– Fico muito feliz
com a minha evolução, no meio do ano vou para os testes masculinos.
Eu evoluí muito e estou muito feliz! O que eu tinha mais dificuldade
eram os testes de velocidade, e agora estou correndo o que eu
preciso. Nos testes de resistência já estou muito bem também. Por
isso, em junho ou julho, vou tentar, e aí sim vai começar Série D,
Copa do Brasil, as bases e, com isso, até na Federação Paulista de
Futebol (FPF) ganho mais espaço, então, a partir do meio do ano,
prevejo uma evolução na minha carreira, mais do que foi no início do
ano.
Com passagens em 2019 pela Copa São Paulo de Futebol Júnior e
Paulista da Série A2 e A3, a prudentina aguardou cerca de quatro
meses após sua aprovação para estrear pela CBF, o que, para ela, foi
uma surpresa, apesar de se preparar para isso.
– A minha convocação foi em 7 de dezembro de 2018. Depois, fiz os
testes físicos, entreguei a documentação, já em janeiro deste ano, e
fiz os testes de fevereiro. Após isso, eu estava apta. Quando
começaram os campeonatos, eu fiquei esperando, mas como vimos que
ninguém que tinha subido tinha sido escalado, eu fiquei mais
tranqüila esperando as escalas da Federação mesmo. Mas, admito que
não sou daquelas que ficam olhando as escalas, para ver se o povo
foi escalado. Às vezes, eu sei que as meninas foram escaladas porque
postam nas redes sociais e eu acompanho elas. As minhas escalas eram
mais pela FPF, e eu espero por lá. CBF eu não esperava ainda,
entende?! Porém, agora que veio a primeira, você já fica mais de
olho.
Buscando participar das competições nacionais há sete anos, a
assistente explica que as escalações são diferentes daquelas que já
está acostumada, como o modelo da FPF, e que vai ter que se adaptar
ao novo.
– Os meninos já falaram que tenho que olhar todos os dias, que a CBF
não é como a FPF, onde se a gente não confirmar escala, eles não
ligam para a gente para poder confirmar as partidas. Na CBF, não.
Eles dão um tanto de horas e você tem que confirmar, se não é tirada
da escala. Então temos que estar mais ligados e ligeiros por isso.
Crédito: Edson de Lima/A Vitrine Do
Futebol Feminino |
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Lili Galindo (1ª da dir. p/ a esq.)
fez a estreia no quadro da CBF no Pacaembu ao lado de
Adeli Monteiro e Macela Silva |
Como recebeu a notícia
Acostumando-se com
as novidades, Lili conta que soube da escalação através de uma amiga
que também participaria da partida e, após isso, a correria foi um
pouco maior por conta do nervosismo.
– Foi bem legal. Uma amiga minha me ligou para falar que estava
escalada comigo. Porque a gente se cadastra pela CBF, mandamos
documentação, mas nós não temos acesso direto. Então, eles têm que
liberar um link para nós, a senha, as coisas todas e, depois, a
gente pega e tem o acesso. Eu fiquei sabendo em uma sexta-feira que
o jogo seria uma semana depois e que teria o acesso apenas na
segunda-feira, três dias após ficar sabendo. Logo que soube, entrei
em contato com a secretária para ela liberar o tal link. Então, eu
não tinha muita noção do jogo, do lugar, eu tinha mais clareza do
lugar porque a menina tinha me falado. E quando não se tem muita
informação, a gente vai ficando cada vez mais nervosa, a emoção vai
tomando conta, também. Foi meio difícil absorver, admito, pois nunca
fiquei entrando em site, procurando escala, entende?
Quando achou que as emoções terminariam por ali, a prudentina
decidiu se informar sobre a partida e, então, soube que participaria
do jogo que envolvia, até o momento, as líderes e vice-líderes do
Brasileirão Feminino. Ou seja, não era qualquer jogo e, para a sorte
dela, sua estreia se distinguia das que aconteciam normalmente.
– Geralmente, as pessoas estreiam nas categorias de base, não nos
brasileiros. Estreiam nessas competições, mas não nos primeiros
jogos, como foi o meu. Ainda mais em um jogo de bastante expressão,
como Santos e Flamengo. Além disso, até então, era um jogo
televisionado e, apenas depois de uns problemas, não foi ao ar. Aí
eu fiquei mais ansiosa por isso, não pelo jogo. Porque, pelo jogo em
si, nós trabalhamos no Paulista Feminino, que é a base dos times, na
maioria das vezes são os mesmos. Mas a sensação foi única, muito
boa, e a ficha meio que não caía pela preciosidade do jogo.
Crédito: Arquivo pessoal |
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Lili Galindo, com a bandeira na mão,
ao lado da árbitra Katiúcia da Mota Lima e da outra
assistente Débora Fisk |
À espera do próximo jogo
Como as convocações
são realizadas uma semana antes da partida, Lili ainda não sabe
quando pode entrar em campo pela CBF mais uma vez. Mas acredita que
o próximo jogo não está tão distante.
– Como eu estreei, creio que não demore muito, porque eu fui
analisada, então assim, eles têm que ver as análises, coisas dos
jogos para eu ir para outra partida. Como meu jogo foi dia 11, eu
acredito que lá para a outra semana eu devo pegar mais um. E,
também, tenho que ver jogos que têm no estado de São Paulo mesmo,
porque todos os árbitros trabalham em seu determinado estado nesta
fase.
Imprevisto antes da partida
Com apoio de um
personal trainer, a assistente de arbitragem conta com ajuda não só
no preparo físico, como também no emocional. Os treinos semanais
possuem de alongamentos até academia, e Lili teve que superar um
imprevisto na semana da convocação: infecção na garganta. O que fez
com que seus treinamentos tivessem uma queda na intensidade.
– Na semana eu estava meio adoentada. Então, assim, foi uma semana
meio que quebrada de treino, porque tive que burlar alguns, ele
(personal) teve que dar uma repaginada na minha semana por causa da
infecção. Além do mais, não sou de ficar tomando remédio, meu
personal também não gosta que eu tome, então fui curando com romã e
coisas naturais. Fora isso, tinha também a preocupação com o
desgaste que a própria viagem para o jogo causa. Mas, graças a Deus,
na quarta-feira (8), eu dei uma melhorada, apesar de, mesmo assim,
continuar mais cansada que o normal. Ao final deu tudo certo. Mas,
após a partida há muito desgaste, inclusive depois tomei uma injeção
de B12 (vitamina) para recuperar a musculatura, até porque a viagem
foi de ônibus. Então fui e voltei assim. Cheguei um dia antes,
fiquei no hotel, mas mesmo assim não dá para recuperar totalmente.
Comparando com as competições em que trabalha normalmente, como a
Série A2 e A3 do Paulista, Lili conta que seus treinos mais fortes
já tiveram que ser retomados, por conta dos níveis diferenciados das
partidas.
– Os jogos femininos têm um nível muito bom. Não é aquele jogo em
que as meninas ficam emboladas na bola, é aquele jogo bom mesmo,
sabe? O campo bom também, a bola corre bem. Realmente, os
treinadores falam mais com a equipe ao invés de ficar retrucando com
a gente. Então foi um jogo muito jogado. E, olha, eu já senti esse
desgaste porque eu tive uma semana desgastante fisicamente, mas,
você imagina um masculino? Que é maior ainda, porque somos
diferentes dos homens, eles têm um preparo maior. Mas, mesmo assim,
não dá para participar de um jogo e parar os treinos para descansar,
nossa rotina continua corrida, para que estejamos prontos para dar
conta de todas as escalações.
Na correria desde o início do ano, a prudentina não dispensa o apoio
psicológico de seu personal, já que, apesar de importantes, as
novidades podem acabar assustando em certos momentos.
– Participei da Copinha, A3, A2, e a gente vai indo. Teve teste da
CBF, viagem, aí tiveram as diretrizes das trocas de regras, e fomos
de novo para São Paulo, são 600km, não é fácil. É estressante,
cansativo, são três dias, pelo menos, para recuperar o corpo. Estou
muito feliz pela minha fase, pelas oportunidades dadas aqui no
interior, nós vemos a diferença no trabalho, no empenho dos
árbitros. Os investimentos são diferentes, eu tenho evoluído muito
com o meu assessor, ele me ajuda até emocionalmente falando, porque
nós temos medos em algumas situações, a gente precisa de um suporte
não só físico. Com certeza é Deus acima de tudo, mas nós precisamos
de pessoas na terra para nos darem esse suporte, também. Ele entende
muito minha ansiedade.
Fonte: Globo.com