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Da várzea de Rondônia para o quadro da Fifa

  Márcia Bezerra, quando adolescente trocou as bonecas pelos campos de varzea trilando os apitos ganho do pai

 

15/09/2010 - Ao contrário das garotas de 10 anos de idade, que na fase pré-adolescente tem os olhares voltados somente para as bonecas e os vestidos, uma das maiores diversões de Márcia Bezerra estava em ir aos campinhos de terra da várzea da região amazônica para assistir aos jogos dos festivais de futebol amador ou ficar no quintal de casa trilando ininterruptamente os apitos que o pai lhe dava após os jogos que arbitrava.
 
Assistir futebol pela TV ou seguir o desempenho dos grandes jogadores do Brasil e do mundo do final da década de 1970 e inícios dos anos 80 nunca foram o seu forte, mas já aos nove anos acompanhava o pai pelos campos de futebol do recém construído bairro de Nova Floresta, em Porto Velho, capital de Rondônia. Incentivada pela família, a menina que sempre teve o futebol como espelho na vida, decidiu que sua vocação seria a mesma que a do pai e partiu para o sonho que até os dias de hoje é visto como, no mínimo inusitado, pela grande maioria das mulheres do Brasil.
Mais uma Em alguma dessas viagens ao lado do “seu” Lourival Domingos Lopes – que anos depois também viria a integrar o quadro da CBF – viu que o apito não seria a primeira opção e que a bandeirinha seria um dos instrumentos que para sempre entraria para a sua vida. “Acompanho o meu pai desde muito pequena e sempre prestava atenção no modo dele apitar. Mas o que me impressionou mesmo foi o trabalho do assistente. Assim decidi levar isso para a minha vida. Continuei acompanhando os jogos para ver se era isso mesmo que queria e vi que

Silvia Regina, diretora da escola de árbitros da FPF, Márcio Verri Brandão, observador de arbitragem da FPF e CBF, Márcia Bezerra e Walter José dos Reis, secretário da escola de árbitros da Federação Paulista de Futebol

levava jeito para a coisa. Meu pai nunca me questionou a opção, pelo contrário, sempre me deu o maior incentivo”, revelou Márcia Bezerra Lopes Caetano.

Nascida em Porto Velho – centro pouco conhecido do futebol brasileiro –, Márcia Bezerra, após uma longa temporada de estágio na várzea rondoniense, em 1996 fez o curso para árbitra assistente na cidade natal e dois anos depois foi integrada ao quadro da CBF para representar o Estado nos campeonatos de futebol por todo o país. As boas atuações nos últimos anos renderam-lhe em 2009 a honra de ser escolhida como uma das quatro mulheres do Brasil para fazer parte do quadro de árbitras assistentes da Fifa. “Foi uma jornada muito longa para chegar até a Fifa. Passei por vários percalços e sei que hoje estou num ponto alto da minha carreira. Agora é trabalhar mais e seguir firme”, ressaltou a assistente.

  Casada com ex-árbitro de futebol Almir Belarmino Caetano, a rondoniense quando tinha apenas 22 anos decidiu também se integrar à Polícia Militar do Estado e paralelamente exercer as duas profissões. Para Márcia, ambas as funções ainda causam espanto em algumas pessoas, mas o fato da disciplina ter que ser usada tanto no campo quanto nas ruas é fundamental para sua vida particular. “Ainda percebo certo preconceito, mas isso é irrelevante e tento não dar ouvidos. Procuro trabalhar da forma correta e aplicar a regra para que nada de errado aconteça e ninguém misture as coisas. Sei que todos nós somos passíveis de erros, mas na hora do jogo ninguém pensa no ser humano e as cobranças são muitas. Sou policial militar e isso me ajuda bastante em minha carreira de assistente. Sou bem disciplinadora e acredito que isso é de extrema importância para que tudo ande bem em minha vida pessoal também”, revela a mãe de uma filha de oito anos, que não repudia a possibilidade da garota também optar pela carreira de assistente. “Não vejo problema nenhum se minha filha quiser exercer a mesma profissão que eu. Só vou dizer a ela que essa função é para quem gosta e tem prazer de exercê-la, pois a pressão é grande e a coisa não é nada simples”, alertou.

Com a ascensão da carreira impulsionada pela promoção concedida pela entidade máxima do futebol, foi questão de tempo para Márcia Bezerra, hoje com 36 anos, ganhar notoriedade no cenário futebolístico da América do Sul e ser indicada pela Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) para ser a única brasileira à participar da II Copa Libertadores da América de Futebol Feminino, que acontece

Márcia Bezerra Lopes Caetano, aos 36 anos, terá a oportunidade de trabalhar em uma competição sul-americana, na Libertadores feminina

entre os dias 2 e 17 de outubro na cidade de Barueri, região metropolitana de São Paulo.

Muito próximo do início do Sul-Americano de Clubes, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) em conjunto com a Federação Paulista de Futebol realiza nesta semana no estádio Nicolau Alayon, em São Paulo, um treinamento para aprimorar os fundamentos da árbitra assistente. Testes físicos, técnicos e a correção de alguns pontos, que segundo Márcia Bezerra, ainda podem ser melhorados, ditam o ritmo da policial militar durante as semanas que antecedem a estreia de uma das mais importantes competições de sua carreira.

Sob o comando de Silvia Regina de Oliveira, diretora da Escola de Árbitros, do secretário geral Walter José dos Reis e do instrutor e observador de árbitros da CBF e da Federação Paulista de Futebol, Márcio Verri Brandão, pela primeira vez uma assistente do quadro da CBF participa de um trabalho preparatório para um campeonato internacional de futebol. “Estou nessa caminhada há muito tempo e essa é uma grande oportunidade para expandir o meu trabalho. Com certeza essa experiência vai me abrir outras portas. Vai ser a competição mais importante da minha carreira e isso vai me ajudar para que eu me saia bem. É uma enorme satisfação poder trabalhar com grandes profissionais como o Walter José dos Reis, o Verri e, principalmente, a Silvia Regina, que é uma referência para a arbitragem feminina. Tenho certeza que com a ajuda deles tudo vai sair como planejamos. Imagine quantas pessoas queriam estar no meu lugar?”, indaga a assistente que vem atuando nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro.
 
A diretora da Escola de Árbitros da Federação Paulista de Futebol, Silvia Regina de Oliveira, ciente das dificuldades que a assistente Márcia Bezerra passou até chegar a este nível, vê boas perspectivas para o seu crescimento profissional. “Rondônia tem pouca divulgação no centro esportivo e ela é um exemplo de superação por ter se destacado. A Márcia é uma pessoa muito organizada, determinada, responsável e, principalmente, gosta do que faz. Acredito que as qualidades pessoais influenciem nas profissionais. Ela vem tendo um ótimo desempenho e certamente representará muito bem o país nesta competição” revela a ex-árbitra que foi a primeira mulher a apitar uma partida oficial da Sul-Americana entre Santos x São Caetano em 2004.

Fonte: Fábio Pereira - FPF

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