A comissão de arbitragem da
Federação Paulista de Futebol vai se reunir hoje (22) para avaliar o
caso do juiz Jenkins Barbosa dos Santos, que marcou reversão em
todas as cobranças de lateral do jogador Wayne Raphael Dantas
Araújo, lateral esquerdo do Botafogo-SP, durante uma partida do
Campeonato Paulista sub-15, porque o atleta não tinha uma das mãos.
O caso ocorreu no último final de
semana, durante o clássico entre os times de Ribeirão Preto -
Botafogo e Comercial -, válido pela abertura do torneio. A situação
chocou a família do jogador e toda a comissão técnica do time, que
teve até o treinador Zito expulso de campo pelo fato.
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Wayne: vítima do "rigor da regra" deixou o futebol
O lateral-esquerdo Waine Raphael
Dantas Araújo, 15, titular do Botafogo há oito anos, não tem a mão
esquerda devido a uma má formação congênita durante a gravidez. Ele
cobrou três vezes um arremesso lateral, até o árbitro intervir.
Santos alegou que a cobrança estava irregular pelo fato de o garoto
não ter segurado a bola com as duas mãos, como manda a regra.
"Foi uma discriminação. A única
coisa que eu quero é continuar jogando" - disse o lateral.
A família do atleta e todo o time
acusaram o árbitro de preconceito. O caso foi parar na polícia.
"Foi uma atitude infeliz e
isolada do árbitro e não reflete a atitude de nenhum membro da
escola. Vamos nos reunir para discutir o fato ocorrido" - disse
Almir Laguna, que é um dos membros da comissão de arbitragem da FPF.
Laguna afirmou que a reunião vai
tentar encontrar uma solução para que novos casos não aconteçam. A
comissão de arbitragem descartou punir o árbitro, mas somente após a
reunião de hoje um parecer será dado.
"Queremos apenas saber se a
interpretação do árbitro está correta ou errada" - disse o irmão
do garoto, William Dantas Araújo. Segundo ele, a família não quer
indenização ou alteração do resultado da partida - que terminou
empatada, sem gols.
"Só queremos que o caso seja
apurado para que situações constrangedoras não se repitam e meu
irmão possa dar seqüência à carreira dele" - afirmou.
O secretário de futebol do
Botafogo, Rodrigues Galo, disse que o clube solicitou à comissão que
observe o episódio pelo aspecto humano para não prejudicar a
ascensão do atleta.
"Queremos que o árbitro
explique o motivo que o levou a ter uma atitude indelicada, pois o
trabalho de formação de um atleta deve partir do clube e de todos os
envolvidos com o futebol" - disse o dirigente.
O Botafogo já teve um atleta
deficiente na década de 80: o atacante Rinaldo, que não tinha todo o
antebraço direito. O jogador, no entanto, nunca teve problemas
semelhantes em campo.
Além de recorrer à federação, a
família enviou ofício ao Sindibol (Sindicato dos Clubes de Futebol
Profissional).
"Esse garoto é um verdadeiro
exemplo" - afirmou Laguna, da FPF.
O que disse a Escola
O diretor da Escola de Arbitragem
da FPF, Gustavo Caetano Rogério disse, na tarde desta terça-feira,
que o caso é atípico e que Santos errou.
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Gustavo Caetano Rogério - Crédito: AAGSP |
"Ele (Santos) foi inexperiente,
induzido ao erro, mas agiu com uma burrice..." - comentou
Rogério.
"A atitude dele pegou mal para
nós (da Escola)."
Segundo Rogério, a regra diz o
seguinte: "no arremesso lateral, a bola deve ser solta com ´ambas´
as mãos, ao ´mesmo´ tempo". Rogério explica:
"Se ele usasse apenas uma mão,
estaria errado." E acrescenta, afirmando que não está sendo
ofensivo ao usar a expressão "toco":
"Ele (Wayne) usou a mão e o
toco para fazer a cobrança, o que está absolutamente correto."
Ou seja, o procedimento foi correto. E o curioso é que Wayne sempre
cobrou laterais e nenhum árbitro havia interpretado como
irregularidade.
"O árbitro não teve bom senso,
equilíbrio e discernimento" - comentou Rogério.
Bronca
Jenkins Barbosa dos Santos já
esteve na Escola na segunda-feira e foi advertido. Ele ainda está em
formação - deve receber o diploma até o final do ano. Para Gustavo
Rogério, ele conduziu a situação da única maneira que não poderia
ocorrer, o que levou os parentes dos jogadores e os botafoguenses a
encararem a situação como preconceito.
"Poderia conversar com o
técnico, dizer que tinha dúvida e pedir para que outro jogador
cobrasse o lateral, por exemplo" - exemplificou ele.
"É preciso respeitar o
deficiente e incentivá-lo à prática esportiva, não criar um fator
inibidor" - comentou Rogério, afirmando que foi a primeira vez
que um caso desses aconteceu em seus 40 anos de arbitragem. Segundo
ele, o caso agora será usado como exemplo durante as instruções da
Escola e até com os árbitros profissionais.
A Folha não conseguiu falar com o
árbitro Jenhins Barbosa dos Santos ontem. No dia da partida, ele
também não se pronunciou sobre o caso
As informações são de Rodrigo Rossi - Free-lance
para a Folha de Ribeirão
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