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    São Paulo - 22/08/2002    09:26hs

Comissão de Arbitragem da Federação Paulista se reúne para discutir caso de árbitro que deu reversão nas cobranças de lateral maneta

Juiz pune jogador sem mão por lateral

Jenkins Barbosa - ao centro - atuou por mais de uma década no futebol paulista - Crédito: Emerson Ortunho.
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A comissão de arbitragem da Federação Paulista de Futebol vai se reunir hoje (22) para avaliar o caso do juiz Jenkins Barbosa dos Santos, que marcou reversão em todas as cobranças de lateral do jogador Wayne Raphael Dantas Araújo, lateral esquerdo do Botafogo-SP, durante uma partida do Campeonato Paulista sub-15, porque o atleta não tinha uma das mãos.

O caso ocorreu no último final de semana, durante o clássico entre os times de Ribeirão Preto - Botafogo e Comercial -, válido pela abertura do torneio. A situação chocou a família do jogador e toda a comissão técnica do time, que teve até o treinador Zito expulso de campo pelo fato.

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O lateral-esquerdo Waine Raphael Dantas Araújo, 15, titular do Botafogo há oito anos, não tem a mão esquerda devido a uma má formação congênita durante a gravidez. Ele cobrou três vezes um arremesso lateral, até o árbitro intervir. Santos alegou que a cobrança estava irregular pelo fato de o garoto não ter segurado a bola com as duas mãos, como manda a regra.

"Foi uma discriminação. A única coisa que eu quero é continuar jogando" - disse o lateral.

A família do atleta e todo o time acusaram o árbitro de preconceito. O caso foi parar na polícia.

"Foi uma atitude infeliz e isolada do árbitro e não reflete a atitude de nenhum membro da escola. Vamos nos reunir para discutir o fato ocorrido" - disse Almir Laguna, que é um dos membros da comissão de arbitragem da FPF.

Laguna afirmou que a reunião vai tentar encontrar uma solução para que novos casos não aconteçam. A comissão de arbitragem descartou punir o árbitro, mas somente após a reunião de hoje um parecer será dado.

"Queremos apenas saber se a interpretação do árbitro está correta ou errada" - disse o irmão do garoto, William Dantas Araújo. Segundo ele, a família não quer indenização ou alteração do resultado da partida - que terminou empatada, sem gols.

"Só queremos que o caso seja apurado para que situações constrangedoras não se repitam e meu irmão possa dar seqüência à carreira dele" - afirmou.

O secretário de futebol do Botafogo, Rodrigues Galo, disse que o clube solicitou à comissão que observe o episódio pelo aspecto humano para não prejudicar a ascensão do atleta.

"Queremos que o árbitro explique o motivo que o levou a ter uma atitude indelicada, pois o trabalho de formação de um atleta deve partir do clube e de todos os envolvidos com o futebol" - disse o dirigente.

O Botafogo já teve um atleta deficiente na década de 80: o atacante Rinaldo, que não tinha todo o antebraço direito. O jogador, no entanto, nunca teve problemas semelhantes em campo.

Além de recorrer à federação, a família enviou ofício ao Sindibol (Sindicato dos Clubes de Futebol Profissional).

"Esse garoto é um verdadeiro exemplo" - afirmou Laguna, da FPF.

O que disse a Escola

O diretor da Escola de Arbitragem da FPF, Gustavo Caetano Rogério disse, na tarde desta terça-feira, que o caso é atípico e que Santos errou.

Gustavo Caetano Rogério - Crédito: AAGSP

"Ele (Santos) foi inexperiente, induzido ao erro, mas agiu com uma burrice..." - comentou Rogério.

"A atitude dele pegou mal para nós (da Escola)."

Segundo Rogério, a regra diz o seguinte: "no arremesso lateral, a bola deve ser solta com ´ambas´ as mãos, ao ´mesmo´ tempo". Rogério explica:

"Se ele usasse apenas uma mão, estaria errado." E acrescenta, afirmando que não está sendo ofensivo ao usar a expressão "toco":

"Ele (Wayne) usou a mão e o toco para fazer a cobrança, o que está absolutamente correto." Ou seja, o procedimento foi correto. E o curioso é que Wayne sempre cobrou laterais e nenhum árbitro havia interpretado como irregularidade.

"O árbitro não teve bom senso, equilíbrio e discernimento" - comentou Rogério.

Bronca

Jenkins Barbosa dos Santos já esteve na Escola na segunda-feira e foi advertido. Ele ainda está em formação - deve receber o diploma até o final do ano. Para Gustavo Rogério, ele conduziu a situação da única maneira que não poderia ocorrer, o que levou os parentes dos jogadores e os botafoguenses a encararem a situação como preconceito.

"Poderia conversar com o técnico, dizer que tinha dúvida e pedir para que outro jogador cobrasse o lateral, por exemplo" - exemplificou ele.

"É preciso respeitar o deficiente e incentivá-lo à prática esportiva, não criar um fator inibidor" - comentou Rogério, afirmando que foi a primeira vez que um caso desses aconteceu em seus 40 anos de arbitragem. Segundo ele, o caso agora será usado como exemplo durante as instruções da Escola e até com os árbitros profissionais.

A Folha não conseguiu falar com o árbitro Jenhins Barbosa dos Santos ontem. No dia da partida, ele também não se pronunciou sobre o caso

As informações são de Rodrigo Rossi - Free-lance para a Folha de Ribeirão

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