- Ele inventou a situação de que quando o
árbitro recebe a escala, deve ligar para ele e receber recomendações.
Eu tenho provas para que essa sujeirada seja lavada. Eu, por exemplo,
fui escalado para um jogo entre Corinthians e Goiás, em que o
Corinthians ganhou por 5 a 1. E antes do jogo, ele disse assim: "Vai
lá, boa sorte. Vai apitar o jogo do Timão, hein" O que eu posso
entender disso? Que se o Corinthians não ganha eu podia para o resto
da vida não ser escalado. Ser punido e ficar fora. Tem muito mais
coisa, tudo fundamentado e documentado com provas. A nossa relação
começou a se acirrar porque parei de ligar. - disse Gutemberg à Jovem
Pan sobre a partida que apitou no Campeonato Brasileiro de 2010.
Garantindo ter provas contra Sérgio Corrêa, Gutemberg sugeriu que a
perda do escudo da Fifa foi uma represália, uma vez que não vinha
cumprindo as "ordens" do presidente.
- Acho que voltamos aos tempos das Capitanias Hereditárias, mas na
arbitragem brasileira. Ele é mentiroso, mariquinha e corrupto.
Corrupção não é só a ação de seduzir por dinheiro. Mas ela é a ação de
seduzir por presentes. Escalam um árbitro quando atendem aos anseios
dele. Ele não convence que tenha sido por outro motivo que não seja o
político, de interesse pessoal dele. Passei em todos os testes, minhas
médias estão acima do exigido, então por que me tirou? Vai ter que
apresentar as justificativas, porque a Fifa não gosta que fique
mudando de árbitro todo ano”, disse Fonseca.
- E outra coisa: o regulamento da Fifa diz
que federações e confederações podem eliminar ou suspender o árbitro,
de maneira que ela fundamente isso. E desafio o presidente da Comissão
de Arbitragem da CBF, Sérgio Correa, a provar qual foi a fundamentação
que me fez (sair do quadro) - completou Fonseca.
Apito
pendurado
Mais tarde, em nova entrevista, desta
vez à Rádio Tupi, Gutemberg, que tem 38 anos de idade e poderia ser
árbitro até os 45, anunciou que encerrou sua carreira no apito.
- Parei com a arbitragem. Cansei dessa
sujeirada, não vou ficar atuando para ser perseguido. Parei por causa
dele (Sérgio Corrêa), da perseguição dele. Imagina os novos árbitros,
o que eles vão passar. Comuniquei também à minha federação (do Rio de
Janeiro) e agradeci por tudo, mas parei - disse o agora ex-árbitro.
Por fim, Gutemberg garantiu que nenhuma
providência foi tomada pelo fato de o presidente da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, estar preocupado com
questões envolvendo a Copa do Mundo de 2014, no Brasil.
“O presidente da CBF está com a cabeça
voltada para a Copa e não tem tempo de apurar os fatos. Tenho certeza
de que quando tiver, ele vai chegar a um denominador comum, porque não
aconteceu só com o Gutemberg. Tem que limpar essa sujeirada. Aí sim os
torcedores brasileiros e os árbitros vão poder voltar a acreditar no
futebol”, encerrou.
Para o comentarista de arbitragem da TV
Globo, Arnaldo César Coelho, é necessário ver as acusações no
contexto:
- O Gutemberg deve estar emocionalmente
abalado por ter saído da FIFA. As acusações são graves e devem ser
apuradas. Com certeza a CBF e o presidente da Comissão de Arbitragem
vão mandar isso para o Tribunal de Justiça Desportiva e talvez até
para a Justiça Comum. Mas, há dois anos, quando foi indicado para o
quadro da FIFA, o Gutemberg achava o Sérgio bonito. Agora, quando
saiu, passou a considerá-lo feio.
No fim de 2010, Gutemberg havia
substituído Péricles Bassols no quadro da FIFA. Agora, Bassols retomou
a posição. No último Campeonato Brasileiro, Gutemberg foi o árbitro
FIFA que menos apitou. Apenas oito jogos.
No quadro nacional desde 2004, Fonseca disse que nunca houve
recomendação para receber instruções sobre os jogos antes da chegada
de Corrêa. “Se ele pudesse, ficava com um ponto eletrônico sentado na
casa dele, mandando o árbitro ir para esse lado ou aquele. Ou teria um
controle de Atari (videogame) para controlar o árbitro”, disse.
É a CBF quem indica à Fifa os árbitros que farão parte do quadro da
entidade mundial – e assim podem trabalhar em jogos internacionais,
quando o valor recebido por partida é maior. O árbitro trabalha como
Fifa dos 33 aos 45 anos, quando tem que se aposentar.
Em recesso, a CBF está fechada nesta
semana e não pode comentar as declarações de Fonseca. Como sempre
acontece nessas ocasiões, Sérgio Corrêa não foi encontrado para
comentar as acusações de Gutemberg Fonseca.