Caso Bruxo:
Escândalo
de arbitragem envolvendo árbitros, ex-árbitros, dirigentes de clubes e da
Federação Paranaense |
Site destacam
reportagens da Gazeta do Povo sobre a crise na arbitragem paranaense;
Roman promete denunciar os árbitros envolvidos com arbitragens corrompidas |
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20/09/2005 -
Escândalo de esquema de resultados no futebol paranaense denunciado pelo
presidente do Conselho Deliberativo do Operário de Ponta Grossa, Sílvio Gubert,
que admitiu o pagamento de propina para evitar que o clube fosse prejudicado
pelos homens de preto. Em matéria veiculada na ESPN Brasil, o dirigente
confirmou dar R$ 2 mil ao chamado "Bruxo", alguém ligado à arbitragem.
O ex-árbitro José Francisco de Oliveira diz à Gazeta do Povo que participou
da corrupção na arbitragem, garante que Valdir de Souza, chefe do apito na FPF,
era conivente. Toda a Comissão de Arbitragem pediu afastamento do cargo. Assume
uma junta provisória. Onaireves Moura comunica a CBF da crise e recebe a
orientação de afastar todos os árbitros do quadro regional. A Série Prata começa
a segunda fase com juízes de Santa Catarina.
Denúncia aponta a existência de uma conta suspeita em nome de Antônio Carvalho,
antigo vice-presidente da Comissão de Arbitragem. Dirigente nega ter operado
esquema de corrupção. Imprensa ouve o árbitro Evandro Roman, do quadro da CBF, e
escuta um desabafo. Ele diz que corrupção envolve
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Foto:
ao centro o árbitro Marcos Tadeu Mafra, que apitou A. Paranaense
3x3 Coritiba, na final do Campeonato Paranaense 2004 |
apitadores da capital e exige uma lavagem de roupa suja entre
os colegas em pleno TJD. Cinco anos se
passaram, ninguém foi punido e alguns dos citados esperam a prescrição do caso
para pedir indenizações na justiça. Confira abaixo
as reportagens publicadas na época pela mídia sobre o assunto:
Bomba relógio: será que desta vez a
casa cai? 20 de setembro de
2005, 15h49 - O árbitro Evandro Roman pode entrar para a história do futebol
paranaense dentro de algumas horas. O apitador promete denunciar os árbitros que
participam de um suposto esquema de arbitragens tendenciosas.
Em entrevista nesta manhã de terça-feira no programa Mesa Redonda (CNT), Roman
afirmou que há dez anos (seria uma data cabalística?) o futebol paranaense está
corrompido por más arbitragens. E promete levar provas, novas testemunhas e
citar nominalmente quais são os árbitros paranaenses que participam de um
suposto esquema de corrupção no futebol paranaense. Tudo isto desde que a
imprensa esteja presente.
Se Evandro Roman confirmar perante a imprensa o que diz saber, certamente o
futebol paranaense mudará de rumos nas próximas horas.
A grande dúvida que fica é: será que este suposto esquema de corrupção nas
arbitragens atinge apenas a segunda divisão do nosso futebol? Ou será que a
primeira divisão também sofre deste mal?
Nos últimos dias os principais veículos de comunicação do estado têm destacado o
que pode se tornar em breve o maior escândalo do futebol brasileiro. Entre estes
veículos, os respeitados jornais Tribuna do Paraná e Gazeta do Povo (do qual
retiramos as reportagens abaixo) e os programas esportivos das TVs CNT, TVE, SBT
e RPC (programações regionais), além das diversas rádios e sites especializados
que cobrem o futebol no Paraná.
SÉRIE PRATA - Dirigente do Operário
revela em programa de tevê suposto esquema de arbitragem para beneficiar o clube
O "mensalão" do Fantasma
Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
O técnico Ricardo Pinto disse desconhecer o suposto esquema: "R$ 2 mil é
dinheiro para caramba diante da nossa folha de R$ 35 mil".
Um suposto esquema de arbitragem coloca em xeque a campanha do Operário na Série
Prata. O time de melhor campanha da Segundona paranaense é suspeito de pagar
propina aos juízes. O "mensalão" do Fantasma vem à tona no momento de
ressurreição de um dos clubes mais tradicionais do interior do estado.
A polêmica veio à tona na noite de domingo, durante o programa Histórias do
Esporte, veiculado pelo canal ESPN Brasil. E saiu de dentro do próprio Estádio
Germano Krüeger.
No especial "Paraná de Prata e de Lama", o presidente do Conselho Deliberativo
do Fantasma, Sílvio Gubert, revela a necessidade de uma ajudinha aos árbitros
além da taxa fixa da Federação Paranaense de Futebol (FPF) – em torno de R$
1.200 para o trio titular, mais o árbitro reserva.
O valor inicial do "mensalão" da Prata seria de aproximadamente R$ 2 mil por
jogo. "Um jogo desses, se não der dois paus, ele faz o jogo do outro (time).
Isso na primeira fase. Na segunda fase é mais", declarou Guber à ESPN.
No esquema do Operário, o Marcos Valério (publicitário apontado como operador do
esquema de propinas no governo federal) da Série Prata é chamado de Bruxo.
Segundo a matéria, uma pessoa ligada à FPF telefonaria informando quem seriam os
árbitros de cada jogo e pegaria o dinheiro no estádio antes de cada partida.
"Foi uma surpresa para mim. Fui assistir ao programa na casa da minha mãe
achando que seria legal, contando o trabalho bonito que estamos fazendo e vi
aquilo. Uma decepção", disse o presidente do clube, Sílvio Komoski, à
Gazeta do Povo, por telefone.
Diante do impacto da denúncia, ele convocou uma coletiva para Silvio Gubert
esclarecer suas declarações. "O que falei foram coisas da história do
futebol paranaense. Não as que acontecem hoje. Foi tudo editado. Não vou pedir
demissão do clube. Peço desculpas apenas por ter sido ingênuo e acreditado em
pessoas sem credibilidade", defendeu-se o dirigente, que disse ter
conversado com um advogado para analisar o caso.
O repórter Ronaldo Kotscho, da ESPN Brasil, participou da matéria e da edição e
rebateu as explicações. "Temos a fita bruta. Está claro que ele não falava
do passado, ocorre agora neste campeonato. Inclusive no dia do jogo ele ia
separar um agrado para a arbitragem", disse à Gazeta.
O jornalista pondera que na partida em questão, Operário e São José dos Pinhais,
o juiz Antônio Oliveira Salazar Moreno em nada influenciou no 0 a 0. Os donos da
casa tiveram, inclusive, um gol anulado corretamente.
O técnico do clube, Ricardo Pinto, disse não acreditar no esquema. "Se estão
pagando, não estão fazendo o trabalho direito porque em vários jogos reclamamos
da arbitragem. Estamos liderando o campeonato e sempre achei que o mérito era só
nosso. R$ 2 mil é dinheiro para caramba diante da nossa folha salarial de R$ 35
mil", desabafou.
Ana Luzia Mikos
MENSALÃO DO APITO - Denúncia de suborno pode
causar a eliminação do Operário, de árbitros e dirigentes
Temporada de caça aos "bruxos"
A Federação Paranaense de Futebol (FPF) saiu à caça do "Bruxo" – alcunha dada ao
operador do suposto esquema de corrupção na arbitragem. Uma busca que pode até
mesmo acarretar na eliminação do Operário, líder do Grupo A da Série Prata.
Dizendo-se indignada com o possível mensalão de R$ 2 mil dado aos juízes para
manipular resultados, a entidade solicitou ontem ao Tribunal de Justiça
Desportiva (TJD-PR) a abertura de inquérito contra a equipe de Ponta Grossa e o
seu diretor e tesoureiro Sílvio Gubert, responsável pela propagação do suborno.
Em reportagem da ESPN Brasil, veiculada no domingo à noite, o cartola
ponta-grossense revelou a existência de caixa 2 no apito e também deu a entender
que repassava dinheiro do clube ao (ainda) anônimo intermediário. O esquema
estaria garantindo ao representante dos Campos Gerais sucesso em campo.
Caso seja confirmada a culpa, o Fantasma da Vila Maria – assim como os
atravessadores e receptores – seria enquadrado no artigo 241 do Código
Brasileiro de Justiça Desportiva ("Dar ou prometer qualquer vantagem a
árbitro ou auxiliar de arbitragem para que influa no resultado da partida, prova
ou equivalente.").
A pena nesta situação surge como uma das mais pesadas: o banimento dos
envolvidos. "Serão expulsos do quadro da Federação. Não podem mais
participar do futebol", explica Bortolo Escorssim, presidente do TJD-PR.
"A situação do dirigente parece clara, pois não há dúvida do envolvimento.
Devemos averiguar se o clube sabia desse ato ilícito. Só assim será punido",
completa.
Diretamente ligada ao imbróglio, a FPF de Onaireves Moura partiu rapidamente à
ofensiva. Além de acionar o tribunal, a entidade garante estar à procura dos
possíveis responsáveis. Quer rapidamente sair limpa dessa situação.
"Pedi a todas as associações da Série Prata para que me passassem informações
sobre esse tal de Bruxo, figura da qual jamais ninguém ouviu falar. Queremos
saber a verdade. Quem garante tal existência, terá de se explicar. Nem que para
isso cheguemos ao extremo de quebrar sigilo telefônico ou coisa do gênero",
avisa Moura.
Também atingidos pela denúncia, os árbitros são solidários na rápida apuração do
delito. O tom de crítica (desprovido de corporativismo) ganha força com o juiz
Henrique França Triches, comandante da Associação Paranaense de Árbitros,
atualmente com 280 filiados.
"Queremos saber não só quem articulava isso, mas também aqueles que entraram na
rede. Se existe essa tramóia, alguém aceitou receber dinheiro sujo",
comenta. "Não acredito que hoje algum idiota possa receber algo dessa
natureza para beneficiar um time. Mas agora ele (Sílvio Gubert) terá de citar
nomes judicialmente. Se for verdade o que este cidadão disse, estaremos diante
de um bando de sem-vergonha."
Rodrigo Fernandes
MENSALÃO DO APITO - Cartola se afasta do
Fantasma
Ponta Grossa – O suposto esquema de mensalão na Série Prata já começou a ter
efeitos no Operário. O presidente do Conselho Deliberativo e ex-presidente do
clube, Sílvio Gubert, que revelou o esquema de arbitragem, não é mais o diretor
administrativo e de finanças do Fantasma. Uma reunião da diretoria na noite de
segunda-feira decidiu destituí-lo do cargo. No entanto, Gubert continuará como
presidente do conselho, função que ocupa após ter sido eleito pelos conselheiros
do clube no começo desse ano.
"Decidimos afastá-lo para evitar constrangimento com o elenco e a torcida",
afirma o diretor de futebol do Operário, Marcelo Brustolin. Segundo ele, Gubert
não terá mais uma participação ativa no clube e tampouco exercerá plenamente o
cargo no conselho, de fiscalizar e aprovar as contas do Fantasma. "O
engraçado é que várias vezes o Gubert tirou dinheiro do bolso para pagar dívidas
do clube", revelou Brustolin.
De acordo com o presidente do clube, Sílvio Cosmoski, após o afastamento, Gubert
ficou abatido e viajou para uma chácara em Teixeira Soares (a 43 km de Ponta
Grossa), onde ficará para evitar represálias da torcida. "Na reunião, ele se
prontificou a sair, pediu desculpa a todos os diretores e chorou", disse
Cosmoski.
Sílvio Gubert foi presidente do Fantasma por três gestões, de 1996 a 2002.
"Ele sempre trabalhou muito para o Operário. Ele é de confiança, só que foi
ingênuo", afirma Cosmoski, que enviou um comunicado à Federação Paranaense
de Futebol (FPF) pedindo desculpas pelas declarações do dirigente.
Eduardo Biagini
MENSALÃO DO APITO
- Série Prata desmoralizada
escândalo do mensalão no apito desmoralizou a arbitragem,
os dirigentes e toda a disputa da Série Prata. Integrantes do torneio – que
garante duas vagas na elite do futebol paranaense em 2006 – não escondem mais o
temor pela corrupção nos gramados.
"Vou filmar todos os meus jogos. Iremos acompanhar o juiz desde a saída dele do
vestiário ao campo até ele ir embora do estádio. Não quero ser roubado",
anuncia Nélson Boreico, diretor do Prundentópolis, segundo colocado no Grupo A –
atrás do Operário, supostamente beneficiado pelo esquema.
"Estou com o pé atrás. Já não sei se entrarei em campo para disputar uma partida
ou perder antecipadamente. Como não tenho dinheiro, acho que entro perdendo",
lamenta João Carlos Domingos, presidente do São José, antepenúltimo lugar na
mesma chave.
Preocupações à parte, nenhum clube procurado pela reportagem da Gazeta do Povo
diz conhecer o chamado "Bruxo" – operador do esquema para manipular resultados
por R$ 2 mil. Mas alguns dizem já ter ouvido falar do assuntos antes dele vir à
tona em Ponta Grossa.
"São coisas que só corriam nos bastidores. O que estão falando aí é o que o
mundo do futebol sempre falou. Nunca ninguém me assediou ou pediu nada, até
porque sabe que sempre fui contrário à administração Moura", diz Hélio
Camargo, homem-forte da Portuguesa Londrinense.
A Lusinha foi o único clube profissional a votar contra o dirigente na eleição
do ano passado. "Quem fez a denúncia (dirigente do Operário) esteve junto
com ele na campanha. São parceiros dele", completa.
A opinião ganha força nas palavras de João Batista, presidente do Kashima – o
lanterna da competição. "Tenho filhos, netos e não quero ficar com a consciência
pesada por acusar alguém. Só que há forças ocultas, sim. O problema é que não
tem como provar, pois foge pelos dedos", ataca.
"O campeonato ficou desmoralizado. O Operário, após a atitude daquele dirigente,
jogou seus 90 anos de história no lixo. Ao invés de Fantasma, virou uma
minhoquinha assustadora", segue o dono da equipe de Guaratuba, em tom
indignado.
O Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-PR) marcou para amanhã os depoimentos de
Sílvio Gubert, o cartola que teria pago propina para favorecer o time
ponta-grossense, e Sílvio Kosmoski, o presidente da equipe denunciada.
Rodrigo Fernandes
MENSALÃO DO APITO
- Árbitro planeja atuação cala-boca em Londrina
O Operário, carinhosamente chamado de Fantasma, costumava assombrar os
rivais no Campeonato Paranaense, especialmente nas décadas de 50 e 60, pelo
futebol competitivo. Agora, quem fica de cabelo em pé por ter de encontrar o
time de Ponta Grossa em campo é o árbitro.
Depois do escândalo protagonizado pelo presidente do Conselho Deliberativo do
clube, Sílvio Gubert, que admitiu o pagamento de propina para evitar que o clube
fosse prejudicado pelos homens de preto, todos os movimentos dos apitadores
serão minuciosamente observados. Se o Marcos Tadeu Mafra "policiamento" da
atitude dos juízes será reforçado para toda a rodada do fim de semana, o foco
será ainda maior no duelo que envolve o pivô de toda a confusão.
Sorteado para comandar o confronto do Alvinegro com a Portuguesa Londrinense,
domingo, às 15 horas, Nilo Neves de Souza Júnior procura encarar a situação com
tranqüilidade. Mas sabe que qualquer erro em Londrina pode servir de argumento
para complicar ainda mais a imagem já arranhada da categoria no estado.
"A responsabilidade de apitar um jogo como este fica maior depois da confusão.
Até porque qualquer falha pode agravar a crise. Vamos ter de apitar cada lance o
mais em cima possível para inibir controvérsias e, de repente, até calar a boca
de quem vem acusando a gente", comentou.
Segundo ele, porém, o desenrolar da história durante a semana mostrou que não há
envolvimento da arbitragem no esquema. "Ficou claro que, se existe isso, é
coisa de pessoas de fora, não de árbitros", disse ele.
Gol anulado
Nilo anulou o gol de empate do Prudentópolis contra o mesmo Operário, dia 14 de
agosto, aos 47 minutos do segundo tempo, mas diz que o episódio não o coloca
ainda mais em evidência. "É coisa da paixão. Naquele momento, os dirigentes
não gostaram, reclamaram, mas depois todo mundo viu pela tevê que não havia nada
de ilícito na minha atitude", afirmou. "Estou muito tranqüilo. A gente
se prepara para isso."
Sandro Gabardo
MENSALÃO DO APITO - Integrante do Tribunal diz
que dirigentes do Operário mentiram ao negar compra de árbitro
Lágrimas não convencem TJD
Os dirigentes do Operário não conseguiram convencer o Tribunal de Justiça
Desportiva (TJD-PR) de que são inocentes no suposto esquema de corrupção na
arbitragem da Série Prata – o chamado "mensalão do apito".
Sílvio Cosmoski e Sílvio Gubert (os presidentes dos conselhos Gestor e
Deliberativo do clube ponta-grossense, respectivamente) prestaram depoimento
ontem sobre a possível existência de propina no futebol paranaense. Falaram
pouco, estavam tensos e não agradaram ao auditor que comanda o inquérito.
"Em alguns momentos, eles faltaram com a verdade", percebeu Octacílio
Sacerdote Filho, membro do TJD responsável pela investigação. "Sinceramente,
não fiquei convicto do que eles falaram", completou.
As declarações de Gubert, personagem central desta história, acabou sendo o
ponto alto da apuração. Após revelar em entrevista à ESPN Brasil a existência do
"Bruxo" (o intermediário entre o clube e o juiz para o acerto de resultados),
agora ele disse que tudo não passou de um mal-entendido. E chorou.
"No meu dia-a-dia, costumo tratar as pessoas por 'fera' e 'bruxo'. É o meu jeito
de falar. Para mim, seria a mesma coisa que chamar alguém de 'senhor'. Isto sai
continuamente da minha boca", disse ele, orientado de perto pelo advogado
Domingos Moro – que curiosamente também presta serviço jurídico à Federação
Paranaense de Futebol (FPF).
Com relação à entrega de R$ 2 mil à arbitragem (pagamento que leva à suspeita de
suborno), Gubert usou os tributos obrigatórios como justificativa. "Pagamos
5% da renda para o INSS, mais os R$ 500 de taxa que são entregues à FPF, além do
pagamento dos quatro árbitros, algo entre R$ 1.200 e R$ 1.600. É isto",
contou.
Após anunciar ter tido uma "educação que não permite atos ilícitos" e
destacar a origem humilde como argumento de defesa, o homem que detonou essa
crise moral não suportou a tensão. "Estou sendo execrado por conta de tudo
isso", desferiu, já com a voz embargada e lágrimas no rosto.
Em seguida, foi a vez de Cosmoski falar. As contas do Operário acabaram sendo o
grande trunfo do responsável pelo time com apenas uma derrota na divisão de
acesso (equipe-sensação, contabilizando 73,8% de aproveitamento em 14 jogos).
"Temos uma despesa mensal de R$ 60 mil e arrecadamos em torno de R$ 20 mil.
Trabalhamos no vermelho e possuímos muitas dívidas. É um absurdo dizer que
compramos alguém, pois não temos dinheiro suficiente para cumprir nossos deveres
normais", destacou o cartola que comanda o clube dos Campos Gerais.
Uma coincidência foi verificado nos dois depoimentos: a dupla garante não ter
tido contato com pessoas ligadas à FPF nos últimos tempos – livrando a cara da
entidade. Justamente essa versão causou uma séria desconfiança no auditor.
"Estamos em setembro e até agora nenhum contato. Estranho...", questionou
Sacerdote Filho. "Eles foram muito bem orientados."
Além dos responsáveis pelo Operário, o presidente da Comissão de Arbitragem,
Valdir de Souza, também se pronunciou. Ele abriu a sessão e fez questão de
destacar que há transparência na escala de árbitros. Reforçou ainda o fato de
jamais ter sido importunado pelas associações (leia-se veto ou interferências).
Rodrigo Fernandes
MENSALÃO DO APITO - Valdir de Souza pede
afastamento para dar "liberdade às investigações" sobre corrupção
Crise derruba chefe da arbitragem
O mensalão do apito fez ontem a primeira vítima. O empresário Valdir de Souza
pediu afastamento do comando da Comissão de Arbitragem – após um ano e três
meses à frente do cargo.
A decisão do dirigente foi motivada pelas denúncias do ex-juiz José Francisco de
Oliveira (publicadas na edição de ontem da Gazeta do Povo), que afirmou existir
um esquema de corrupção e manipulação de jogos no futebol do estado.
Assim como o ex-chefe dos árbitros, toda sua equipe (com outros seis
integrantes) está momentaneamente fora da cúpula diretiva da Federação
Paranaense de Futebol (FPF). Onaireves Moura, presidente da entidade, já formou
um grupo temporário para suprir as baixas.
Três diretores da FPF – Henrique Mehl Amâncio, Dilon Valdrigues e Paulo Cézar
Silva – formam a partir de segunda-feira uma equipe provisória no comando da
Comissão de Arbitragem. "A medida do Valdir de Souza foi tomada para dar
maior transparência às investigações do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-PR).
Mesmo sem provas de que há esse suborno, ele achou essa a medida mais correta.
Não considero uma renúncia. É até louvável essa atitude. Acreditamos nele",
disse Moura, em entrevista coletiva ontem à tarde, acompanhado de todo seu
estafe (11 diretores).
FPF x Cidão
O homem-forte do futebol local também fez questão de desqualificar as
declarações de José Francisco de Oliveira, conhecido como Cidão. "Já
solicitei que esse senhor venha prestar o mais rápido possível depoimento sobre
esse episódio. Vamos desenvolver uma pesquisa sobre a vida pregressa deste
árbitro, que confessa participar do esquema. Por isso vamos levantar todas as
escalas de jogos em que ele atuou", prometeu.
E segue: "Sabemos que essa pessoa considerou gol um lance em que a bola foi
para fora no dia 20 de fevereiro, na partida entre Atlético e Império. Depois
disso cancelamos o seu registro e o TJD-PR acabou lhe aplicando uma pena de 120
dias. Ele recorreu e a decisão de puni-lo foi revogada no tribunal superior
(STJD). Pedimos então que ele passasse por novos testes físicos, mas preferiu
não comparecer. Saiu nos ameaçando e disse que iria explodir a Federação."
A "geladeira", mesmo com a decisão jurídica de absolvê-lo, está na ponta da
língua de Moura. "Como poderíamos colocar na ativa alguém que apitava
partidas em clubes sociais e sofria com piadas? Os jogadores mandavam verificar
se havia sido gol ou não. Não tinha a menor condição psicológica para trabalhar",
atesta.
Paulo Cézar Silva, um dos nomeados para pôr ordem no apito, evitou entrar na
polêmica. "Recebemos toda a liberdade para tocar esse novo desafio, com
isenção. Agora o que passou é de responsabilidade do TJD. Só na próxima semana
iremos assumir de fato a Comissão", avisou. Com isso, a rodada de hoje na
Série Prata (principal foco dessas denúncias) foi mantida.
Rodrigo Fernandes
MENSALÃO DO APITO - Cidão revela roteiro de
corrupção na arbitragem e afirma que mentor do esquema segue na FPF
O câncer continua, diz ex-árbitro
O suposto caso de estelionato na arbitragem – o chamado "mensalão do apito" –
começou a ganhar forma. E mais: invadiu a ante-sala do presidente da Federação
Paranaense de Futebol (FPF), Onaireves Moura.
Em nova entrevista à Gazeta do Povo, o ex-juiz José Francisco de Oliveira, o
Cidão, diz que o "Bruxo" – alcunha do operador da possível fraude – está ligado
à entidade esportiva. Também traz detalhes de como funcionava esse provável
esquema de compra de árbitros.
"Mexeram no departamento de árbitros (o ex-presidente da Comissão de Arbitragem,
Valdir de Souza, e sua equipe foram afastados).Tudo certo. Mas não tiraram o
câncer", diz o delator dessa história – via telefone, de Londres, onde tem
feito bicos no comando de jogos semiprofissionais.
De acordo com o depoimento de Cidão, o mentor do delito seria alguém próximo a
Onaireves. Fala de um cartola que teria o poder de manipular a escala de
árbitros dos jogos, passando por cima do sorteio exigido pelo Estatuto do
Torcedor.
"Essa pessoa me ligava chamando para ir à sua casa... Eu chegava lá e o cara me
dizia: 'Te coloquei em tal jogo. Só que depois da partida vão mandar uma
encomenda para mim através de você. Tudo bem?' Era um envelope. Nunca abri, pois
sou educado. Entregava-lhe fechado na segunda-feira. Ali ele dizia novamente que
eu iria para tal jogo. Essa era a minha rotina em 70% dos casos que aparecia no
apito", conta.
O ex-árbitro da FPF não apresenta provas. "Mas tenho todas guardadas embaixo
do meu travesseiro", avisa, seguindo firme nas palavras. "Tudo que
acontecia comigo, não estava sozinho. Sempre tinha alguém ao meu lado. São
amigos que vão até no inferno em meu testemunho. Gente que não tem nada a ver
com a arbitragem. Minhas armas são pesadas."
Mágoa e crise de consciência se misturam nesse discurso de revelações. Aos 45
anos, o responsável pela confirmação do gol atleticano contra o Império (20/2),
quando a bola foi à linha de fundo, não entende por que foi afastado após o erro
dos gramados. Esperava gratidão por se envolver em uma trama que nomeou de
"maracutaia".
"Estou tirando um peso das costas. Agora posso dormir tranqüilo", explica.
"Às vezes, ia rezando para o campo torcendo para não ter confusão. Fui muito
usado. Os caras bagunçaram comigo."
Ele também faz questão de dizer que fazia tudo em busca de trabalho. Aceitava
ser "bode expiatório" para atuar nas rodadas do futebol estadual. Assegura que
jamais recebeu propina. "Só me prestava a isso porque queria receber a minha
taxa", conta. "No meio de 200 árbitros, só eu fazia isso? Não ganhei
dinheiro, ganhei escala."
Cidão garante ainda que recebeu orientação para ajustar resultado apenas em um
caso específico. "No futebol amador, ouvi um papo de time da oposição à FPF.
O sujeito dizia que o Moura estava pedindo algo. Já ia para o trabalho com a
cabeça rachando", lembra.
Rodrigo Fernandes
MENSALÃO DO APITO - TJD aponta indiciados
O auditor do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), Otacílio Sacerdote Filho,
confirmou que até agora quatro pessoas serão indiciadas pelo suposto esquema de
manipulação de resultados no futebol paranaense. O ex-presidente e o ex-vice da
Comissão da Arbitragem, Valdir de Souza e Antônio Carvalho – afastados dos
cargos na semana passada –, o presidente licenciado do Conselho Deliberativo do
Operário, Sílvio Guber, e o ex-árbitro José Francisco de Oliveira, o Cidão, que
confessou sua participação no esquema.
Segundo Sacerdote, ainda não há indícios de envolvimento do presidente da
Federação Paranaense de Futebol (FPF), Onaireves Moura. Porém o dirigente pode
ser convocado para depor se aparecer alguma denúncia no decorrer das
investigações.
"Pelas provas que já possuo, estou convencido de que existe o esquema de
corrupção na arbitragem. Agora estou tentando conseguir meios de provar",
disse Sacerdote.
Os auditores querem ouvir Cidão. Considerado peça-chave no processo, o
depoimento do ex-árbitro é aguardado para apresentar as provas que diz ter.
"Precisamos interrogá-lo, nem que seja por e-mail". Porém, da Inglaterra,
Oliveira avisou. "Só vou depor em caso de ordem judicial."
Sacerdote quer saber quem eram as pessoas que estavam no jantar em que Cidão
teria dito que iria "chutar o balde". "Quem estava naquele jantar
provavelmente será indiciado. Sei que participaram seis ou sete pessoas.
Árbitros, dirigentes da Federação e da Comissão de Arbitragem", disse.
Ontem foram ouvidos o árbitro da partida entre Operário e São José (no dia 30 de
julho quando a ESPN Brasil gravou a reportagem), Antônio Salazar Moreno, o
representante da Federação no jogo, Arari Teixeira, vice-presidente afastado da
Comissão de Arbitragem, Antônio Carvalho, e os dirigentes da FPF, Almir Zanchi e
Johelsson Pissaia – inicialmente eles seriam ouvidos hoje, mas acabaram falando
no início da noite de ontem. "Todos disseram que não sabem de nada e
desconhecem qualquer esquema."
Robson De Lazzari
MENSALÃO DO APITO - Junta indicada pela FPF não
possui ex-árbitros, como exige a entidade
Comissão contraria a Fifa
A nova Comissão de Arbitragem da Federação Paranaense de Futebol (FPF) – nomeada
na semana passada, em meio à suspeita de corrupção no apito estadual – nasceu em
desacordo com as orientações da Fifa.
Segundo o órgão que dita as regras do esporte no planeta, faz-se obrigatória a
presença de ex-árbitros ("com vasta experiência") na cúpula do apito. A decisão
aparece na circular 763, divulgada em julho de 2001, mas não prevê sanções
específicas para quem a contraria.
Após a crise do "Bruxo" (alcunha do responsável por operar o suposto esquema de
compra de arbitragem), a FPF colocou à frente da arbitragem três dirigentes sem
nenhuma história como juiz de futebol: Henrique Mehl, Dilon Valdrigues e Paulo
César da Silva.
"Foi uma decisão emergencial, feita em cima da hora. Ficou complicado encontrar
alguém para dar essa contribuição. Na história da Federação, sempre tivemos
pessoas ligadas à função no comando deste departamento", disse Onaireves
Moura, presidente da FPF.
"Passado esse período de investigações, poderemos voltar com o Valdir de Souza
(o ex-chefe da Comissão que pediu afastamento, assim como outras cinco pessoas
ligadas a ele, durante o inquérito do mensalão). Também estudaremos trazer
alguém especializado na área. É preciso se restabelecer antes de buscar um nome",
completa.
Apesar da justificativa, há quem cobre uma rápida providência – sobretudo devido
ao momento delicado da categoria, envolvida em denúncias de propina.
É o caso do ex-árbitro Valdir de Córdova Bicudo, hoje superintendente da
delegacia do Alto Maracanã, em Colombo. "Sou favorável à criação imediata de
um colegiado. Só assim resolveremos essa situação caótica no campo ético e
moral. Ex-profissionais como Ivo Tadeu Scatola, Luís Carlos Pinto de Abreu,
Valdir Festugato, Tito Rodrigues e José Carlos Megher teriam todas as condições
de moralizar tudo isso", sugere.
José de Assis Aragão, atual presidente da Associação Nacional dos Árbitros
(Anaf), lamenta a falta de isenção. "Com certeza estão colocando gente
ligada de alguma forma às equipes. Infelizmente, essas pessoas podem agir com o
coração e não com a razão", adverte. Paulo César da Silva surge como
candidato à presidência do Paraná; e Dilon Valdrigues veio do Combate
Barreirinha, time amador de Curitiba.
Moura refuta essa ameaça na imparcialidade. "Todo mundo tem histórico de
filiação a algum time. Eu mesmo tenho. O que vale não é o passado, mas o
presente. Mesmo que eles sejam conselheiros de alguma associação, não exercem
função administrativa", defende.
Amanhã, às 14 horas, na sede da Federação, ocorre o sorteio da escala de
árbitros para a primeira rodada da segunda fase na Série Prata (Segunda Divisão
do Paranaense). Será a primeira ação efetiva da saída provisória que afronta a
entidade máxima do futebol.
Rodrigo Fernandes
MENSALÃO DO APITO - TJD rastreia telefonemas
O Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) tomou novas medidas para tentar descobrir
quem são os envolvidos no suposto esquema de manipulação de resultados no
futebol paranaense. As contas telefônicas da Federação Paranaense de Futebol
(FPF) e de aparelhos celulares utilizados por diretores da entidade foram
requisitadas para se checar quantas vezes havia conversas entre possíveis
corruptores.
"Pedimos essas contas ao departamento financeiro da Federação. Quero ver esses
extratos para saber se realmente há um excesso de ligações para este ou aquele
envolvido no caso. Por que tanta conversa?", questionou o auditor do
Tribunal, Otacílio Sacerdote Filho.
Além disso, todas as súmulas de partidas dirigidas pelo ex-árbitro José
Francisco de Oliveira, o Cidão, nos anos de 2004 e 2005 foram solicitadas – na
edição de ontem da Gazeta do Povo, o ex-juiz disse que trazia uma encomenda para
um dirigente da FPF dentro de um envelope.
"Vamos ver quais eram os clubes que estavam atuando em cada partida que ele
(Cidão) apitou. Aí vamos perguntar se mandaram algum tipo de envelope para a
Federação e o que tinha dentro", afirmou.
Porém, mais do que interrogar os clubes, Sacerdote quer ouvir José Francisco de
Oliveira. Ontem, um e-mail foi enviado para o ex-árbitro que está na Inglaterra
tentando demovê-lo da intenção de só falar sob ordem judicial. "Vou tentar
falar com ele até o fim dessa semana. Ele é peça-chave na investigação."
O ex-presidente do Sindicato dos Árbitros do Paraná, Amoreti Carlos da Cruz,
único convocado para depor ontem no TJD, não compareceu. Amanhã terminam os 15
dias de prazo para conclusão do processo. Porém a prorrogação de mais 15 dias –
prevista em lei – será utilizada. A intenção é concluir a investigação até o fim
da semana que vem.
Robson De Lazzari
MENSALÃO DO APITO - Entidade decide "importar"
juízes para apitar na Série Prata enquanto corrupção é investigada
FPF coloca árbitros sob suspeita
Todos estão sob suspeita. Essa é a conclusão natural após o afastamento
provisório dos árbitros e auxiliares que já atuaram na edição 2005 da Série
Prata. Quatro juízes de Santa Catarina foram indicados para a primeira rodada da
segunda fase do torneio, marcada para o fim de semana. Os bandeiras serão do
quadro da Federação Paranaense de Futebol (FPF), mas não haviam sido escalados
em nenhuma partida até o momento.
Segundo o presidente da FPF, Onaireves Moura, a medida emergencial será
prorrogada até o encerramento do inquérito sobre corrupção, em andamento no
Tribunal de Justiça Desportiva (TJD).
"Não estamos pondo em dúvida nenhum nome. Acontece que todos foram jogados na
lama, sem provas, por uma certa pessoa (José Francisco de Oliveira, o Cidão, que
denunciou o suposto esquema). Anteriormente a Federação tinha argumentos para
avalizar sempre árbitros locais, mas no momento não podemos fazer isso", afirmou
Moura, que culpa a desunião dos apitadores paranaenses pela situação ter
atingido tal estágio.
A contradição nas palavras de Moura aparece no momento em que todos os juízes
foram afastados de uma vez. A generalização deixou a classe em uma situação
pouco confortável, conforme deixa claro o presidente da Associação de Árbitros
do Paraná (AAP), Henrique França Triches. "Sou contra. Estão fazendo um
pré-julgamento. Todo mundo, inclusive eu, está colocado sob suspeita. É uma
decisão precipitada que, espero, seja rapidamente revista."
Nos próximos quatro jogos da Série Prata, os catarinenses Paulo Henrique de
Godói Bezerra, Jéfferson Schmidt, João Fernando da Silva e José Acácio da Rocha
serão os mediadores. Se a questão não for resolvida até a segunda rodada,
novamente serão requisitados juízes de fora. Para a seqüência, a solução
apontada pela FPF é uma "limpa" no quadro de arbitragem.
Porém, Moura sustenta que a obrigação de conduzir o processo de depuração não é
da entidade. Ele solicitou à AAP uma lista com o nome dos árbitros considerados
aptos a continuar trabalhando. O documento será levado a apreciação dos clubes,
antes de chegar às mãos do ouvidor do Campeonato Paranaense, José Roberto Dutra
Hajebock.
"Está sendo tudo jogado para a Federação. Mas não cabe a nós assumir a
responsabilidade sobre a idoneidade de pessoas que não conhecemos. Temos cerca
de 400 filiados e é impossível garantir a conduta moral de todos",
justificou Moura.
Para evitar injustiças, ele prometeu que qualquer veto será analisado
cuidadosamente antes de o árbitro ser afastado definitivamente. Porém o quadro
não deve sofrer mudanças.
A AAP dificilmente fará algum corte. "Não tenho indícios para vetar nenhum
membro. Se o TJD descobrir o envolvimento de algum dos nossos filiados, será
prontamente afastado. Mas, com a investigação em curso, não posso barrar
profissional algum. Todos, em princípio, estão aptos", argumentou Triches.
Nícolas França e Rodrigo Fernandes
MENSALÃO DO APITO - Crise expõe racha na
arbitragem
Valterci Santos/Gazeta do Povo
Dirigentes realizam sorteio para a próxima rodada da Série Prata.
A crise que vive a arbitragem local começa a expor uma classe fragilizada, com
pouca assistência, refém da política adotada pela Federação Paranaense de
Futebol (FPF) e, sobretudo, desunida.
Sem harmonia fora de campo, os profissionais do apito que atuam no estado não
conseguem nem mesmo formar um grupo de representação trabalhista. Estão
divididos e longe de encontrar um caminho para o consenso.
Tem-se, de um lado, uma associação – com aproximadamente 280 filiados e o
reconhecimento de Onaireves Moura. Do outro, surge o sindicato da categoria –
formada por 54 ex-juízes e desprezada pelo presidente da FPF.
"Não temos amparo legal algum. Há casos de colegas que deixaram os estádios
correndo, fugindo por buraco de alambrado. A Federação é o nosso patrão e deve
nos dar um seguro e acatar as taxas de jogo aprovadas em convenção", cobra
Amorety Carlos da Cruz, responsável pelo Sindicato Profissional dos Árbitros de
Futebol do Paraná (Sinpaf).
Diante deste quadro, denuncia-se um possível boicote do dirigente para evitar a
sonhada coalizão. Dissemina-se a idéia de que brigar pelos direitos pode ser
sinônimo de "geladeira" na escala dos jogos.
"Fizemos uma Assembléia Geral, no dia 27 de agosto, às 9 horas, no Pinheirão.
Queríamos unificar todo o quadro. Estava presente dois chefes da Delegacia
Regional do Trabalho (DRT) para nos mostrar as vantagens. No mesmo horário, na
sede da FPF, o Moura rapidamente deu força à associação. Resultado: não
conseguimos a união", lamenta Amorety.
"Não sou a favor de um ou de outro. A associação tem 100% do quadro e 20
anos de história. É a parte legítima. Na minha opinião, o sindicato é para
atender classes de trabalhadores – como metalúrgicos, por exemplo. E árbitros
são autônomos, trabalham por meio de recibo", justifica Onaireves. Além do
Paraná, somente o Acre não tem uma corporação com poder político de
representação.
O juiz Henrique França Triches é o responsável pela Associação de Árbitros do
Paraná (AAP) – órgão com problemas financeiros (reconhece uma dívida de R$ 24
mil) – e que às vésperas de vazar a história do "Bruxo" amargou a renúncia de
Francisco Carlos Vieira da presidência.
Ele evita polêmica. "Não sei os motivos que fazem o sindicato ter pouco
apelo entre os colegas. Cada um tem sua cabeça, age de forma autônoma e deve ter
seu motivo pessoal. Estamos fazendo a nossa parte pelo fortalecimento da
arbitragem paranaense", aponta.
Rodrigo Fernandes e Nícolas França
MENSALÃO DO APITO - TJD investiga conta
suspeita e "caso Cidão"
O inquérito que investiga a suposta corrupção na arbitragem paranaense – o
chamado "mensalão do apito" – abre hoje a segunda etapa de depoimentos no
Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-PR).
No rastro da investigação, surgem agora duas frentes: o caminho deixado pelo
juiz José Franciso de Oliveira, o Cidão; além da conta bancária do antigo
vice-presidente da Comissão de Arbitragem, Antônio Carvalho.
O auditor do caso, Octacílio Sacerdote Filho, convocou para depor os dirigentes
de Atlético, Nacional, Rio Branco, Engenheiro Beltrão, Paranavaí e Império do
Futebol – clubes com jogos mediados por Cidão. Eles serão ouvidos a partir das 9
horas, na sede do TJD-PR.
Na lista de depoimentos também entrará o assistente Rogério Luder, que
participou do gol inexistente na partida Atlético e Império, em 20 de fevereiro.
"Não posso ajudar em nada nessa apuração, mas vou aparecer por não ter nada a
esconder", avisa o bandeirinha.
Mas o ponto alto do dia deve envolver a denúncia de caixa 2 que ganhou força no
fim de semana passado. A história diz respeito aos possíveis depósitos de
dirigentes e árbitros na conta de Antônio Carvalho, vice de Valdir de Souza –
antigo chefe do apito regional.
"Temos denúncias anônimas que diretores de dois clubes andaram fazendo
contribuições suspeitos. Estas envolveriam o Engenheiro Beltrão e o
Prudentópolis", antecipa Otacílio Sacerdote Filho. "Não temos provas,
mas esperamos pelo menos a colaboração e alguns testemunhos importantes",
completa.
O presidente do Engenheiro Beltrão já se manifestou. Em nota à imprensa, Luiz
Heitor Linhares não entende como está sendo envolvido na crise. Quer esclarecer
os fatos, sobretudo, as insinuações de Evandro Roman (o árbitro paranaense do
quadro da CBF afirmou que o time do Noroeste poderia colaborar com o fim da
corrupção).
"Estamos vendo no futebol uma nova versão do filme Harry Potter, pois o que mais
temos são bruxos – uns 15, segundo ele (Roman)", ataca. "Ele jogou ao
vento palavras confusas e levianas, sem se quer apontar uma prova, o que já
admite não ter." Citado como suspeito,o presidente do Prudentópolis, João
Ituarte, também é esperado pelo Tribunal.
Entenda o caso
A suspeita de corrupção na arbitragem paranaense começa a atingir dirigentes.
Uma história que já fez rolar cabeças e promete ainda mais.
* 28/8 – Em matéria veiculada na ESPN Brasil, dirigente do Operário confirma dar
R$ 2 mil ao chamado "Bruxo", alguém ligado à arbitragem. O pagamento garantiria
um apito amigo.
* 6/9 – O ex-árbitro José Francisco de Oliveira diz à Gazeta do Povo que
participou da corrupção na arbitragem, garante que Valdir de Souza, chefe do
apito na FPF, era conivente. Toda a Comissão de Arbitragem pediu afastamento do
cargo. Assume uma junta provisória.
* 14/9 – Onaireves Moura comunica a CBF da crise e recebe a orientação de
afastar todos os árbitros do quadro regional. A Série Prata começa a segunda
fase com juízes de Santa Catarina.
* 16/9 – Denúncia aponta a existência de uma conta suspeita em nome de Antônio
Carvalho, antigo vice-presidente da Comissão de Arbitragem. Dirigente nega ter
operado esquema de corrupção.
* 17/9 – Imprensa ouve o árbitro Evandro Roman, do quadro da CBF, e escuta um
desabafo. Ele diz que corrupção envolve apitadores da capital e exige uma
lavagem de roupa suja entre os colegas em pleno TJD.
Rodrigo Fernandes
MENSALÃO DO APITO
- Dirigente do Engenheiro Beltrão diz ter feito dois depósitos na conta de
Bortolo Escorsin
Cartola implica presidente do TJD
Marcelo Elias/Gazeta do Povo
O auditor Otacílio Sacerdote Filho promete finalizar até quinta o inquérito do
mensalão do apito.
O depoimento do presidente do Engenheiro Beltrão, Luís Heitor Linhares, ontem,
no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) sobre o mensalão do apito deixou marcas
para todos os lados. Entre as afirmações, a mais grave atingiu o principal
integrante do órgão que está tentando elucidar a situação: o presidente do TJD,
Bortolo Escorsin.
O cartola apresentou um comprovante de depósito feito por ele na conta conjunta
de Escorsin, e da vice, Adriana de França. O dinheiro (R$ 100) é referente ao
pagamento da taxa de recurso da ação que confirmou a queda do Engenheiro no
Paranaense em primeira instância.
Linhares contou ainda que em 2004 a pena imposta pelo TJD ao atacante Élton
Alexandre da Silva, de sua equipe Júnior, era de dez cestas básicas e foi paga
da mesma maneira: depósito na conta de Escorsin.
"Eu ligava para ele (Escorsin) e perguntava como eu pagava essas taxas. Ele
respondia: 'Põe na minha conta'."
De acordo com o artigo 176 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), os
pagamentos de penas e taxas devem ser feitos para a "entidade que rege o
desporto". No caso, a Federação Paranaense de Futebol (FPF).
"A FPF tem um sério problema de CNPJ e por isso o Tribunal nos autorizou a abrir
essa conta para recebimento de valores dos clubes do interior. Os da capital
pagam aqui no guichê da Federação. Mas reconheço que a situação é irregular",
admitiu Escorsin, que disse ter mandado cancelar a conta.
O jurista afirmou não temer a perda de credibilidade do Tribunal porque está
"apenas ajudando os clubes do interior". Ele também revelou o destino dos
recursos arrecadados.
"O dinheiro, que não chega a R$ 1,5 mil por mês, é usado para pagar o cafezinho,
a Internet, a água e o material de escritório que a Federação deixa conosco.
Todos os clubes sabem disso, é uma prática de muitos anos. Repassei as cestas
básicas para entidades de assistência", confirmou.
O diretor financeiro da Federação, Cirus Itiberê da Cunha, desmentiu Escorsim.
Ele disse que o nome da FPF não está sujo, e existe uma conta específica para o
depósito de taxas e multas. "Não sei por que ele está usando a conta
particular", disse.
Convocado para depor após o Engenheiro – rebaixado na Série Ouro deste ano – ser
citado pelo árbitro Evandro Rogério Romam como um clube que "poderia dar
detalhes" sobre a manipulação de resultados no estado, Linhares desabafou.
"Depois que ele citar e provar quais são os 15 nomes que estão envolvidos no
esquema, eu sento frente a frente com ele. Não adianta ficar jogando coisas no
ar, tem de provar. Por que não veio aqui hoje (ontem)? É um pipoqueiro",
disse.
O dirigente também disse ter feito um depósito na conta de Antônio Carvalho,
ex-vice presidente da Comissão de Arbitragem, e um investimento de R$ 10 mil em
avestruzes – através da empresa Top Avestruz do presidente da FPF, Onaireves
Moura.
"A pedido do Johelsson Pissaia (diretor administrativo da Federação), fiz o
investimento nos avestruzes. Em setembro do ano passado, depositei na conta do
Carvalho para pagar as despesas de um torneio Sul-Brasileiro amador que ocorreu
em Engenheiro Beltrão. Mas nunca paguei nenhum dinheiro de propina",
afirmou.
Pissaia negou ter solicitado a Linhares o investimento na compra das aves.
Robson De Lazzari
MENSALÃO DO APITO - Profissionais do estado
voltam à Série prata na rodada do fim de semana
Federação tira árbitros paranaenses da geladeira
A geladeira aos árbitros paranaenses na Série Prata acabou. O presidente da
Federação Paranaense de Futebol (FPF), Onaireves Moura, e o novo presidente da
Associação Paranaense de Árbitros de Futebol (Apaf), Henrique França Triches,
chegaram ontem a um acordo para que os apitadores do estado voltem a trabalhar
no próximo fim de semana.
Na rodada disputada no domingo, foram "importados" profissionais de Santa
Catarina. A Federação considerou arriscado escalar pessoas que pudessem estar
envolvidas no mensalão do apito.
O suposto esquema de corrupção foi o principal tema da posse de Triches, ontem à
noite. O médico fez um discurso bastante duro, cobrando transparência e atacando
os juízes que vão à imprensa denunciar sem provas os árbitros supostamente
envolvidos no esquema. O recado foi claramente para Evandro Roman, que depor
hoje no TJD, e José Francisco de Oliveira, que fez graves denúncias sobre o
caso.
"Emprestei meu nome para acabar com esse mar de lama que virou a arbitragem
do Paraná. Precisamos parar com o que chamo de onda Roberto Jefferson (deputado
federal do PTB cassado por quebra decoro parlamentar após tornar público o
esquema do mensalão no governo federal). Acusar é fácil, mas cadê as provas?",
afirmou, para uma platéia de aproximadamente 50 pessoas ligadas ao apito
estadual.
pedindo algo. Já ia para o trabalho com a cabeça rachando", lembra."Se
vocês sabem de corrupção, falem, denunciem. Quem tem como provar que vá ao
tribunal e dê nome aos bois. No que depender da associação, todo o apoio será
dado para que isso aconteça", prosseguiu.
Triches disse ainda que o registro dos árbitros comprovadamente envolvidos no
caso será cassado. Partindo no entanto da premissa de que todos são inocentes
até que se prove o contrário, ele tornou a pedir mais responsabilidade aos
acusadores. Partiu até mesmo para uma ameaça velada.
"Eu não escondo bandido. A laranja podre terá de sair do nosso convívio para não
prejudicar o trabalho de quem é honesto. Eu faço questão de não aceitar a
inscrição de quem estiver envolvido com corrupção. Que vá apitar em Santa
Catarina ou no Paraguai. Aqui no Paraná, não", argumentou. "E o mesmo
vale para quem denuncia sem provas. Ou fala tudo o que sabe ou não abra a boca",
complementou.
Carlos Eduardo Vicelli
05/01/2008 - gazetadopovo.com.br
Fifa premia a coragem de Roman
Exatamente 28 meses após denunciar o maior esquema de corrupção no apito
paranaense, o árbitro Evandro Rogério Roman se sentiu recompensado. Aos 34 anos,
esse gaúcho radicado em Cascavel entrou para o quadro da Fifa – ápice na
carreira do juiz de futebol.
Em setembro de 2005, em meio às denúncias de fraude em partidas no estado,
ele ganhou fama ao dar o nome de integrantes da máfia dos “bruxos” – como ficou
conhecido o escândalo. Graças à delação, o Superior Tribuna de Justiça
Desportiva (STJD) veio a banir na seqüência seis envolvidos do esporte.
“Quando expus toda aquela organização, coloquei a minha cabeça na bandeja”,
lembra Roman, ainda comemorando a ascensão profissional. “Não tinha escolha:
falava ou largava esse meio. Era impossível conviver com a maracutaia. Limpamos
90% daquela quadrilha, que tinha ramificações em todas as cidades.”
Roman – apesar do desgaste vivido na época – hoje considera o ato um dos
motivos que o levaram ao topo da profissão. “Hoje, sem dúvida, é o meu cartão de
visitas”, diz.
Com a promoção, o apitador se credencia para representar a arbitragem brasileira
nas próximas três Copas do Mundo – em 2018 ganha aposentadoria compulsória ao
completar 45 anos. “Entrei na disputa por esse sonho”, vibra. Também passa a ser
valorizado pelos jogos trabalhados – a taxa pula de R$ 1.600 para R$ 2.700.
Além da atuação no campo ético, o novo promovido também destaca a jornada
acadêmica como primordial para esse momento. “Tenho uma vida dedicada ao estudo.
Sou doutor em Educação Física pela Unicamp, professor universitário... Me
preparei para chegar nesse momento”, destaca ele, que ocupará a vaga perdida
pelo paulista Wilson Seneme (reprovado nos testes físicos).
“Fui o árbitro com maior número de partidas trabalhadas no último Brasileiro
(22 vezes). Mas acho que 2005 foi realmente decisivo para mim. Além do bruxos,
teve a história do Edílson Pereira de Carvalho, com 11 jogos anulados, nos quais
eu fui escalado para comandar três deles. Ali eu me destaquei bastante”,
comenta.
O Brasil está hoje representada na Fifa por dez árbitros e dez assistentes.
Além de Roman, mais dois integrantes do quadro da Federação Paranaense de
Futebol (FPF) fazem parte do seleto grupo internacional: o juiz Heber Roberto
Lopes (de Londrina) e o bandeirinha Roberto Braatz (Marechal Cândido Rondon).
23/09/2005 - parana-online.com.br
Cidão aponta Pissaia como o chefão
Uma nova denúncia de corrupção comprometeu definitivamente a cúpula da
Federação Paranaense de Futebol no �caso Bruxo�. O árbitro José Francisco de
Oliveira, o �Cidão�, citado como membro da �máfia do apito�, envolveu Johelson
Pissaia, o braço-direito de Onaireves Moura, no esquema de venda de
resultados.
Cidão, que mora na Inglaterra, concedeu entrevista por telefone à Rádio
CBN. E revelou detalhes de um suposto esquema ilegal que teria a participação,
além de Pissaia, do departamento de árbitros da entidade.
Cidão disse que em quase todos os jogos que apitava era incumbido por
Pissaia de trazer-lhe um envelope. �Toda segunda-feira levava o envelope na
casa dele, na Vila Hauer. Eu achava esquisito e perguntava o que era. Ele
respondia que era coisa dele�, falou o árbitro, que ficou famoso ao assinalar
um gol do Atlético num chute que foi para fora, em partida contra o Império do
Futebol, no Estadual-05. Cidão foi um dos seis árbitros citados pelo colega
Evandro Rogério Roman como membro do esquema de venda de resultados.
Os sorteios que determinavam quem apitava cada partida não passavam de
encenação, disse Cidão. Valdir de Souza, diretor de árbitros entre maio de
2004 e o final de agosto de 2005, receberia ordens diretas de Pissaia.
�Nunca houve sorteio. Eu sabia o jogo que ia apitar 10 ou 15 dias antes.
Algumas vezes, o Johelson ligava da casa dele para o Valdir e dizia: O Cidão
vai apitar tal jogo, tal dia. Eu só escutava: tá fechado�, declarou.
Segundo o árbitro, Pissaia não chegou a solicitar diretamente o
favorecimento a este ou aquele clube. �Mas ele insinuava, ficava no
cerca-lourenço, dizia �sabe como é...�. Eu sempre estava de olho nele, se me
pedisse algo voava no pescoço dele�, disse Cidão.
Para Cidão, o �Bruxo� - personagem responsável por intermediar a venda de
resultados - é Pissaia. �Não sei o dos outros, mas para mim o bruxo é o
Johelson. Nunca vou esquecer este nome. Ele brincou comigo. Eu tenho coragem
de falar, se outros tiverem, que façam o mesmo�, detonou.
Ao saber das declarações de Pissaia, que em depoimento ao TJD disse que
Cidão tinha mágoa por não ter sido protegido no caso do �gol que não foi gol�,
o árbitro reagiu. �É bobagem. Assumi aquele erro e os maiores juízes do
futebol brasileiro me defenderam�, rebateu.
Diretor deve ser indiciado também
Johelson Pissaia deve se tornar o mais novo indiciado no inquérito que o
auditor Octacílio Sacerdote Filho entrega hoje à Procuradoria do Tribunal de
Justiça Desportiva. As denúncias de José Francisco de Oliveira reforçam
algumas suspeitas que já recaíam sobre o diretor administrativo da FPF.
Sacerdote já havia solicitado a conta do telefone celular que a entidade
forneceu para Pissaia. Há registros de mais de 40 ligações daquele número para
o ex-diretor de árbitros Valdir de Souza, que mora em Francisco Beltrão.
Embora o contato entre os dois fosse justificável por suas funções, o auditor
estranhou o grande número de ligações.
O presidente do Engenheiro Beltrão, Luiz Linhares, afirmou ao TJD que
Pissaia lhe pediu para investir no empreendimento Top Avestruz, à época com
participação do presidente Onaireves Moura. Linhares disse que investiu R$ 10
mil, alegando que se tratava apenas de uma aplicação financeira sem ligação
com o futebol.
O auditor também soube da existência de um documento protocolado na FPF, no
qual funcionários da tesouraria da entidade teriam denunciado a Onaireves
Moura o suposto envolvimento de Pissaia no �caso Bruxo�. O diretor teria
reagido e ameaçado pedir uma acareação judicial com os acusadores. �Pedi à FPF
este documento, mas até agora não recebi�, disse Sacerdote.
O auditor confirmou ter ouvido �comentários� indicando que Pissaia possuiu
dois números de CPF. O site da Receita Federal atesta que há um registro em
nome de José Johelson Pissaia e outro no de José Joelson Pissaia - sem o �H�.
No inquérito a ser entregue hoje, Sacerdote irá indiciar pelo menos nove
pessoas: os árbitros Carlos Jack Rodrigues Magno, Amoreti Carlos da Cruz,
Antônio de Oliveira Salazar Moreno, José Francisco de Oliveira (�Cidão�) e
Sandro César da Rocha, denunciados na terça-feira por Evandro Rogério Roman;
Valdir de Souza e Antônio Carvalho, que eram presidente e vice da Comissão de
Arbitragem da FPF; e os dirigentes Silvio Gubert, do Operário, e Genezio
Camargo, do Foz do Iguaçu - este último confessou ter pagado suborno a Cidão
num jogo da Série Prata do ano passado.
Contra-ataque é uma queixa-crime
Uma queixa-crime por calúnia e difamação foi a resposta de Johelson Pissaia
às acusações do árbitro José Francisco de Oliveira, o �Cidão�. O homem de
confiança de Onaireves Moura rebateu as denúncias de que recebia envelopes
estranhos de clubes do interior, creditou o fato a uma mágoa pessoal de Cidão
e pediu afastamento temporário de suas funções na Federação Paranaense de
Futebol.
O diretor administrativo da FPF chamou Cidão de �débil mental�. �Nunca
influenciei escalas de arbitragem, de profissionais ou amadores. Ele quer
sujar meu nome�, defendeu-se, negando que alguma vez interferiu para escalar o
árbitro.
Pissaia lembrou que uma de suas filhas morou alguns dias com Cidão em
Londres, onde o árbitro vive hoje. �Por ter feito um favor, exigiu que eu
fizesse quantos ele quisesse. Mas nunca poderia rasgar um ato da presidência
da Federação�, falou Pissaia, citando o afastamento do árbitro logo após o
episódio do �gol que não foi gol�, no jogo Atlético x Império, no início do
ano. �Depois que foi absolvido no STJD, falei para ele vir fazer os testes
físicos. Luder (assistente naquela partida) fez, mas Cidão entrou com processo
e disse que iria abrir a boca. Ele tem muita mágoa de mim�, justificou.
Segundo Pissaia, os únicos envelopes que recebeu de Cidão continham
dinheiro enviado pela filha desde a Inglaterra. �É uma pessoa sem escrúpulo,
valente e que anda armada. Ele já havia ameaçado dar entrevistas para me
arrasar�, falou o dirigente, que pediu afastamento de uma semana para �esfriar
a cabeça�.
À tarde, Pissaia entrou com a queixa-crime contra Cidão no 6.º Distrito
Policial, dizendo-se profundamente abalado. Ele entrou com carta rogatória
solicitando que o árbitro seja obrigado a voltar ao Brasil para depor.
Valdir de Souza, diretor de árbitros citado por Cidão, também se defendeu.
Ele alegou que as escalas eram realizadas na FPF, com a presença de
testemunhas. �Nunca ouvi falar de a escala vazar 15 dias antes. A norma não
era essa. Se alguém fez isso, não fui eu�, afirmou.
Moura
O presidente da FPF garantiu que não irá poupar ninguém das investigações -
nem mesmo seu antigo parceiro Pissaia. Onaireves Moura enviou ofício aos
clubes profissionais e amadores solicitando que se manifestem se souberem de
algum �desvio de conduta� por parte do diretor administrativo. As respostas,
que devem ser entregues até às 18h de hoje, serão encaminhadas ao TJD. Moura
adotou o mesmo procedimento para apurar denúncias contra árbitros, mas apenas
o Foz do Iguaçu enviou informações importantes.
Escala da Prata sem bruxaria
Sem os suspeitos da �bruxaria�, a comissão interina de arbitragem da FPF
definiu ontem os apitadores da 2.ª rodada da segunda fase da Série Prata.
Participaram do sorteio cinco árbitros - entre eles Ito Dari Rannov e
Sandro Schmidt, que estavam entre os 12 �escudeiros� de Evandro Rogério Roman
no depoimento que entregou a lista dos acusados de compor a �máfia do apito�.
Ito vai dirigir Platinense x Arapongas, e Sandro, Cascavel x Maringá.
Os outros designados são Cleivaldo Bernardo, que apita Prudentópolis e
Umuarama, e Antônio Denival de Morais, mediador de Toledo x Operário. O quinto
nome na �cumbuca� foi o de Nilo Neves de Souza Júnior. Ele só participou do
sorteio para o jogo Cascavel x Maringá.
16/02/2006 - parana-online.com.br
STJD julga hoje 13 pessoas denunciadas no escândalo do apito
Em um dia sem futebol no Paraná, os olhos dos desportistas do estado vão
estar voltados para um prédio no centro do Rio de Janeiro.
A partir das 16h, no STJD, começa o julgamento do recurso do �Caso
Bruxo�, que tomou conta do noticiário em boa parte de 2005, teve duas
sentenças e ainda não parece completamente esclarecido. Surgido e
�esquentado� por conta do trabalho da imprensa, o caso tem hoje seu último
capítulo na esfera esportiva.
A história começou com as denúncias do dirigente do Operário, Sílvio
Gubert, que em conversa com jornalistas da ESPN Brasil admitiu que existia
um �Bruxo� no futebol paranaense - que seria o responsável por �acertar�
resultados de partidas mediante altos pagamentos em dinheiro. O caso
explodiu no Tribunal de Justiça Desportiva, que abriu inquérito para
averiguar o que havia de verdade no caso.
Dali em diante, árbitros, dirigentes de clubes e da Federação Paranaense
de Futebol começaram a ser ouvidos - e muitos entraram em contradição. Os
depoimentos dados ao auditor do TJD, Otacílio Sacerdote Filho, acabaram
dando aos responsáveis pela investigação a certeza que o caso teria que ir a
julgamento.
O procurador que acompanhou os �bruxos� foi Davis Bruel, que ofereceu
denúncia a 13 pessoas: os dirigentes Genézio de Camargo (Foz do Iguaçu),
Gílson Pacheco (Marechal Cândido Rondon) e Sílvio Gubert; os árbitros José
Francisco de Oliveira, Amoreti Carlos da Cruz (aposentado), Antônio Salazar
Moreno, Carlos Jack Rodrigues Magno, Marcos Tadeu Mafra e Sandro César da
Rocha, os ex-diretores de arbitragem Valdir de Souza, Antônio Carvalho e
Fernando Luiz Homann, e o diretor da FPF Johelson Pissaia.
No primeiro julgamento, que começou no dia 10 de outubro de 2005 e só
terminou no dia seguinte, foram eliminados do futebol Camargo, Pacheco,
Gubert e Oliveira - o ex-árbitro, conhecido como Cidão, deu entrevistas
afirmando que iria �contar tudo�, e que sabia quem comandava a �máfia�.
O resultado acabou sendo
mal-recebido, e oito dias depois aconteceu uma inédita reconsideração,
que acabou eliminando do futebol Salazar Moreno, Mafra, Sandro da Rocha e
Johelson Pissaia.
A última instância no direito esportivo é o Superior Tribunal de Justiça
Desportiva - que, por sinal, tem hoje a primeira reunião depois da
modificação imposta pelo Conselho Nacional de Justiça, que proibiu que
desembargadores da ativa façam parte do STJD - caso do ex-presidente do
órgão, Luiz Zveiter. Por isso, também acontecerá hoje a eleição da nova mesa
diretora do Tribunal.
Depois, vão para o banco dos réus Johelson Pissaia, Antônio Oliveira
Salazar Moreno, Marcos Tadeu Silva Mafra, Sandro César da Rocha (que foram
punidos), Amoreti Carlos da Cruz, Antônio Carvalho, Carlos Jack Rodrigues
Magno, Fernando Luiz Homann e Valdir de Souza (que foram absolvidos). Além
deles, vai estar lá o futebol paranaense, ansioso por uma decisão realmente
justa.
Clima promete ser quente
Alguns nomes vão ficar bem evidentes durante o julgamento desta tarde, no
Rio de Janeiro. O auditor do STJD Eduardo Machado Costa, o procurador Paulo
Schmitt e o advogado Domingos Moro vão estar entre os protagonistas da
decisão final do �Caso Bruxo�. Será dos argumentos (e dos documentos deles)
que os juízes do Superior Tribunal de Justiça Desportiva vão tirar os pontos
para a absolvição ou punição dos acusados.
Eduardo Machado Costa é o relator do caso - foi ele quem recebeu o
inquérito da procuradoria do STJD. Neste órgão, um dos nomes mais fortes é o
de Paulo Schmitt, paranaense e procurador-geral do Tribunal. Domingos Moro
será o defensor de seis envolvidos (quatro condenados e dois absolvidos). Em
texto no FutebolPR, ele manifesta sua expectativa em relação ao julgamento.
�Antevejo as conseqüências e os prováveis resultados, mas preparo-me da
melhor maneira possível para a tentativa de uma �virada processual��,
afirma.
Um dos possíveis caminhos da defesa é a �incoerência� de algumas decisões
- entre elas a punição aos árbitros no segundo julgamento e o aparecimento
de novas denúncias no final do ano passado, que não foram analisadas pelo
Tribunal paranaense. Entre elas, a do �Caso Bruxo 2�, que estaria sendo
enviada para a Procuradoria de Investigações Criminais (PIC) sem qualquer
julgamento.
Laslowski e Escorsin tentam se explicar
E o �Caso Bruxo 2�, também está na pauta de hoje. Mas não é nos
tribunais, nem mesmo nas investigações da PIC. Às 17h, o procurador do TJD,
Adão José Laslowski, e o presidente do órgão Bôrtolo Escorsin vão conceder
uma entrevista coletiva na sede da Federação Paranaense de Futebol - e
segundo a nota enviada pela assessoria da entidade, o assunto será
exatamente a segunda leva de denúncias, que envolviam altos diretores da FPF.
Desde o último sábado surgiram informações de um possível arquivamento do
caso ou do envio dos documentos para a PIC - notícia que agitou os
bastidores do TJD, pois alguns auditores acreditavam que o caso iria a
julgamento. O �Caso Bruxo 2� tem origem na entrevista de um ex-jogador do
Engenheiro Beltrão à Tribuna, afirmando que houve manipulação de resultados
na Série Prata em 2004. Depois, entrevistas do árbitro José Francisco de
Oliveira, o Cidão, e gravações de conversas entre ex-árbitros reforçaram as
denúncias contra a cúpula da Federação Paranaense e do departamento de
arbitragens da entidade.
12/10/2005 - .parana-online.com.br
TJD livra da fogueira a maioria dos "bruxos"
Uma montanha de caixas de pizza vazias, consumidas durante as 18 horas do
julgamento do �Caso Bruxo� e largadas nos fundos da Federação Paranaense de
Futebol, ilustra bem o resultado do fato jurídico mais importante do futebol
paranaense nos últimos anos. A seqüência quase interminável - e ainda em
andamento -de denúncias de corrupção envolvendo árbitros, dirigentes de clubes
e membros da entidade que administra a modalidade no Estado resultou em apenas
quatro condenações, de um total de 13 denunciados. Entre os eliminados do
futebol, um fato em comum: todos revelaram falcatruas no esporte local.
Acabaram pagando o pato sozinhos.
O julgamento, que começou às 13h30 de segunda-feira, foi encerrado somente
às 7h30 de ontem, na sede do Tribunal de Justiça Desportiva da FPF. Havia
perspectiva real de que o anúncio dos votos fosse adiado para quinta-feira,
mas o Tribunal decidiu levar o caso até o fim.
A quantidade de denunciados fez o rito tornar-se cansativo. O depoimentos
de 11 réus - já que José Francisco de Oliveira, (Cidão) não compareceu e o
dirigente Genézio de Camargo, do Foz do Iguaçu, foi dispensado da palavra ao
confirmar a confissão por escrito feita ao TJD - só terminou por volta das
21h. Houve momentos de tensão, como a tentativa de agressão do acusado Amoreti
Carlos da Cruz contra Evandro Rogério Roman.
Os depoimentos das testemunhas de acusação também foram quentes. O
ex-diretor de arbitragem José Carlos Marcondes confirmou denúncias contra o
sucessor Fernando Luiz Homann e o árbitro Antônio Salazar Moreno. Depois veio
Evandro, autor das principais acusações, mas que decepcionou em parte por não
trazer provas nem citar casos concretos de envolvimento de colegas de apito em
maracutaias. Ele apenas acrescentou uma suposta tentativa de acerto feita em
2003 pelo Coritiba -caso que pode gerar novo inquérito no TJD.
Os diretores Nelson Boreico e João Alberto Ituarte, do Prudentópolis
botaram lenha grossa na fogueira. Eles acusaram o diretor da FPF Johelson
Pissaia de pedir pessoalmente o pagamento de R$ 60 mil, a ser dividido em três
partes, para o clube subir à Série Ouro em 2005. Revelaram que o intermediário
de Pissaia era o árbitro Marcos Tadeu Mafra, que encontrou-se com Boreico no
Shopping Curitiba. E apresentaram uma agenda com vários telefones de árbitros
e assistentes, que o próprio Mafra confirmou ter anotado de próprio punho.
Entre acusação e defesa, foram ouvidas 30 pessoas. Depois se pronunciaram
os advogados de defesa e por último a procuradoria. Ao final, quando o sol já
raiava, os oito auditores se posicionaram e condenaram apenas os três
dirigentes de clubes do interior que admitiram o pagamento de suborno -Camargo,
Gílson Pacheco, do Marechal Cândido Rondon, e Sílvio Gubert, do Operário, além
de Cidão, que também admitiu o envolvimento no esquema. Todos foram eliminados
do futebol.
Já os árbitros Amoreti Carlos da Cruz (aposentado), Antônio Salazar Moreno,
Carlos Jack Rodrigues Magno, Marcos Tadeu Mafra e Sandro César da Rocha, os
ex-diretores de arbitragem Valdir de Souza, Antônio Carvalho e Fernando Luiz
Homann, e Johelson Pissaia, todos acusados de envolvimento com o que se
convencionou chamar de �máfia do apito�, foram absolvidos. Contra alguns deles
havia mais de um testemunho incriminatório.
Nos casos de Salazar, Magno, Mafra, Sandro e Pissaia, aconteceu empate em
quatro a quatro - resultado que beneficiava os réus. Livres, os nove acusados
comemoram a chance de seguir prestando serviços à federação de Onaireves
Moura.
Recurso
O procurador do TJD, Davis Bruel, falou logo após o julgamento que vai
recorrer da decisão. Ele tem três dias para interpor recurso no Superior
Tribunal de Justiça Desportiva da CBF (STJD). Em relação aos condenados, o
presidente Bôrtolo Escorssin informou que o TJD terá que entrar com recurso
obrigatório no tribunal nacional.
Julgamento está em xeque
Um erro de direito pode colocar em xeque o julgamento dos acusados no
escândalo de corrupção na arbitragem. Segundo o procurador geral do STJD,
Paulo Marcos Schmitt, o TJD do Paraná errou ao absolver os indiciados.
Dos 13 acusados, quatro foram condenados. Dos nove restantes, Antônio
Salazar Moreno, Carlos Jack Rodrigues Magno, Johelsson Pissaia, Marcos Tadeu
Mafra e Sandro da Rocha foram absolvidos com empate de 4 a 4 nos votos dos
auditores. É justamente nestes casos que estaria o problema. �Nesses casos
vale o voto mais qualificado, que é o do presidente�, disse Schmitt à Tribuna.
Bôrtolo Escorsin, presidente do TJD, votou pela condenação.
Schmitt se baseia no artigo 131 do CBJD: �Nos casos de empate na votação,
ao presidente é atribuído o voto de qualidade, salvo quando se tratar de
imposição de pena disciplinar, casos em que prevalecerão os votos mais
favoráveis ao denunciado, considerando-se a pena de multa mais branda do que a
de suspensão�.
O dilema está em definir se o caso se enquadra ou não como pena
disciplinar. Este foi o entendimento do TJD, contestado por Schmitt. Existe
jurisprudência consolidada no STJD sobre o assunto. A decisão deveria ser pela
condenação e não pela absolvição, afirmou.
Ontem, no Rio, mais acusados foram
punidos pelo STJD
Paraná on-line 17/02/2006 - Após mais de três horas, no
final de um dia agitadíssimo no Superior Tribunal de Justiça Desportiva,
aconteceu o julgamento do Caso Bruxo, escândalo de arbitragem envolvendo
árbitros, ex-árbitros e dirigentes de clubes e da Federação Paranaense de
Futebol.
No final das contas, mais acusados foram punidos (antes oito, agora dez),
sendo que três tiveram a pena reduzida, dois a pena aumentada, dois antes
absolvidos foram punidos e outros três absolvidos.
O ex-árbitro Amoreti Carlos da Cruz acabou sendo o maior punido do
julgamento. De absolvido no TJD-PR, ele foi eliminado do futebol.
Os ex-diretores de arbitragem Fernando Luiz Homann e Antônio Carvalho,
absolvidos antes, pegaram dois anos de suspensão, mesmo caso dos árbitros
Antônio Oliveira Salazar Moreno e Marcos Tadeu Silva Mafra e do ex-diretor
da FPF Johelson Pissaia (estes foram eliminados do futebol no segundo
julgamento).
O árbitro Sandro César da Rocha, eliminado no TJD-PR, foi absolvido.
Foram absolvidos (assim como aconteceu no TJD-PR) o ex-árbitro Carlos
Jack Rodrigues Magno e o ex-presidente da Comissão de Arbitragem Valdir de
Souza. Além dos nove julgados ontem, foram reconfirmadas as penas do
ex-árbitro José Francisco de Oliveira e dos ex-dirigentes Genézio de
Camargos, Sílvio Gubert e Gílson Pacheco, que já no primeiro julgamento do
TJD-PR foram eliminados.
O caso foi julgado por apenas cinco auditores: Virgílio Val (que presidiu
a sessão), José Mauro Couto de Melo, Caio César Vieira Rocha, Paulo Valed
Perry e Eduardo Machado Costa, que foi o relator do caso.
O primeiro a falar foi Eduardo Machado Costa, que apontou os principais
detalhes do relatório, que tinha 1.463 páginas. Em dado momento, o auditor
comentou a reação do presidente da FPF, Onaireves Moura. Ele foi astuto,
agindo antes que outras coisas acontecessem, afirmou. Depois, foi a vez do
procurador-geral do STJD, o paranaense Paulo Schmitt, que apresentou algumas
das razões do pedido do procurador Alexandre Quadros - este pediu a punição
de todos, tanto os absolvidos quanto os eliminados do futebol pelo TJD-PR.
�Este é um processo de provas testemunhais, e elas levam para a decisão
pedida pelo procurador�, disse Schmitt.
A defesa foi iniciada por Vinícius Gasparini, que representou Johelson
Pissaia. O advogado argumentou que não havia razão de o presidente do TJD-PR,
Bôrtolo Escorsim, votar no primeiro julgamento. O caso estava resolvido, não
tinha motivos dele votar, disse Gasparini, que completou pedindo que os
auditores não encerrassem a carreira de Pissaia. Uma pessoa com quinze anos
de futebol não pode ser condenada sem provas e ser chamada de bruxo do
futebol paranaense.
Logo depois, veio Domingos Moro, advogado de Fernando Luiz Homann, Sandro
César da Rocha, Marcos Tadeu da Silva Mafra, Antônio Oliveira Salazar Moreno
e Carlos Jack Rodrigues Magno (Amoreti Carlos da Cruz, Antônio Carvalho e
Valdir de Souza foram julgados à revelia). Ele repetiu o argumento da falta
de provas, lembrando que o �Caso Bruxo 2 corre risco de sequer ser julgado.
Por que isto acontece? A quem interessa o esquecimento deste e a lembrança
do primeiro caso�, disse.
Moro também alfinetou Escorsim. Todos os ex-presidentes que votaram pela
absolvição dos árbitros não usaram contas pessoais para receber multas do
TJD, como aconteceu com o atual, atirou - por sinal, a história fez com que
o presidente do TJD-PR entrasse em rota de colisão com Paulo Schmitt.
O advogado encerrou seu pronunciamento afirmando que os cinco acusados
defendidos por ele já se afastaram do futebol. Eles já têm uma mácula no
esporte, mas podem voltar a ter dignidade.
Os auditores resolveram votar em duas partes: primeiro foram para a pauta
os recorridos Antônio Carvalho, Fernando Luiz Homann (ambos pegaram dois
anos de suspensão por cinco votos a zero), Carlos Jack Magno (absolvido por
5x0), Valdir de Souza (absolvido por 4x1) e Amoreti Carlos da Cruz - este,
absolvido no TJD, acabou eliminado do futebol por três votos a dois.
Após, vieram os que foram punidos no segundo julgamento - os chamados
recorrentes. Os auditores decidiram suspender
Antônio Salazar Moreno (cinco votos a zero) e Marcos Mafra (três votos a
dois) por dois anos.
Sandro César da Rocha foi absolvido por três votos a dois. Fechando a
pauta, Joelson Pissaia foi punido com dois anos de suspensão.
Clima esquenta no STJD
Rio - Ficou para depois. Em uma
tarde de intensas negociações e de uma verdadeira batalha de bastidores, o
STJD não conseguiu realizar sua eleição -que acontecerá em uma sessão
extraordinária a ser marcada. Após ameaçar renunciar, o presidente interino
Rubens Approbato Machado aceitou permanecer no cargo e no tribunal. Apesar
de ninguém confirmar, a diretoria da CBF teria tentado intervir na política
interna do STJD.
Rubens Approbato Machado chegou ao Rio de Janeiro disposto a renunciar
por conta das interferências externas na eleição do tribunal. Eu sou um
advogado de 72 anos que pretende sempre a concórdia entre todas as pessoas.
Por conta disto, estava disposto a tomar a atitude que vocês (jornalistas)
já estavam sabendo�, confessou o presidente interino do STJD, em
manifestação pública antes do início da reunião de ontem.
Segundo pessoas ligadas ao tribunal, havia um movimento partindo da CBF
para que outro auditor (que seria Francisco Antunes Maciel Mussnich) fosse
candidato à presidência do STJD, fato que criou uma cisão interna. A reunião
de ontem quase não aconteceu - o que daria novos tons ao Caso Bruxo�, que
poderia até prescrever.
Após uma reunião entre os auditores, que durou quase uma hora, Approbato
aceitou permanecer no cargo (e no STJD) pelo menos até a eleição. Precisamos
de mais maturidade, de mais tempo, e de mais conversas. Não queria, mas
acabei aceitando. Não sou mais dono de mim. Vou ter até de mudar minha
passagem de volta para São Paulo, afirmou o presidente interino, que deixou
no ar a possibilidade de uma confusão política entre a CBF e o tribunal.
O escândalo não está instaurado hoje, atirou o advogado, que assumiu a
presidência do tribunal após o afastamento de Luiz Zveiter, por conta da
resolução do Conselho Nacional de Justiça que impede os desembargadores da
ativa de trabalharem na justiça desportiva.
Espera agonizante pros ex-árbitros
O STJD fica �encravado no centro do Rio - localizado na minúscula rua da
Ajuda, uma travessa entre as avenidas Nilo Peçanha e Rio Branco.
A reunião marcada para as 16h atrasou, e a espera parecia agoniar os
ex-árbitros Sandro César da Rocha, Antônio Oliveira Salazar Moreno e Marcos
Tadeu Silva Mafra. Eles conversavam apenas com o advogado Domingos Moro. Só
os jornalistas se movimentavam.
Com o correr dos minutos, profissionais (advogados e repórteres) ficavam
ainda mais ansiosos - principalmente por conta dos rumores que corriam no
tribunal, da possível renúncia de Rubens Approbato Machado.
Só uma coisa fez com que os ânimos serenassem, uma hora e meia depois: o
início da primeira sessão do STJD em 2006.
Rio ferve
O carioca não sabia para onde olhar na tarde de ontem. Enquanto muitos já
estão na contagem regressiva para o Carnaval, outros tantos só querem saber
do apoteótico show dos Rolling Stones, amanhã, na praia de Copacabana.
Para completar o frenesi, Franz Beckenbauer colocou seus pés na Calçada
da Fama do Maracanã. O Kaiser foi simpático, encontrou o conterrâneo e
técnico do Atlético Lothar Matthäus, elogiou o estádio, disse que o Brasil é
o grande favorito na Copa do Mundo (Se tivesse 1 dólar, apostaria 90
centavos no Brasil e 10 na Alemanha, afirmou) e saiu festejado pelos
cariocas.
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