02/10/2014    07:40hs

Quem são os caras que comandam a arbitragem no Brasil e na FIFA?

Quais orientações eles passam para os subalternos e o que fazem para melhorar o nível das arbitragens nas partidas

O brasileiro que acompanha futebol europeu certamente já ouviu falar de Massimo Busacca. O árbitro apareceu em final de Champions League e Copa da Uefa, Eurocopa, Copa das Confederações e Copa do Mundo. Mas, de repente, o suíço entrou no noticiário do Brasileirão. Era a ele que a imprensa brasileira se dirigiu quando quis um posicionamento da Fifa sobre a epidemia de pênaltis que se alastrou pela Série A nacional. E Busacca respondeu, contrariando tudo o que a CBF vinha dizendo sobre os critérios de bola na mão.

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O relato do suíço tem força. Afinal, trata-se de um ex-árbitro de respeito, e chefe do departamento de arbitragem da Fifa. Uma posição que foi dada a ele justamente porque a entidade precisava da imagem de um especialista na área. Uma medida necessária considerando o histórico de uso político do comitê de arbitragem e até acusações de certas seleções (como o Brasil) seriam favorecidas em competições internacionais devido ao comando dessa área dentro da entidade.

Busacca não está sozinho. Outros comandantes de comissões de arbitragem pelo mundo são ex-apitadores, ainda que muitos deles sem o mesmo destaque profissional que o suíço tinha. É o caso de Sérgio Correa na CBF e Carlos Alarcón na Conmebol. Ao menos na teoria, sabem muito bem o que se passa dentro de campo. Quais orientações passar para os subalternos e o que fazer para melhorar o nível das partidas. Contudo, o que se tem visto nos últimos tempos é um desencontro de informações. Enquanto os árbitros precisam de uma preparação melhor e de auxílio tecnológico, são atrapalhados por problemas de comunicação banais. E isso porque eles sequer têm o poder de mudar as Regras do Jogo, algo historicamente limitado ao clubinho da International Board.

Quem controla as regras

O futebol como esporte formal surge a partir de sua regulamentação, em 1863. As reuniões dos membros de 12 times ingleses na Taberna Freemasons’, em Londres, foram fundamentais não só para criar a Football Association, como também para uniformizar as 17 determinações que ficaram conhecidas como Regras do Jogo. A partir delas, os clubes do país tinham um padrão para seguir e poderiam disputar jogos sem maiores divergências.

A expansão do futebol, no entanto, fez com que o acordo da FA não fosse suficiente para os duelos internacionais. Escoceses, galeses e irlandeses tinham suas próprias adaptações às regras, influenciados também por outras vertentes – como a de Sheffield, a mais conhecida delas, criada em 1857. A partir do surgimento do British Home Championship, em 1883, os dirigentes das nações britânicas se reuniram para unificar o jogo e tornar viável o torneio entre seleções. Já em 1886, com um membro de cada uma das quatro federações, a International Football Association Board foi formalizada para cuidar apenas das regras do futebol.

A Fifa foi fundada apenas em 1904 e, nove anos depois, admitida na International Board. Desde 1958, o sistema de votação nos encontros anuais da entidade foi uniformizado. Cada uma das quatro federações britânicas (a essa altura, contando a Irlanda do Norte, pois a Irlanda saiu do Reino Unido em 1922) possui um voto, enquanto a Fifa conta com quatro. Para se alterar uma regra, são necessárias seis posições favoráveis.

Em compensação, a Fifa também conta com outros mecanismos para controlar a arbitragem. O Comitê de Arbitragem é a ligação direta com a International Board, com a responsabilidade de implementar e interpretar as regras, além de propor as modificações. O organismo também deve nomear árbitros e auxiliares para os torneios oficiais da Fifa. Já o Departamento de Arbitragem é o encarregado de instruir os homens do apito – e é ele quem está envolvido nas últimas polêmicas sobre as decisões dos brasileiros quanto aos toques de mão.

No Brasil, o órgão máximo é a Comissão Nacional de Árbitros de Futebol, a Conaf, ligada à CBF e presidida por Sérgio Correa. A principal representante da classe é a Associação Nacional dos Árbitros de Futebol. Já nos estados, as responsabilidades administrativas ficam divididas entre as Comissões Estaduais de Arbitragem de Futebol.

Mais política do que méritos

A questão maior sobre o comando da arbitragem é a restrição ao qual ele está submetido. Embora sejam cargos que necessitam de conhecimento técnico sobre o assunto, quase sempre eles são usados para satisfazer as alianças políticas. Um quadro que se manteve por muito tempo na Fifa, na Conmebol, na CBF e na maioria das entidades responsáveis por gerir o futebol. Nas duas últimas décadas, ao menos, o quadro tem se transformado.

Os exemplos de politicagem no comando da arbitragem são intermináveis. Abílio D’Almeida, ex-presidente da CBD e um dos parceiros políticos de João Havelange, esteve entre os principais responsáveis pelos árbitros na Fifa e, de 1986 a 2003, foi a autoridade máxima do assunto na Conmebol. Ricardo Teixeira e Ángel María Villar, presidentes de federações, controlaram o Comitê de Arbitragem da Fifa durante boa parte da última década. Já no Brasil, talvez o nome mais notável que foi alçado por pura conveniência é o de Ivens Mendes, aliado de Teixeira na sua primeira candidatura à presidência da CBF.

De qualquer maneira, por mais o número de ex-árbitros na chefia tenha aumentado, ainda é possível observar uma influência política nas escolhas. Por exemplo, três dos últimos quatro presidentes da Conaf tinham ligações com órgãos de segurança. O exemplo mais claro está na Federação Paulista de Futebol: comandante dos batalhões que faziam o policiamento dos estádios, o Coronel Marcos Marinho foi empossado para reestruturar a arbitragem no Estado em 2005. Apesar da inexperiência na função, o policial tem seus méritos na administração, algo que não se pode dizer de todos os seus pares.

Quem é quem no comando da arbitragem?

Um guia básico para conhecer os principais comandantes da arbitragem no futebol internacional e nacional atualmente. Além disso, também listamos os perfis dos últimos cinco presidentes da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, a Conaf.

Os principais comandantes da arbitragem internacional

Jim Boyce (Presidente do Comitê de Arbitragem da Fifa) – O atual vice-presidente da Fifa foi nomeado para o comitê de arbitragem em 2013, substituindo Ángel María Villar. Ex-jogador de críquete, Boyce ascendeu como dirigente à frente do Cliftonville, comandando posteriormente a Federação Norte-Irlandesa de Futebol. O norte-irlandês é um dos principais entusiastas da introdução da tecnologia nas competições da Fifa, posição oposta à de Villar.

Massimo Busacca (Chefe do Departamento de Arbitragem da Fifa) – O árbitro suíço trabalhou em duas Copas antes de se aposentar em 2011. Em julho do mesmo ano, foi nomeado pela Fifa. Reconhecido pelo bom trabalho no apito e por falar cinco linhas diferentes, assumiu a entidade prometendo aprimorar a preparação dos árbitros e as diretrizes nas decisões. Foi antecedido por José María García-Aranda, também ex-árbitro.

Ángel María Villar (Presidente do Comitê de Arbitragem da Uefa) – Ex-jogador do Athletic Bilbao, foi fundador da Associação de Futebolistas Espanhóis e, depois de ascender na federação basca, assumiu a Real Federação Espanhola de Futebol em 1988. Por influência política, chefiou o Comitê de Arbitragem da Fifa a partir da década de 2003, tendo Ricardo Teixeira como vice. Foi substituído por Boyce no cargo. Está à frente dos árbitros da Uefa desde 2011, assessorado por Pierluigi Collina, Marca Batta e Hugh Dallas.

 

Carlos Alarcón Ríos (Presidente da Comissão de Arbitragem da Conmebol) – O ex-árbitro paraguaio passou a participar da Comissão de Arbitragem da Fifa na década de 1990, sendo observador na função em quatro Copas do Mundo. Está no cargo máximo da Conmebol desde 2003, após a morte de Abílio D’Almeida, ex-presidente da CBD. Desde então, se manteve como aliado de Nicolas Leoz, embora não goze do mesmo prestígio depois que o paraguaio deixou a presidência da Conmebol.

Os últimos presidentes da Conaf

Ivens Mendes (1990-97) – Dirigente da Francana, exerceu o cargo durante a década de 1980 e foi resgatado por Ricardo Teixeira, após ajudá-lo na campanha rumo à presidência da CBF. Permaneceu no cargo por sete anos, após ser pivô de escândalo de manipulação de resultados em 1997. Candidato a deputado, Mendes foi flagrado ligando para dirigentes, oferecendo benefícios junto aos árbitros em troca de dinheiro.

Armando Marques (1997-2005) – O ex-árbitro carioca foi encarregado de comandar a limpeza da Conaf após o escândalo de Ivens Mendes. Sua gestão foi marcada por diversas polêmicas, especialmente diante da maior interferência do STJD nos resultados dentro de campo nas competições nacionais. Deixou o cargo após a anulação das partidas do Brasileiro de 2005, acusado de omissão.

Edson Rezende (2006-08) – O substituto de Armando Marques era ex-árbitro e delegado aposentado da Polícia Federal. Conduziu uma série de reformas em cargos e normas da Conaf, introduzindo controles maiores sobre a preparação e o treinamento dos árbitros. Deixou a presidência da comissão por questões de saúde.

Sergio Corrêa (2008-12 e 2014) – Ex-oficial da aeronáutica, foi árbitro do quadro da CBF na década de 1990. Também presidiu do Sindicato dos Árbitros do Estado de São Paulo e dirigiu a Escola de Árbitros da Federação Paulista, além de ser um dos fundadores da Anaf. Durante a gestão de Edson Rezende, participou da alta cúpula da Conaf, assumindo a direção da entidade na seqüência. Permaneceu no cargo até 2012, quando foi demitido por José Maria Marin, após uma série de erros no Brasileirão – a gota d’água foi o impedimento triplo no clássico entre Santos e Corinthians. Voltou à presidência em maio deste ano.

Aristeu Leonardo Tavares (2012-13) – Tenente-coronel da Polícia Militar, chegou a ser um dos principais assistentes do futebol brasileiro, participando da Copa de 2006. Foi nomeado corregedor da arbitragem da CBF quatro meses antes de ser promovido por José Maria Marin após a demissão de Sergio Correa. Renunciou ao cargo seis meses depois.

Antônio Pereira da Silva (2013-14) – O goiano foi árbitro do quadro da Fifa e, a partir de 2006, se tornou instrutor de arbitragem da federação internacional. Também foi vice-presidente da Anaf antes de ser alçado à presidência da Conaf, em abril de 2013. Deixou o posto um ano depois, sem satisfazer a CBF, remanejado ao comando da Escola Nacional de Arbitragem.

Comissões Estaduais de Arbitragem de Futebol

Coronel Marcos Cabral Marinho – Presidente da CEAF paulista – Oficial da reserva da Polícia Militar, comandou o Segundo Batalhão de Choque da PM/SP, responsável pela segurança nos estádios paulistas em dias de grandes jogos. Deixou o posto e 2005, quando foi convidado por Marco Polo Del Nero para assumir a comissão. Embora Marinho não tivesse experiência com arbitragem, o dirigente queria alguém sem vínculos para o cargo após o escândalo do Brasileiro de 2005, encabeçado por Edílson Pereira de Carvalho. Para tanto, o coronel foi encarregado de conduzir um trabalho reestruturação e recuperação da credibilidade.

Jorge Fernando Rabello – Presidente da COAF carioca – Foi árbitro entre as décadas de 1990 e 2000. Chegou a ingressar nos quadros da Fifa, embora tenha sido acusado de falsificar seus registros para reduzir a idade e permanecer por mais tempo na entidade. Apesar disso, seguiu no apito e assumiu a presidência da COAF pouco depois de se aposentar, em 2007.

Luiz Fernando Gomes Moreira – Presidente da CEAF gaúcha – Dirigente do São José, de Porto Alegre, foi nomeado para a comissão de arbitragem em 2004, por Francisco Noveletto. Nas últimas semanas, a delegacia de Caxias do Sul da entidade foi acusada de cobrar taxas para escalar os árbitros, algo negado pela federação gaúcha.

José Eugenio – Presidente da CEAF mineira – Assistente durante as décadas de 1980 e 1990, é o árbitro com mais presenças na história do clássico entre Atlético e Cruzeiro. Passou a ser instrutor técnico da federação mineira antes de assumir o cargo, em 2005.

Wilson Paim – Presidente da CEAF baiana – Foi árbitro do quadro nacional durante as décadas de 1970 e 1980. Antes de chegar ao cargo na federação, também presidiu o Sindicado Baiano de Árbitros de Futebol.

Afonso Vitor de Oliveira – Presidente da CEAF paranaense – Tornou-se árbitro do quadro estadual nos anos 1970 e chegou a apitar 26 vezes o Atletiba. Assumiu o comando da Associação dos Árbitros de Futebol do Paraná e chegou a conciliar o posto com a presidência da comissão de arbitragem.

Salmo Valentim – Presidente da CEAF pernambucana – Advogado e economista, foi árbitro profissional antes de entrar para a comissão estadual de arbitragem. Deixou o cargo na entidade em 2013, mas voltou a ser nomeado presidente na última semana. Também é tesoureiro da Anaf.

Fonte: Trivela

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