repor a verdade sobre a podridão
existente nos bastidores do futebol brasileiro, doze anos depois daquele
fatídico cinco de maio, o ex-presidente do Papão, Miguel Pinho, veio a público e
confirmou que o seu clube foi beneficiado por esquema com a arbitragem, do qual
Serapião era o principal envolvido
As declarações de Miguel Pinho dadas
ao jornal "O Liberal" caíram como uma bomba e, além de comprovar que o honesto
geralmente sai perdendo dentro do futebol, deu a certeza da má vontade com que
os membros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tratam as reivindicações
e os protestos dos clubes potiguares. O ABC, historicamente, tem sido a
principal vítima da "madrasta" CBF, mostrando que na hora da queda de braços, o
lado mais fraco nunca vence.
De nada valeram os protestos da diretoria abecedista que, na época, era
comandada pelo empresário Eudo Larajeiras. Mesmo com as imagens de TV e fotos
mostrando as precárias condições de segurança no estádio da Curuzu, o alçapão do
Papão, que teve uma parte do alambrado derrubada pela torcida e dos grosseiros
"erros" de arbitragem cometidos por Serapião, o Tribunal Especial da CBF, na
época presidido por César Pinto Palhares fez vistas grossas ao protesto dos
potiguares e tratou de ir cozinhando o ABC em banho-maria. A casa do futebol
tinha como presidente em exercício, Alfredo Nunes, que viu o jogo no alçapão da
Curuzu.
Apesar do
restante dos jogos do Paysandu terem sido realizados sub-judice, o final da
história mostrou que os trabalhos de bastidores foram bem realizados. Pois nem o
Papão foi punido e o árbitro Manoel Serapião também ganhou como prêmio da
comissão de arbitragem, o direito de apitar a final realizada entre Paysandu x
Guarani.
Na ocasião,
Givanildo Oliveira que treinava o ABC, protestava dizendo uma frase que mais
parecia uma premunição do que ainda estava por vir. "Ai mais uma aberração
daquelas cometida pelo árbitro que não será punida. Amanhã ele estará novamente
apitando, cometendo suas barbaridades e prejudicando o trabalho honesto dos
outros."
Com as
declarações do ex-presidente Miguel Pinho, o que parecia ser apenas mais uma
daquelas coincidências do futebol, hoje faz muita gente pensar na montagem de um
esquema de bastidores bem maior, até porque algumas perguntas são difíceis de
responder. Como um árbitro que teve um trabalho contestado num jogo de quartas
de final, é escalado para apitar uma final de campeonato? Se o fato de Manoel
Serapião ter expulsado cinco jogadores do Guarani no jogo final, gerava apenas
alguma desconfiança, uma vez que "errar é humano", o que dizer agora depois do
desmascaramento do esquema?
A reportagem da
Tribuna do Norte tentou, sem sucesso, um contato com o árbitro Manoel Serapião,
que hoje é juiz da Junta de Conciliação da 5ª Sessão do Tribunal Regional do
Trabalho na Bahia. Já o árbitro carioca Wagner Tardelli, outro citado pelo
dirigente do Papão como integrante do esquema, disse que vai processar o
ex-presidente do Paysandu, Miguel Pinho, por calúnia e difamação.
O responsável
pelo departamento jurídico do ABC atualmente, José Wilson Gomes Netto, ao saber
da revelação, disse que não existe mais qualquer possibilidade do clube correr
atrás do prejuízo, já que o tempo foi suficiente para prescrever o crime.
"Ninguém pode fazer mais nada, só temos a lamentar que fatos desses ocorram
dentro do futebol. Mas o que antes, para os abecedistas, não passava de uma mera
desconfiança, depois das declarações passaram a ser certeza. Nosso time
realmente perdeu a vaga porque foi prejudicado pela arbitragem na época", disse
José Wilson.
Se não pode recorrer quanto ao passado, José Wilson lembra que o ABC continua
travando uma briga na Justiça com a CBF, por um caso que ele julga ter sido
novamente prejudicado. O fato envolve o Sampaio Corrêa, acusado de ter utilizado
um jogador de forma irregular nas partidas contra América e Náutico, mas que
escapou de perder os dez pontos previstos no Código Brasileiro Disciplinar do
Futebol (CBDF), por ter alegado falta de citação sobre o julgamento do atleta,
dizendo que o fax expedido pela secretaria do Superior Tribunal de Justiça
Desportiva (STJD), informando sobre o julgamento do atleta, teria chegado à
Federação Maranhense de Futebol, após o período das 18 horas de uma sexta-feira.
Apesar da infração ter sido cometida numa terça e no sábado, dias posteriores ao
julgamento.
O atual
presidente do ABC, Judas Tadeu, também fez questão de mostrar a revolta com a
situação. "Esta é outra prova do desrespeito que eles têm com o nosso futebol.
Por isso estamos nessa situação", comentou.
Leonardo Arruda, ex-presidente do clube tem uma opinião incisiva sobre o
problema. Segundo ele, faltou determinação aos dirigentes alvinegros e ao
representante da FNF na partida, Pio Marinheiro. "Alguém deveria ter tirado o
time de campo e levar a decisão para o tapetão. Faltou comando", fala. Leonardo
afirma, inclusive, que o técnico Givanildo, por ter origens no Pará, teria se
acomodado ante a situação e subestimado a pressão sobre os jogadores.
SEGUNDO JOGO - Em Belém, a polícia interviu para o jogo continuar |
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Mas a
revelação mais importante feita por Leonardo Arruda e que prova o
despreparo do clube para evitar cair nessas "armadilhas" foi a de que às
13h, quatro horas antes do jogo, recebeu uma ligação de Bruno Corte Real,
que estava no Pará. "Ele me perguntou o que deveria fazer pois o jogo
teria sido mudado do Mangueirão para a Curuzu. Disse que se na tabela
constasse o jogo no Mangueirão eles deveriam ir para lá e enviar um
protesto para CBF, ou deveriam fazer um protesto antes do jogo na Curuzu e
jogar sob-protesto", disse.
Vale
salientar que a CBF, já sob o comando de Ricardo Teixeira, fez vistas
grossas para a liminar conseguida pelo Alvinegro na Justiça potiguar,
pedindo a paralisação do Brasileiro. A competição prosseguiu e o time
potiguar não conseguiu evitar o rebaixamento para série C, em 2001. A
multa estabelecida pelo descumprimento da sentença por parte da CBF, hoje
está orçada em R$ 15 milhões, mas o processo se encontra parado. "A ação
se encontra parada aguardando o julgamento de um agravo de instrumento
apresentado pelo ABC, que deseja que a Justiça potiguar seja o fórum do
julgamento da ação, não o do Rio de Janeiro, como quer a CBF. De qualquer
forma |
a
briga continua e o julgamento do mérito da questão ainda pode favorecer ao
ABC", informou o responsável pelo departamento jurídico do clube que
promete brigar até o fim das instâncias. |
Alvinegro já foi vítima em outras ocasiões
Ninguém pode negar que duas coisas a CBF sabe fazer bem: prejudicar o ABC e
empurrar, quando existem outros interesses, julgamentos com a barriga. O clube
potiguar que já foi vítima de uma dura suspensão de um ano por ter usado um
atleta em condições irregulares, não conseguiu convencer ao Superior Tribunal de
Justiça punir o Sampaio Corrêa, num julgamento, que a exemplo do que ocorreu
contra o Paysandu, foi adiado várias vezes até o desfecho da competição.
Representando pelo advogado Walderedo Nunes, o Alvinegro entrou com uma ação
solicitando a suspensão do confronto entre Paysandu x Americano, quatro dias
depois o triste espetáculo da Curuzu, dia 9 de maio de 1991. Mas, César Palhares
(assim com Luís Szeiviter, em 2001) negou o pedido do ABC estabelecendo um prazo
de 48 horas para o Paysandu se defender. Se isso ocorreu ou não, a história não
registra, mas a CBF liberou as realizaçõesdas partidas dos paraenses com o
Americano.
O novo
julgamento foi remarcado para o dia 16 de maio, ou seja dois dias após a
semifinal, com Paysandu classificado para final contra o Guarani. Porém, mas uma
vez a turma do tribunal especial resolveu adiar a análise do mérito da questão,
que passou para o dia 18, depois para o dia 21 de maio, 28, até que, mais tarde,
o protesto acabou arquivado.
A turma do
Tribunal Especial da CBF encarregada em apreciar o caso tinha a seguinte
formação: César Roberto Pinto (presidente), Antônio Carlos Coelho (representante
do Sindicato dos Atletas) Alcides Nunes (economista) e mais Mário Alberto Pucheu
e José Albuquerque Sampaio.
No ano em
que a moralidade no futebol brasileiro mais uma vez foi obrigada a sair pela
portados fundos, o ABC que vinha de uma jornada invicta na competição, viu a
chance de disputar a semifinal da segundona, ir embora, justamente, numa partida
em que poderia perder até por um gol de diferença. Já que possuía a vantagem de
dois resultados iguais pelo fato de possuir melhor campanha que os paraenses.
O Alvinegro, que
vencerá a partida de Natal com gol de Silvinho, chegou a largar na frente, mas
permitiu que os donos da casa virassem o placar. Serapião deu uma mão ao Papão
anulando um gol licito de Rildon. O Paysandu conseguiu o gol da classificação
aos 43 minutos do segundo tempo (3 a 1), uma vez que necessitava de dois gols de
diferença.
"Ele continuará
cometendo suas barbaridades e prejudicando o trabalho honesto". Givanildo
Técnico do ABC, em 1991
"Ninguém pode fazer mais nada,
só temos a lamentar que fatos desses ocorram dentro do futebol".
José Wilson atual Diretor Jurídico
do ABC
"Esta é outra prova do
desrespeito que eles têm com o nosso futebol. Por isso estamos nessa situação".
Judas Tadeu atual
Presidente do ABC.
"Alguém deveria ter tirado o
time de campo e levar a decisão para o tapetão. Faltou comando".
Leonardo Arruda Ex-presidente do
ABC.
Fonte: www.abcnatal.com.br -
Link da noticia:
http://www.abcnatal.com.br/REPORTAGEM/REPORTAGEM_HTM/reportagem_049.htm
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