Wayne Raphael Dantas Araújo era um
promissor lateral esquerdo do Botafogo de Ribeirão Preto. Ou seria.
Não foram as suas habilidades ou os seus bons resultados que deram a
ele destaque nacional na imprensa esportiva. Wayne foi protagonista
de um lance curioso e infeliz no Campeonato Paulista Sub-15 de 2002,
que acabou marcando negativamente e prejudicando definitivamente a
sua carreira.
O fato aconteceu durante um
clássico diante do Comercial na primeira rodada do torneio. Wayne,
que não tem a mão esquerda por conta de um defeito congênito,
cobraria um lateral para o seu time. Apoiando a bola na mão direita
e no pulso esquerdo, ele arremessou a bola ao campo. O árbitro
Jenkins Barbosa dos Santos, porém, marcou reversão, entregando a
cobrança para o rival de Ribeirão Preto. Surpresa: seguindo
rigorosamente a regra, Wayne teria que cobrar o lateral com as duas
mãos.
O lance se repetiu outras duas
vezes ainda no primeiro tempo. Na terceira reversão, o técnico Zito
invadiu o gramado para protestar. Acabou expulso de campo. No
segundo tempo, para que Wayne ficasse longe da lateral e evitasse
novos problemas, três jogadores tiveram que ser remanejados no
Botafogo. Ao fim do jogo, que terminou sem gols, os botafoguenses
decidiram registrar um boletim de ocorrência, dizendo-se vítimas de
preconceito do árbitro, que não quis atender ao clube após a
partida.
"A reação, como não poderia ser
outra, foi de espanto, decepção e desorientação. O futebol era o
único lugar em que eu me sentia bem, onde meu talento superava minha
deficiência e onde eu era visto como uma pessoa normal. Não
conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, e
justamente contra nosso maior rival, numa estréia de Campeonato
Paulista" - contou Wayne ao Terra.
"Minha cabeça virou um
turbilhão, pois estava em uma competição oficial, uma das mais
importantes do ano para o time. Eu estava impedido de fazer o que
sabia. Tive que terminar o jogo em outra posição."
Apesar do registro na delegacia,
os pais de Wayne não levaram o caso adiante na Justiça, e nem
buscaram um processo contra a Federação Paulista de Futebol.
"O mérito da questão era moral,
e não financeiro" - explicou o ex-capitão do time, que queria
apenas evitar o mesmo tipo de mal-entendido na seqüência da
carreira.
"O único desejo deles e meu era
continuar a jogar futebol."
Depois do episódio, Wayne teve
dificuldades para encontrar clube e seguir a carreira. Atualmente,
aos 23 anos, ele atua como bancário e o futebol ficou bem distante.
Na época, a FPF se negou a
comentar publicamente o caso. Extra-oficialmente, a Escola de
Arbitragem da entidade culpou a inexperiência do árbitro por tamanho
rigor na regra. Tecnicamente, Jenkins estava correto. O árbitro, que
seguiu normalmente carreira, chegou à categoria profissional nos
anos seguintes e apitou partidas válidas pela Copa São Paulo de
futebol júnior, da então Copa FPF e das divisões de acesso do
Campeonato Paulista.
"Nunca fomos contatados pela
FPF, nem para um pedido de desculpas, para saber se aquilo deixou
alguma sequela ou para simplesmente informar que tomariam atitudes
que visassem o fim de ato como esse no futebol" - contou Wayne,
até então um jogador cotado para as categoria de base da Seleção
Brasileira e com uma perspectiva das mais otimistas na carreira.
As informações são de Emanuel Colombari Direto do
Portal Terra de São Paulo
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