Mesmo polêmicos
e ineficazes, árbitros adicionais podem entrar na regra do jogo
Com o experimento utilizado desde o Campeonato
Carioca até a Liga dos Campeões, a IB decidirá
até julho sobre o caso
17/02/2012 - O questionamento em torno do trabalho da
arbitragem acontece desde que o futebol é futebol. Da criação do
impedimento, passando pela introdução dos cartões até o fim do recuo
da bola para o goleiro, a regra do jogo tenta se aperfeiçoar e
facilitar o trabalho de quem comanda o espetáculo em pontos
culminantes. Sem ser usada como fator de interferência, a tecnologia
tem dificultado a vida dos árbitros, que sofrem com a repetição
exaustiva de lances polêmicos. A procura por maneiras para diminuir
esse impacto levou o presidente da Comissão de Arbitragem de Futebol
do Rio de Janeiro (Coaf-RJ), Jorge Rabello, a incluir os árbitros
assistentes adicionais na escala.
Em julho deste ano, a escalação desses
dois árbitros pode se tornar regra. A International Board vai se
reunir no dia 3 de março na Inglaterra para colher dados dos estudos
feitos em campeonatos no Brasil e na Europa, como a Liga dos Campeões,
para atualizar seus membros sobre a questão. No dia 2 de julho, em
Kiev, na Ucrânia, decidirá se aprova o
experimento e passa a torná-lo parte
obrigatória do jogo a partir de 2013.
- Ainda não foram usados em competição
da Fifa. A Uefa usou em 2009 e 2010 em torneios de seleções de base e,
desde o ano passado, algumas competições puderam fazer o experimento
oficialmente. Agora, haverá uma decisão sobre a inclusão desses
assistentes na regra, já visando a Copa do Mundo de 2014.
Comentarista da SporTV, Leonardo Gaciba
chegou a participar do primeiro experimento da Fifa, em 2007, ainda
sem ser utilizado em competições. Ele não acredita que os árbitros
adicionais possam se tornar parte da regra tão rapidamente. Na
Eurocopa deste ano, que termina no dia 1 de julho, eles serão testados
pela primeira vez numa competição de seleções na categoria
profissional.
- Eles precisam ser testados em alto
nível para saber se vale o investimento como um todo. O pessoal está
aprendendo ainda, é um experimento mesmo. Não tem padronização, tanto
que a International Board mudou o lado desses árbitros agora. Se
houver um entrosamento, fica bom, mas para acontecer isso com um
assistente, são 50 ou 60 partidas. Muitas vezes, o árbitro vai
trabalhar com o adicional uma vez. Pensa da seguinte forma: como o
jogador se sentiria com dois a mais em campo? - questionou Gaciba.
Adicionais falaram com o
árbitro na vitória do Vasco em clássico
Domingo passado, na vitória do Vasco
por 2 a 1 sobre o Fluminense, duas jogadas polêmicas marcaram a
partida e aconteceram próximas aos árbitros adicionais (veja o vídeo),
que ficam na linha de fundo, do lado contrário aos assistentes. Fred e
Carlinhos reclamaram de pênaltis não marcados pelo árbitro Antônio
Frederico Schneider.
- Nas duas
jogadas, os árbitros adicionais falaram com o principal pelo rádio e
nas duas jogadas concordaram que não houve pênalti. Na câmera lenta,
tudo é pênalti, mas ali a decisão acontece em uma fração de segundos -
explicou Rabelo, que
trocou farpas com o presidente do Fluminense, Peter Siemsen, e
teve uma reunião com o sexteto do clássico nesta terça-feira, como faz
em todas as rodadas, para mostrar os vídeos do jogo.
Segundo o presidente da Coaf, o árbitro
assistente está autorizado a passar ao principal a sua opinião em
lances duvidosos, mas não tem poder decisão. Sua atuação no jogo é a
mesma do assistente. No entanto, a comunicação, nesse caso, não é
feita com uma bandeira, mas apenas pelo rádio ou com um gestual muito
simples.
- Ele gesticula apenas para apontar
escanteio, tiro de meta ou informar se a bola entrou ou não. No caso
de uma falta, que é interpretativa, ele apenas se comunica pelo rádio
e informa o que pensa da jogada. Ele estão autorizados e devem fazer
isso. Se o árbitro principal não concordar, segue com a sua marcação -
disse Rabelo, revelando que o pênalti marcado a favor do Botafogo no
empate em 2 a 2 com o Madureira foi responsabilidade do árbitro
adicional.
Ainda no clássico de domingo passado,
houve um chute de Carlinhos, que desviou em um defensor do Vasco.
Schneider marcou tiro de meta. Nesse caso, Rabelo disse que seria
impossível para o árbitro adicional marcar o escanteio, já que seu
posicionamento a partir do chute seria para observar se a bola
entraria ou não.
Obs. No momento exato do lance,
como você pode ver na seqüência de fotos abaixo e no vídeo acima, o
árbitro assistente adicional marca convictamente o tiro de meta e
deixa os jogadores do Fluminense revoltado, sendo advertidos com
cartão amarelo pelo arbitro da partida.
- Naquele momento, o árbitro adicional
deve estar com a linha de fundo entre as suas pernas e com o olhar
voltado para o gol. Ele estava preocupado com o chute, na posição
treinada - comentou Rabelo, que usou pela primeira vez os árbitro
adicionais no dia 20 de abril de 2008, na final da Taça Rio, entre
Fluminense e Botafogo.
Rabelo não concorda com mudança
da International Board
O Campeonato Carioca foi pioneiro na
utilização desses árbitros, que até 2010 não tinham essa orientação
para ajudar na marcação de faltas próximas a eles, pois não havia
chancela da International Board. Eles apenas poderiam interferir no
caso de informar se a bola entrou ou não e em escanteios e tiros de
meta. A autorização aconteceu em julho de 2010 para a utilização do
experimento.
No Brasil,
além do Rio, São Paulo também usa os árbitros adicionais. Em
Pernambuco, eles são escalados apenas em clássicos e por isso o
campeonato local não foi incluído no estudo da International Board. No
começo do ano,
a entidade havia pedido a inversão do posicionamento, o que os
colocaria do mesmo lado do assistente, à esquerda do gol, de frente
para o campo. Rabelo não aceitou a intervenção e os manteve do lado
direito.
- Não há lógica. Em São Paulo, seguiram
essa norma. No jogo entre Portuguesa e Bragantino, um gol não foi
validado justamente por causa do posicionamento do árbitro adicional,
que estava do outro lado. Então, o assistente estava coberto e ele não
estava tão próximo do lance - disse Rabelo, que, mesmo repreendido pelo
presidente da Comissão Nacional de Árbitro (Conaf), Sérgio Correa, não
mudará sua decisão.
Polêmicas com os árbitros adicionais já
aconteceram outras vezes. No Campeonato Carioca do ano passado, um
chute de Renato Cajá, no clássico entre Botafogo e Fluminense, no dia
6 de fevereiro, bateu no travessão e, aparentemente, dentro do gol. Rabelo jura que ela não entrou e defende a decisão de
momento do jogo, alegando que a circunferência da bola estava sobre a
linha.
- Nem houve um tira-teima daquele jogo.
O árbitro adicional foi convicto - comentou Rabelo, que lembrou o
lance de Henry no jogo entre França e Irlanda, pela repescagem
européia para a Copa do Mundo de 2010. - Com a orientação atual, o
árbitro adicional informaria ao principal o toque de mão e seria
marcada a infração.
Árbitro adicional custará R$
2.500 na final do Carioca
Os borderôs dos jogos do Campeonato
Carioca já incluem o pagamento aos árbitros adicionais. Segundo uma
tabela publicada no site do Sindicato de Árbitros Profissionais do
Estado do Rio de Janeiro (Saperj), o custo de cada um deles varia de
R$ 300 a R$ 2.500, dependendo do jogo (veja a tabela no fim do texto).
Árbitros principais se mostram a favor
da participação dos adicionais. Péricles Bassols lembrou lances em que
foram fundamentais para o andamento dos jogos. Um deles no confronto
entre Boavista e Bangu, sábado passado, no Campeonato Carioca deste
ano, quando ele estava apitando.
- A quantidade de jogadas que
conseguimos legitimar com uma pessoa atrás do gol foram inúmeras. Pelo
menos, umas dez por partida. Apitei Boavista x Bangu, e houve uma bola
que bateu no travessão e voltou no gramado na qual a participação do
árbitro adicional foi fundamental para dar seqüência ao jogo - disse
Péricles, lembrando também o gol de Rafael Moura, no mesmo Botafogo x
Fluminense do chute de Cajá.
Responsável
pela função no primeiro jogo em que a Coaf-Rj usou os árbitros
adicionais, Ubiraci Damásio, que já
encerrou sua carreira na arbitragem, percebeu uma evolução
importante desde aquele clássico de 2008. Na época, não havia como
interferir no jogo, já que a participação deles acabou sendo meramente
decorativa. Como disse Rabello, eles agiriam apenas para salvar o
jogo, pois havia acontecido uma série de erros decisivos em todo o
Brasil naquele ano.
- Hoje, está funcionando bem melhor.
Essa questão do rádio facilita muito numa jogada que pode definir um
jogo. A regra determina que você tome uma decisão em dois ou três
segundos. Se o árbitro adicional viu algo diferente, tem a obrigação
de comunicar - disse Ubiraci.