"São Paulo, 07 de dezembro de
2004.
Informo através desta que desde o dia 27/11/04, com muita tristeza,
decidi deixar de ser árbitro da Federação Paulista de Futebol. Minha
indignação tornou-se tão grande que não havia outra decisão a ser
tomada. Vou citar os principais motivos (citar todos seria
impossível) pois ao contrário de alguns vocês tenho educação para
dar satisfação àqueles com os quais trabalhei durante alguns anos.
Para não perder muito meu
tempo vou relatar os fatos ocorridos desde janeiro de 2003. Fui
escalado para apitar na Copa São Paulo de Futebol Jr. e como de
costume, fui muito bem nas três primeiras rodadas da primeira fase
da competição sendo que no terceiro jogo fui observado pelo Roberto
Perassi (um ex-árbitro fracassado na minha opinião que é um dos
principais membros da Comissão) que disse ter gostado muito do meu
trabalho. Na fase das oitavas-de-final novamente fui elogiado pelo
Roberto Perassi e graças as minhas atuações fui escalado para apitar
a decisão do terceiro lugar entre Internacional de Limeira e Vasco
da Gama-RJ (25/01/03) e novamente tive uma excelente atuação.
Depois disso realizei e
passei no teste físico com os árbitros que atuariam nas séries A do
Paulistão e não haviam sido convocados para a Pré-Temporada. Para
minha surpresa cerca de um mês e meio depois do teste que realizei,
sem ter sido escalado sequer uma vez nesse período, recebi uma
ligação da Viviane, ex-funcionária da Federação, marcando uma data
para a realização do 'meu' teste físico. Indignado, disse a ela que
eu já havia realizado e passado no teste semanas antes. Em seguida
ela confirmou que eu estava correto, que havia um erro no controle e
que seria impossível a Comissão de Arbitragem me escalar, afinal
para eles eu ainda não havia realizado os referidos testes. Ou seja,
no mínimo foram amadores e/ou incompetentes pois me prejudicaram
graças a uma falta de organização se é que não houve má fé.
Como 'prêmio de consolação' fui escalado mais de dois meses depois
(lamentável, fiquei todo esse tempo de 'molho') em alguns jogos da
série B1 e mais uma vez fui bem nos jogos. Em seguida fui escalado
para dois jogos na série B3 e depois fiquei fora de escala. Com o
objetivo de saber se eu havia cometido algum erro liguei para
Roberto Perassi e o questionei se havia ocorrido algo de anormal.
Ele me disse que eu não podia menosprezar a B3 e eu disse a ele que
não menosprezava divisão alguma. Então, ele disse que eu ficasse
tranqüilo pois na semana seguinte eu participaria do sorteio.
Mentira, pois fiquei quase dois meses sem ser escalado e sem
participar de qualquer sorteio. Ou seja, essa conversa de que as
portas estão sempre abertas para os árbitros é conversa pra boi
dormir. Os árbitro não podem confiar na Comissão.
A única coisa que eu poderia fazer era ficar quieto esperando uma
nova oportunidade, uma nova 'chance' (como me humilhava tanto? como
os árbitros se humilham tanto?). Pois bem, voltei a ser escalado nos
jogos do SUB20 e quando tudo estava indo muito bem, após eu ter
recebido uma nota 8,1 no jogo entre Palmeiras X Atlético Sorocaba,
fui 'rebaixado”'para o SUB17 e SUB20 da Segunda. A única coisa que
podia fazer era esperar sem reclamar (era a escravidão? a
ditadura?). Bom, logo depois apitei um jogo SUB17 entre Ponte X
Guarani e “arrebentei”, apitei muitíssimo bem. Dias depois fui
chamado para uma reunião na Federação e lá tive que esperar o José
Manoel Evaristo (que é o principal membro da Comissão e até onde eu
sei era apenas um diretor de clube que nunca na vida apitou um jogo
de futebol) que demorou algumas horas (se fosse hoje o deixava
falando sozinho). Quando o referido chegou me disse que eu era um
bom árbitro, mas questionou-me se eu havia xingado jogadores no jogo
da Ponte X Guarani. Eu falei que não e eles acabaram acreditando no
que eu disse (parece brincadeira mas acreditaram em um árbitro) e em
seguida fui escalado para apitar uma semi-final do SUB17 entre
Corinthians X Rio Branco. Tudo bem no jogo como de costume e depois
foi só esperar o início do ano seguinte para trabalhar na Copa São
Paulo. Fui escalado para dois jogos “meia-boca” e na seqüência como
se tivesse dado “a louca” em alguém, fui convocado para a
Pré-temporada de Árbitros de 2004 (até agora não sei como isso
aconteceu).
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"Como
me humilhava tanto? Como os árbitros se
humilham tanto?"
Rodrigo Innocente na atualidade - Foto:
facebook |
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Na Pré-Temporada, apesar de
já ter ido em outra oportunidade como Árbitro Assistente, tive que
levar aqueles famosos trotes babacas e de mal gosto típicos de quem
sente-se o dono do mundo quando tem um pouquinho de “poder” nas
mãos. Entre outras coisas pintaram todos os “novatos” com batom e
esmalte em frente ao CEMA (Baixaria total, amadorismo puro, nunca se
ouviu falar em tanto baixo nível numa convenção de qualquer empresa
do mercado quando estão se preparando para um ano de trabalho mas na
arbitragem isso é comum) e o mais lamentável de tudo é que tudo foi
observado pela Comissão de Arbitragem e nada foi feito.
Na mesma pré-temporada
fomos “obrigados” a comprar bandeiras eletrônicas para podermos
trabalhar nas séries A do Paulistão, afinal quem não tivesse as
bandeiras não trabalharia de forma alguma. Fui lá com a maior boa fé
e desembolsei mais de R$1.500,00 para investir na minha carreira
(pior foi quem teve que gastar cerca de R$2.500,00 pela bandeira do
SAFESP - Sindicato dos Árbitros, que importou a bandeira de forma
incorreta e teve problemas com a Receita Federal).
Bom, depois do investimento de mais de R$1.500,00, de 10 dias fora
do meu trabalho, de sete anos na arbitragem, de ser elogiado pelo
Roberto Perassi e pelo José Manoel Evaristo acreditei que seria o
“meu momento”. Doce ilusão, fiz cerca de vinte reservas para poucos
árbitros bons e para muitos simplesmente ridículos e quanto a apitar
na série A? , me engana que eu gosto, apitei 5 jogos na B2 (última
divisão) e por melhor que eu tenha ido, não tive reconhecimento
algum. Depois disso fiz três joguinhos no SUB20 e mais nada. Como
lembrança tomei um calote em Bragança Paulista de quase R$250,00. Já
é o segundo da minha carreira, pois até hoje também não recebi uma
taxa de cerca de R$350,00 em Ourinhos dois anos atrás e o SAFESP
nada fez para que eu recebesse esse valor a que tenho direito.
SAFESP que por sinal faz muito pouco para acabar com o sorteio de
árbitros, para melhorar a taxa dos árbitros, para acabar com os
calotes, para buscar melhorias para os árbitros frente a FPF. O que
adianta o SAFESP estar sempre reunido com a FPF e agradá-la mais do
que aos árbitros que tanto precisam de apoio? O que adianta estar na
reunião entre FPF e árbitros, vê-los sendo chamados de burros e nada
fazer?
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Cansei, é muita humilhação
pra pouco retorno. Enquanto a arbitragem não for autônoma e
independente das Federações e Confederação nada ira mudar. Se os
árbitros estão “nas mãos” da Comissão de Arbitragem, que estão nas
mãos da Federação, que está nas mão dos clubes podemos dizer que os
árbitros estão nas mãos dos clubes? Acho que sim! Enquanto as coisas
continuarem assim vamos ver um monte de árbitros péssimos,
preocupados com a próxima escala. Eu estou fora! Livre para opinar!
Dos anos que passei trabalhando na FPF posso dizer que ganhei muitos
amigos! Aprendi muito! Apitei muito! Nunca fui “puxa-saco”, nunca
fui “pipoqueiro”, nunca fui “caseiro” e nunca fui “cirqueiro”! Nunca
tive uma reclamação. Saio de cabeça erguida e sei que cumpri minha
missão e árbitro de futebol com muita dignidade. Talvez os valores
estejam invertidos e atualmente sei que a realidade da arbitragem
não tem nada a ver com meus princípios".
Abraços aos amigos,
Rodrigo Innocente