verdadeira na súmula. “Mas fui coagido pelo Armando a adulterar o
relatório. Ele me obrigou a dizer que eu encerrei o jogo e dei dois
minutos de acréscimo em vez de três. Depois, na CBF, negou tudo e
ameaça acabar com a minha carreira”, denuncia o árbitro, que admite
também ter pisado na bola ao sucumbir à pressão. Os dois levaram
suspensão preventiva de 30 dias e aguardam julgamento.
ISTOÉ
– Explique essa história de que o Armando Marques o coagiu.
Alfredo dos Santos Loebeling –
Eu aceitei a pressão e menti para salvar minha carreira. Sabia que
era uma coisa errada, mas fiz porque fui ameaçado. Não tenho
vergonha de admitir que fiquei com medo de acabar com minha
carreira.
ISTOÉ
– Como foi?
Loebeling –
O Figueirense vencia o Caxias por 1 a 0. Cerca de 20 mil torcedores
lotavam o estádio. Aos 43 minutos do segundo tempo, fiz com os dedos
o sinal de três minutos de acréscimo para o juiz reserva. O jogo
deveria ir até os 48 minutos, mas, exatamente aos 46 minutos e dez
segundos, a bola saiu pela lateral no campo de defesa do
Figueirense. Apontei o braço em direção ao campo de ataque do time
da casa, porque a bola tocou num jogador do Caxias antes de sair.
Neste momento, a torcida do Figueirense que estava no lado oposto ao
que ocorreu o lance invadiu o campo. Eles queriam comemorar. Uma das
hipóteses é a de que tenham invadido por confundir o gesto que fiz
com o braço com o sinal em direção ao meio de campo que encerra as
partidas.
ISTOÉ
– E depois?
Loebeling –
O policiamento nos levou para o vestiário. Antes da descida, o
capitão do time do Caxias disse: “O jogo não acabou.” Respondi: “É
verdade. Vá para o vestiário e aguarde. A gente vai voltar.” Disse o
mesmo para os repórteres. Essas declarações foram repetidas dezenas
de vezes na tevê. Não houve pressão do Figueirense para que eu desse
a partida como encerrada. Logo depois, um dirigente do Figueirense
disse: “A torcida levou o uniforme dos jogadores, os uniformes
reservas, as bandeiras de escanteio, as redes, a bola do jogo e a
até a roupa dos atletas do Caxias.” Decidi que não haveria
continuidade do jogo.
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Polêmica pois
fim de forma precoce à carreira de um dos melhores
árbitros do futebol brasileiro |
ISTOÉ
– O Sr. encerrou ou suspendeu a partida?
Loebeling –
A função do árbitro é relatar os fatos na súmula e deixar a decisão
para os tribunais. No rascunho da súmula, eu, os dois bandeirinhas e
os dois juízes reservas explicamos em detalhes por que não ordenamos
a volta dos times para a disputa daquele 1m50s que faltava. No dia
24 de dezembro, fui à casa do professor Gustavo Caetano Rogério, da
escola de árbitros da Federação Paulista. Ele leu a súmula e
melhorou o texto, sem alterar o conteúdo. Na quarta-feira 26, por
volta de 13h30, o telefone tocou. Era o Armando querendo falar
comigo. Ele pediu para que eu lesse o que escrevi.
ISTOÉ
– O que ele disse após ouvir o relatório?
Loebeling –
Ele falou: “Mas para que isso? Você vai arrumar a maior confusão! Se
invadiram para comemorar não é problema seu, se levaram os
uniformes, também não é problema seu, se o policiamento não
apareceu, você relata sem dar muita importância. Mude tudo isso.
Anote aí o que você vai escrever.” E começou a ditar: “Após a bola
ter saído pela lateral e eu sinalizar o final do jogo, apontando o
meio de campo, ocorreu a invasão da torcida do Figueirense para as
comemorações. Não houve feridos, ponto final.” O relatório tinha
duas páginas e ele queria apenas essas três linhas.
ISTOÉ
– E o Sr. não reagiu?
Loebeling –
Eu disse: “Armando, não dá. Falei para todo mundo que o jogo não
tinha acabado. Vai dar confusão.” Aí ele berrou, p. da vida: “Você
fala demais. Eu não agüento isso. Confusão vai dar se você não fizer
o que estou mandando. Quem escala os árbitros sou eu. Coloquei você
na Fifa, posso tirá-lo. Outra coisa: você não deu três minutos de
acréscimo. O juiz reserva errou. Você vai avisá-los e dizer que deu
dois minutos e o reserva enxergou três. Estamos combinados? Essa é a
nova verdade.” Depois, ele bateu o telefone na minha cara.
ISTOÉ
– E aí?
Loebeling –
Enviei o relatório adulterado para a CBF. Liguei para os reservas e
auxiliares e contei tudo. Todos ficaram revoltados, mas acabaram
engolindo. A rigor, o que o Armando ditou é um absurdo. As cenas do
jogo provam que não encerrei a partida. É como chegar em casa com
marca de batom e dizer que foi visitar a mãe. A imprensa caiu
matando. Liguei para o Armando e ele respondeu: “Você é cagão e não
agüento árbitro cagão.”
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Loebeling que é
palmeirense declarado em ação durante um clássico
Corinthians e Palmeiras |
ISTOÉ
– O que o Sr. fez?
Loebeling –
Fui ao Rio conversar com o presidente do Superior Tribunal de
Justiça Desportiva. Entreguei essa história por escrito. Ele deu
suspensão preventiva de 30 dias para o Armando, para mim e para os
que participaram do jogo. Além disso, instaurou um processo para
decidir se alguém será indiciado e julgado.
ISTOÉ
– Administrar uma partida não é tarefa fácil. Conte quais são os
jogadores difíceis.
Loebeling –
Uma vez falei para o Edílson: “Você simula tanto que, no dia que
sofrer um pênalti, pode ser que eu não marque.” O Kaká faz muita
falta, alguém precisa conversar com ele. O Evair reclama demais. Mas
tem muito jogador que ajuda a arbitragem, como Marcelo Djan,
Ricardinho, Robert, Marcos, Leandro Ávila, Leonardo e os goleiros
Helton, do Vasco, e Vágner, do Botafogo.
ISTOÉ
– E o Romário?
Loebeling –
Esse nem fala em campo. Com os árbitros, é gente finíssima. Já para
o Felipão, eu não sei...
Fonte:
ISTOÉ
- N° Edição: 1694 | 20.Março de 2002
Apitonacional, compromisso só com a verdade! |