No final de 2013, o ex-Árbitro Inglês Mark Halsey
(foto) deu uma entrevista ao site português "O jogo" onde falou como
é a profissionalização na terra da rainha e deu um recado aos
portugueses que tinham acabado de aprovar a profissionalização da
arbitragem: "Se acham que os erros vão acabar, estão enganados".
Halsey revelou que os árbitros ingleses recebem
cerca de €100 mil euros ano, acrescentado de €540 por cada jogo que
atue e um bônus por performance no final da temporada. Disse também
que existe uma clausula de confidencialidade onde o árbitro decide
se aceita ou não, mas caso o árbitro não aceite, perde cerca de €60
mil euros que é descontado do seu salário.
Mark Halsey atuou na liga inglesa de 1999 a 2013.
Ele fez parte do grupo de elite (profissionais) desde sua
criação em 2001 quando os árbitros da Inglaterra se tornaram
profissionais até o final da temporada passada quando pendurou
o apito aos 52 anos idade.
Leia
abaixo a entrevista concedida
Sérgio Krithinas.
Como era a sua vida diária como profissional?
Treinava, via vídeos de jogos, ia ao estádio. Como vivo em
Bolton, treinava com o Bolton Wanderers e ia ao centro de
treinamentos deles todos os dias. Era bom para ver como eles
trabalhavam, como viviam, como se alimentavam... Era acompanhado por
um nutricionista, o que era muito importante.
Teve de mudar de cidade para ser árbitro profissional?
Não, já vivia em Bolton. Mas também não importa onde moramos,
porque apenas nos reunimos a cada duas semanas. No resto do tempo,
treinamos nos clubes. Eu treinava com o Bolton porque ao morar na
cidade estava automaticamente excluído dos jogos desse clube. Isso
ajuda-nos a ter boas relações com os jogadores, treinadores e
conseguimos perceber como eles treinam e como eles pensam, algo que
achei muito benéfico.
Fazia o mesmo treino que os jogadores?
Fazia uns treinos físicos, outras vezes apitava as
peladinhas. E isso era muito bom, porque o jogador profissionais
quando esta numa peladinha comporta-se exatamente como nos jogos:
contestam todas as decisões dos árbitros.
Sentiu que se tornou um árbitro melhor quando passou a ser
um profissional?
Sim, bastante. Tornamo-nos atletas profissionais, bem
preparados, somos como os jogadores. Depois, também viajamos como as
equipes: não temos que trabalhar na véspera do jogo e seguir durante
a noite. Fazemos um treino ligeiro na sexta de manhã (a maior parte
dos jogos na Inglaterra são aos sábados) e podemos dirigir ou nos
deslocar de avião com calma. Mas atenção: o profissionalismo não faz
com que os árbitros deixem de cometer erros. Se em Portugal acham
que os erros vão acabar, estão enganados.
Considera positiva a passagem dos árbitros para
profissionais em Portugal?
Em países como Portugal ou Espanha o trabalho dos árbitros
será sempre mais difícil do que na Inglaterra. A mentalidade aqui é
diferente. Qual será o salário de um árbitro profissional em
Portugal? Cerca de € 2.500 por mês. Não é muito.
|
|
O salário mínimo em Portugal é de € 485
Na Inglaterra os árbitros recebem €100 mil anuais de base,
mais 540 euros por cada jogo e um bônus por performance no final da
temporada. É bem pago e a maior parte dos árbitros está lá pelo
dinheiro. Se encontrassem um emprego que lhes desse tanto dinheiro,
deixariam a arbitragem.
Vocês também têm uma cláusula de confidencialidade, certo?
Sim, mas eu não a assinei e eles tiraram-me € 60 mil. Foi o
preço da minha saída.
|
O ex-árbitro
Mike Riley é o atual chefe dos árbitros ingleses |
Acha que os árbitros estão demasiadamente expostos às
críticas e insultos dos torcedores?
Sim, estão. É muito importante que o dirigente do apito
esteja lá para apoiar e proteger os árbitros. Na Inglaterra, isso
não acontece. O Mike Riley (chefe dos árbitros ingleses) não tem a
mínima idéia de como falar com jogadores. Ele tem de falar com os
árbitros. Eu falei com ele umas cinco vezes em três anos. Nem quando
eu regressei falou comigo. O importante é ter um bom 'treinador' de
árbitros, um homem que seja bom a gerir o grupo de árbitros, que
consiga falar olhos nos olhos, que os saiba abraçar ou puxar-lhes as
orelhas quando for preciso. Funciona como com os jogadores: há
alguns que precisam mais de abraços, outros que precisam mais de
puxões de orelhas. É tudo sobre motivação e o treino certo para os
árbitros.
Fonte: O Jogo