Eduardo José Farah. O homem que acreditou que seu poder seria eterno
Farah adorava a mídia. Queria se tornar um dirigente internacional, como grande prestígio. Adorava chamar atenção para a FPF e para seu pensamento 'moderno'.
- Criei a parada técnica, o spray que os árbitros usam, as várias bolas para o jogo não parar. Parada técnica, limite de faltas, lateral com os pés. E também as cheerleaders, as meninas que dançam nos intervalos das partidas. A Federação Paulista deu sua contribuição para a modernização do futebol mundial.
Ficasse nisso, tudo bem. Mas foi Farah que instituiu o controle econômico dos clubes. Ele controlava a todos antecipando as verbas de transmissão da televisão. Muitas vezes ele emprestava o dinheiro de um ou até dois anos adiantados. Com isso, tratava a todos com rédeas curtas e pouco milho. Era o Imperador do futebol paulista. E não abria mão disso. Adorava a sua popularidade.
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Criativo, quando quis o amor dos corintianos, criou o disque Marcelinho. A rica FPF foi repatriar o jogador da Espanha. E entre quatro números de telefones, os torcedores deveriam escolher o destino do jogador. Foi uma promoção destinada ao Corinthians, todos sabiam. E Farah devolveu o jogador ao Parque São Jorge. O presidente da FPF quase foi canonizado.
Mas a ambição cegou Farah. Ele queria um cargo maior do que o da presidência da FPF. Se aproximou de Ricardo Teixeira nos primeiros dias de poder. Tinha a certeza que ganharia a confiança do genro de João Havelange. Só que não contava com a concorrência dura e forte. Dois homens acostumados com os bastidores do poder se juntaram para anulá-lo. E conseguiram. Eurico Miranda e Eduardo Viana se aliaram a Teixeira e exigiram que virasse as costas a Farah.
No auge do poder, ao lado de Ricardo Teixeira e da sua esposa dona Josefina. |
Desesperado, o dirigente paulista tentou fazer um pacto com o presidente da CBF. São Paulo sempre estaria com ele se o ajudasse a assumir a Confederação Sul-Americana de Futebol. Teixeira foi obrigado a escancarar o pacto entre Brasil e Argentina. Nicolás Leóz está desde 1986 comandando a entidade por ser paraguaio. Brasileiros e argentinos se comprometeram a sempre manter na Sul-Americana alguém que não tenha nascido em nenhum dos países. Assim garantem teoricamente um equilíbrio de forças.
Farah tentou que Teixeira o ajudasse a ter um forte cargo na FIFA. Mas o presidente da CBF estava muito ligado a Eurico Miranda e Caixa d'Água. Desprezou o pedido de Farah. Enquanto olhava para fora do país, o dirigente se descuidou. Perdeu toda a força na sua Federação. Ao mesmo tempo se tornou alvo de uma terrível investigação da Receita Federal. As denúncias eram estampadas nas primeiras páginas dos jornais. E revistas de circulação nacional.
Ele tentou fazer seu sucessor José Reinaldo Carneiro Bastos. Mas não conseguiu. Marco Polo del Nero, seu advogado por 18 anos, foi mais ágil na transição. Ele o ajudou demais com a Receita Federal. E Farah tinha a convicção que continuaria com os privilégios de presidente. Como relembra o comentarista Flávio Prado.
- Como Farah ainda tinha voz forte, Del Nero prometeu-lhe tudo. Até a permanência na mesma sala, motorista, salário régio etc. Aos poucos foi cortando tudo. Até que Farah sumiu.
De repente, o homem todo poderoso se viu esquecido. E completamente sem saída. Era 2003. As portas da CBF já estavam fechadas a ele há muito tempo. As da FPF se mostraram ainda mais trancadas. Rancorosos com sua maneira ditatorial de comandar, os dirigentes dos clubes também não quiseram saber dele. Jornalistas só queriam falar da sua riqueza, dos problemas com a Receita Federal.
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Velhos amigos de Farah revelam que ele foi perdendo sua característica mais forte: a vaidade. Abandonou os ternos italianos. Parou de pintar o cabelo, o bigode, as sobrancelhas. Se isolou de tudo e de todos. Envelheceu de repente. Sem o poder, perdeu o viço, a alegria de viver.
Doente, faz hemodiálise três vezes por semana. Quer distância da imprensa. Ser esquecido. E esquecer que, por 15 anos, foi o homem mais poderoso do futebol paulista.
A história de Eduardo José Farah vem a calhar. Um dia pareceu que Farah nunca sairia da FPF.
- A gente se acostuma com o poder. É bajulação de todos os lados. E, depois, quando perdemos o cargo, tudo muda. Ninguém nos abre a porta dos carros, carrega as nossas malas, nos dá as melhores mesas nos restaurantes.
E a
verdade é uma só. Depois de ser rei,
ninguém quer voltar a ser plebeu."
Sábias palavras de Alberto Dualib. Elas
se aplicam bem demais ao destronado
Eduardo José Farah. Dois homens
acostumados com os bastidores do poder
se juntaram para anulá-lo.
Fonte: Blog do Cosme Rímoli - R7.com