24/09/2005 - 04h15 -
Foram dois anos de estatutos, negociações, projetos de loterias, emendas
constitucionais e até do tão sonhado Campeonato Brasileiro por ponto corridos.
Tudo colocado em xeque por mais um escândalo no futebol nacional.
O árbitro Edilson Pereira de
Carvalho é um dos envolvidos no escândalo de propina
Justamente durante a mais bem-sucedida edição do Brasileiro
por pontos corridos - e que antecede o cobiçado torneio com apenas 20 clubes na
Série A -, a denúncia publicada pela revista "Veja" sobre a manipulação de
resultados no Campeonato Brasileiro ofusca alguns avanços obtidos após o
pentacampeonato, em 2002.
Junto do novo escândalo, emergem os episódios que o antecederam e que, em sua
maioria, também tiveram o apito como protagonista - segundo a "Veja", os
árbitros Edilson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon recebiam propina para,
durante os jogos, agirem para fraudar os resultados.
O escândalo atual é o quarto na arbitragem nacional em dez anos. A largada foi
dada pelo ex-árbitro Wilson Roberto Catani, flagrado em 1995 numa conversa
telefônica na qual admitiu ter recebido R$ 18 mil para colaborar com uma fraude
que ajudasse o Botafogo-SP e subir para a Séri A-1 paulista naquele ano.
Entre os contatos de Catani, estavam pessoas ligadas a clubes como Palmeiras,
Corinthians e Ponte Preta. O Ministério Público determinou à polícia a abertura
de um inquérito, mas o então presidente do Botafogo, Laerte Alves, foi
inocentado. Catani morreu.
O escândalo seguinte reuniu personagens bem mais famosos. Entre eles, Alberto
Dualib, presidente do Corinthians, e Mário Celso Petraglia, então presidente do
Atlético-PR e ainda hoje homem-forte do clube.
Em 1997, Ivens Mendes, que comandava a Conaf (Comissão Nacional de Arbitragem de
Futebol), foi apanhado em gravações pedindo dinheiro a Dualib e Petraglia. O
vazamento provocou o afastamento de Mendes e a suspensão dos dirigentes, que
acabaram por retornar aos respectivos cargos.
O sucessor de Mendes protagonizou o último escândalo. Armando Marques, ainda
hoje no cargo, teria induzido o ex-árbitro Alfredo Loebeling a mentir no
relatório da partida entre Figueirense 1 x 0 Caxias, na última rodada do
quadrangular final da Série B de 2001.
Na ocasião, a torcida do time catarinense invadiu o campo faltando dois minutos
para o término do confronto. Na súmula da partida, o árbitro escreveu, segundo
ele pressionado por Marques, que o tempo regulamentar já havia acabado na hora
da confusão.
Loebeling confessou sua atitude para o STJD. Luiz Zveiter, presidente do órgão,
decidiu afastar os dois do futebol por 30 dias. O julgamento, que ocorreu apenas
em 2002, absolveu Marques e suspendeu Loebeling, que nunca mais voltou a apitar.
Foi em meio a esse último processo que Ricardo Teixeira reassumiu seu cargo na
CBF. Sob a alegação oficial de cuidados com a saúde, o cartola se licenciou da
presidência da entidade em 31 de agosto de 2001, num momento no qual era
bombardeado pelas investigações promovidas pelo Congresso Nacional em duas CPIs
(Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigaram o futebol nacional e suas
relações.
Teixeira voltou a recuperar sua força política em 2002, com a conquista do
Mundial da Ásia. Com a nova chance "dada" pelos jogadores, tratou de pôr em
prática propostas que ele mesmo refutava.
Se a "bancada da bola" seguiu -e segue - ativa em Brasília (DF) a fim atender
aos interesses dos dirigentes dos clubes e federações, no campo técnico a CBF
não promoveu mais nenhuma "virada de mesa" no principal torneio nacional,
manobra comum na segunda metade da década de 1990.
O afã pela "moralização" desembocou no Nacional em turno e returno por pontos
corridos, prática vigente na Argentina e nas ligas européias, mas até então
desprezada nas disputas brasileiras.
A previsão é que o próximo passo seja a adequação do calendário brasileiro ao
europeu, com a temporada começando em agosto e indo até maio. Mas uma possível
paralisação do Brasileiro-05 e protestos de clubes prejudicados pelo atual
escândalo podem recolocar o Nacional no lamaçal.
Fonte: Uol Esportes
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