de arbitragem."
- Até que ponto tem efeito a
divulgação imediata dos áudios e imagens do VAR?
Otero: "Acreditamos que é muito
grande e muito positivo. A transparência está acima de qualquer
outro elemento. Por isso queremos publicar rapidamente quais foram
os áudios para não deixar nenhum tipo de dúvida de que não houve uma
condução correta por parte do árbitro, do assistente ou, nesse caso,
do VAR."
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(Da esquerda para a direita) o argentino
Rodolfo Otero, o brasileiro Wilson Seneme e o chileno Carlos
Astroza - membro, presidente e diretor técnico
respectivamente do Comitê de arbitragem da Conmebol |
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- Outra crítica recorrente contra
o VAR é o tempo de demora para a tomada de uma decisão.
Otero: "A princípio, as
situações de VAR são muito distintas. É preciso buscar o ponto exato
da bola, é preciso colocar a linha de uma forma correta. Há algumas
jogadas que tomam algum tempo, mas, a realidade é que, na última
Copa América, o tempo de demora não foi muito grande. À medida que
ganhamos mais experiência, os árbitros vão reduzir o tempo."
- A sensação do público é que
quando o árbitro é chamado pelo VAR já se sabe que ele acatará a
sugestão dos responsáveis pela tecnologia.
"Nem sempre é assim. O VAR tem
que trabalhar com muita rapidez e com imagens e quando encontra as
imagens que acredita sejam convincentes chama o árbitro para a
revisão de campo. A verdade é que muitas vezes a decisão muda, e
algumas vezes não."
- Desafios por equipe - Quais são
os ajustes que estão planejados para o VAR depois desta experiência
acumulada?
Seneme: "O protocolo do VAR não
compete à Conmebol. O que podemos fazer é enviar sugestões tanto à
Fifa como à Ifab (órgão responsável pelas regras do futebol).
Enviamos recentemente um documento solicitando que o tempo seja
paralisado e que os minutos que passem não sejam uma preocupação.
Também pensamos ser proativos e que cada equipe tenha um número de
desafios para pedir sua própria revisão, como acontece em outros
esportes, como o vôlei, o tênis."
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- Alguns técnicos de futebol
criticam a ferramenta ao afirmar que os árbitros viraram "VAR-dependentes".
Astroza: "Basicamente, há um
protocolo. Não é que o árbitro tem que ir sempre revisar e não é que
o VAR sempre tem que chamar o árbitro. O VAR é um elemento apenas de
consulta. Não é uma dependência. É um assistente que pode dar
informação importante para mudar a decisão ou para mantê-la."
Fonte: Uol Esportes