13/01/2012   

Silêncio em troca da ascensão na arbitragem paulista 

Jornal Marca escancara “esquemas” de Arthur Alves Junior, o verdadeiro chefe da arbitragem paulista

  Na esteira das acusações de Gutemberg de Paula Fonseca, árbitros de São Paulo ganharam coragem para questionar a forma como os chefes da Federação Paulista de Futebol (FPF) tratam a escala.

De acordo com Davi Balsas e Jeimes Willie Catini, só chega ao primeiro escalão quem se submete a perder dinheiro e se arriscar em jogos de campeonatos amadores e de séries inferiores, cuja arbitragem também é comandada pelos que escalam para a Série A1 do Paulista.

O silêncio sobre os problemas é imperativo para a ascensão.

“Você mantém um sonho quando está arbitrando, evita falar publicamente, expor os problemas e as mazelas da entidade.

Arthur Alves Junior tem presença em quatro órgãos da arbitragem paulista

Até por orientação da Federação, um árbitro não pode falar”, explica Jeimes, 33 anos, de Araras.

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A declaração ajuda a entender as denúncias de Gutemberg.

Criticado por não ter falado quando pertencia ao quadro da FIFA, o ex-árbitro promete divulgar em breve as provas que diz estar apresentado sigilosamente à Justiça desde 2007.

“Os árbitros não querem se comprometer com os dirigentes. Todo mundo vive a expectativa de chegar ao topo da carreira. Por isso existe esse silêncio”, afirma Davi, 29 anos, na FPF desde 2006.

Dia 2 de outubro, ele foi escalado para jogo do campeonato amador de São Paulo, em Brodowsky (Brodowsky x Sem Segredo).

Alegando problemas financeiros, já que pagaria para trabalhar, pediu dispensa. Por conta de uma pancadaria generalizada o jogo, que acabou sendo apitado por Gustavo Turra, terminou no 1º tempo, de acordo com súmula no site da Federação.

Junto com a partida, terminou também a carreira de Davi.

Árbitros dizem que só crescem na arbitragem paulista se apitarem jogos de séries inferiores em que até perdem dinheiro.

Em novembro, ele saiu de Campinas para reunião na capital com Arthur Alves Junior, um dos diretores da arbitragem e braço direito do Coronel Marinho, chefe da comissão.

Em pauta, a razão de seu desligamento. “Fiz os cálculos e vi que o dinheiro que receberia (R$ 188) mal dava para pagar o deslocamento e a alimentação”, diz ele, que andaria, em um dia, 500 km, ida e volta — isso se economizasse na diária de um hotel. Só de gasolina e pedágio, saindo de Campinas, ele gastaria R$ 200.

No encontro, Davi recebeu uma recomendação de Arthur. “Ele disse: ‘Faça uma carta para o Coronel Marinho se humilhando. Vai dar tudo certo. Mas quero deixar claro que seu caso vai servir de exemplo para os demais. Quero você falando bem de mim depois”. Pensando em preservar anos de investimento e trabalho, fez o combinado. O retorno ao quadro, no entanto, nunca aconteceu e ele decidiu fazer a denúncia.

“Os responsáveis pela arbitragem ganham as licitações de campeonatos amadores e a gente tem que se virar para trabalhar. Mas aí você nega e eles te desligam do sistema. Te colocam na parede para servir de exemplo aos colegas. É assim que funciona”, finaliza. Jeimes concorda: “É um jogo, mas não dá para entender os critérios”.

CENTRALIZAÇÃO: Chefe do apito tem presença forte em quatro órgãos

“Em quem nós podemos confiar? Vamos reclamar para quem?”. A indagação de Davi está pautada na hierarquia das entidades que comandam a arbitragem paulista. Segundo os árbitros, as entidades são administradas pelas mesmas pessoas.

 

“O Arthur (Alves Junior) é responsável pela escala dos árbitros da FPF, é o presidente do Sindicato dos Árbitros (Safesp) e tesoureiro da Cooperativa dos Árbitros (Coafesp). Você fala de um lado, o outro escuta”, pondera Jeimes.

Sucessor de Sérgio Corrêa na presidência do Sindicato dos Árbitros, Arthur também ocupa a cadeira de Secretário Geral da Associação Nacional dos Árbitros (Anaf).

“Tem muita coisa errada. Desde a metodologia aplicada aos árbitros no ranking, até o acúmulo de cargos com motivação política de alguns diretores do apito”, pondera ex-árbitro Rafael Porcari, que há anos mantém um blog no qual debate sobre as irregularidades do meio.

OUTRO LADO: Dirigente nega conflito

A reportagem entrou em contato com Arthur Alves Júnior, principal alvo das acusações, que garantiu não existir conflito (ou convergência) de interesses no acúmulo de suas funções. “Não prejudico ninguém.

O Sindicato dos Árbitros existe porque a Federação dá um apoio. Se isso não acontecer, o sindicato já teria fechado. O dia que eu me sentir em uma posição conflitante, aí vou sair da comissão de arbitragem (da FPF)”, disse ele, que em seguida completou:

“Como presidente do Sindicato dos Árbitros, tenho conseguido fazer muito mais coisas dentro da comissão de arbitragem do que antes. O processo funciona com transparência”.

Na presidência do Sindicato dos Árbitros, Arthur é o sucessor de Sérgio Corrêa, atual chefe da comissão de arbitragem da CBF, e acusado de corrupção e favorecimento por Gutemberg de Paula Fonseca em declarações à rádio ‘Jovem Pan’ na semana passada.

Por DANIEL CARMONA - Do “MARCA”

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